Tragédia no Peladão e a responsabilidade do Grupo Calderaro
Não há um garoto que não jogue futebol. As meninas também entraram na onda. É divertido, alegre. É o esporte da diversidade, onde ninguém é feio, bonito ou de cor. Se sabe driblar ou fechar o gol, é um bom rapaz, um bom amigo. A infância é um mundo mágico que se desfaz com a adolescência. Ainda assim, as peladas continuam sendo o passatempo preferido dos garotos. Eram, até entrar o Grupo Calderaro disposto a ganhar dinheiro, a confinar as meninas, a vender sonhos, se apropriando de uma competição sadia.O resultado está aí: campeonatos de peladas terminando em tragédia, execuções e desespero.
A culpa é da falta de polícia? Não. A culpa é da falta absoluta de critérios na seleção dos jogadores, alguns indicados pelo crime organizado, com jogos sendo realizados em áreas vermelhas.
São 300 times em Manaus, cerca de 30 jogos por semana e uma escandalosa desorganização. O Grupo que se apropriou das peladas pode alegar que não compete a ele a formação dos times, mas é de sua absoluta responsabilidade avaliar cada nome que ingressa nas equipes. Pode e deve levar em conta a ficha corrida dos jogadores, por exemplo. Há casos em que alguns jogam com tornozeleira eletrônica…
Mas mesmo nesse quadro de anormalidade, o Grupo poderia alegar que incentiva o esporte e isso é salutar. Mas usa recursos públicos. De 2019 para cá recebeu do governo do Estado apenas para realizar o Peladão cerca de R$ 10 milhões.
Na nota expedida depois da tragédia, o Grupo Calderaro procurou se dissociar do escândalo.
Transfere obrigações para o poder público “que tem, segundo a nota, “competência para investigar os fatos com o rigor necessário.
O Grupo Calderaro tem responsabilidade no evento e as consequências dele derivadas. Deve ser cobrado, inclusive com indenização das famílias das vítimas que foram a óbito ou feridas.
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ASSUNTOS: Facções Criminosas, Manaus, Peladão, Rede Calderaro
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.