Sobre a parcialidade de juízes e as ameaças à democracia
- Urge que o presidente do STF, Roberto Barroso, reflita sobre a decisão de manter sob Alexandre de Moraes o caso envolvendo o suposto plano para matar Lula, Alckmin e o próprio Moraes.
- Não se trata mais do :"perdeu mané". Trata-se de restaurar a confiança no judiciário em julgamentos com repercussão internacional.
- Manter o ministro como investigador e instrutor de uma futura ação penal contra os acusados compromete o STF como guardião da Constituição.
- Nem em momentos de crise esse protagonismo é conferido pela Constituição a ministro da Suprema Corte.
O Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski, vem abrindo mão do papel constitucional de tratar questões ligadas ao terrorismo e possíveis atentados à democracia. Essas ações devem ser de governo, através do próprio ministério, da Polícia Federal e da Procuradoria Geral da República.
É evidente que a resposta a atos terroristas deve ser contundente, mas nunca ao custo de comprometer princípios constitucionais.
O que se vê, entretanto, é uma Suprema Corte exorbitando de seu papel, quando passa como trator sobre a autonomia de outros poderes. Nem em momentos de crise esse protagonismo é conferido pela Constituição à Suprema Corte.
Surpreende que Ricardo Lewandowski, que vem exatamente do STF e tem com os ministros da Corte uma relação muito próxima, não tenha batido na mesa e colocado muito claro que o papel de investigar é da Polícia Federal, o de denunciar é da Procuradoria Geral da República, e que o Supremo deve ater-se como órgão julgador, independentemente do protagonismo de ministros que assumiram de forma voluntariosa e imprudente um papel que não cabe a eles.
Urge que o presidente do STF, Roberto Barroso, reflita sobre a decisão de manter sob Alexandre de Moraes o caso envolvendo o suposto plano para matar Lula, Alckmin e o próprio Moraes.
Não se trata mais do :"perdeu mané". Trata-se de restaurar a confiança no judiciário em julgamentos com repercussão internacional.
Ao confirmar Moraes no caso, Barroso indiretamente deixou evidente que o destino dos "manés" passa ao largo do devido processo legal, porque em mãos de um ministro claramente suspeito, vez que é citado como uma das supostas vítimas do plano de tentativa de assassinato.
A justificativa de conexão entre fatos passados e presentes alimenta uma interpretação que destoa das funções constitucionais do Supremo e adentra esferas penais, desafiando princípios que balizam o devido processo legal, como a imparcialidade.
A questão aqui é de isenção, que Moraes não tem por ser um dos supostos alvos da trama.
Manter o ministro como investigador e instrutor de uma futura ação penal contra os acusados compromete o STF como guardião da Constituição.
ASSUNTOS: Alexandre de Moraes, Geraldo Alckmin, golpe de estado, Luiz Roberto Barroso, Lula
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.