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Tarifa social da água: políticos são generosos com o dinheiro dos outros


Por Raimundo de Holanda

12/05/2024 20h11 — em
Bastidores da Política


  • Desconfie da bondade dos políticos. Ela tem um custo altíssimo para a sociedade e um benefício de curto prazo para eles próprios, que formam uma elite interessada em si mesma. Eles têm um poder imenso de perpetuar a pobreza.
  • Sob o pretexto de amenizar o sofrimento de uma parcela da população, criam mecanismos de distribuição de renda cujos beneficiários não são os pobres, mas eles e as grandes empresas. Vejam a aprovação da tarifa social da água e esgoto, uma proposta do senador amazonense Eduardo Braga.

De onde sairá o dinheiro para bancar esse ímpeto de bondade do senador?  Primeiro diretamente dos "demais usuários dos serviços de água". Em outras palavras, do seu bolso, leitor. 

Mas não fica apenas nesse detalhe, já escandaloso por si mesmo. Tem uma outra parte mais imoral no projeto que  vai à sanção do presidente Lula: a criação da "Conta de Universalização do Acesso à Água, gerida pelo governo federal e custeada com dotações orçamentárias". 

Isso significa que você leitor vai  pagar duas vezes para manter a tal "tarifa social". Primeiro com a majoração da conta de água para financiar supostamente quem não pode pagar. Segundo, quando o governo cria uma conta extra que será destinada às concessionarias para a "universalização do acesso a água".

São absurdos que passam despercebidos? Ou todos calam por cumplicidade ou falta de informação?

O fornecimento de água nas cidades brasileiras tem sido fonte de escândalos. Empresas privatizadas sobrevivem com apoio dos Estados. No caso de Manaus, os principais investimentos realizados na área de saneamento e distribuição têm a mão do Estado, e um dinheiro que é seu, leitor, que paga impostos e arca com uma tarifa altíssima.

Em nenhum momento os investimentos que o estado do Amazonas e o município de Manaus fizeram em saneamento, usinas de reciclagem de resíduos ou em construção de adutoras, como a da Zona Leste, resultaram em redução de tarifa.

Não basta dizer que zonas que sofriam com a falta de água tiveram o problema resolvido. É preciso explicar  se a concessão concedida à Águas de Manaus  é de fato uma concessão de natureza essencialmente privada, ou público-privada e qual o custo disso para a sociedade.

Alguém precisa abrir essa caixa de pandora com os pecados que unem os políticos, o Estado do Amazonas , a Águas de Manaus e o Município de Manaus.  Para isso é preciso não se acovardar, como fez a CPI da Câmara Municipal de Manaus aberta para esse fim, mas que capitulou no último momento...

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ASSUNTOS: Águas de Manaus, Eduardo Braga, Saneamento básico, Tarifa Social

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.