A Venezuela pobre nas ruas de Manaus
- O número de pedintes em Manaus é majoritariamente de venezuelanos, mas isso não é motivo para desprezá-los.
- O governo brasileiro dá aos migrantes uma acolhida midiática. Na prática, tudo é provisório, menos a fome, a miséria e a persistente degradação humana..
Mais de 1,2 milhão de venezuelanos entraram legalmente no Brasil nos últimos dez anos. Quem tinha posses migrou para outros países, mas a maioria permanece em cidades brasileiras e um grande número em Boa Vista e Manaus. Fácil encontrá-los em situação degradante nos sinais e entradas de drogarias e supermercados. São pedintes que expõem crianças de até um ano a chuva e ao sol.
O governo brasileiro dá aos migrantes uma acolhida midiática - União, estados e municípios concentram representantes em Pacaraima, na fronteira entre os dois países, oferecendo assistência médica, alimentos e abrigos provisórios.
Na prática, tudo é provisório. A vida dessas pessoas - que fogem da fome e de perseguição política - se transforma em um inferno. Ninguém liga para elas depois da entrada e da "acolhida" no Brasil.
O número de pedintes em Manaus é majoritariamente de venezuelanos, especialmente mulheres e crianças, mas isso não é motivo para desprezá-los.
O governo do Estado e a Prefeitura de Manaus têm o dever de oferecer auxílio - especialmente às mães com crianças de colo que se espalham pelos cruzamentos da cidade em busca de solidariedade, que não encontram.
É hora das secretarias de assistência social do governo e da prefeitura de Manaus agirem. É hora dos burocratas saírem dos gabinetes ar refrigerados e irem para as ruas, registrando essas pessoas nos programas sociais e dando-lhes condições para sobreviver com um mínimo de dignidade em um país que tem apenas fama de acolhedor.
O que não dá mais para suportar é ver a cidade com um número crescente de pedintes e com a exposição de crianças a toda sorte de doenças.
ASSUNTOS: esmola, operação acolhida, pedintes em Manaus, venezuelonas
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.