Você admitiria que é racista?
Eu sei que muita gente vai sair do casulo para dizer o que não sente, condenar o racismo dos outros, sem olhar para a trave que carrega nos olhos. Gente que vai exigir leis cada vez mais severas para punir o comportamento de uma parte substantiva da sociedade que nunca foi branca, mas trata o negro como se fosse uma coisa, não um ser humano.
Todos os dias a mídia abre espaço para casos de racismo e novas leis são aprovadas pelo Parlamento, novas penalidade impostas. Mas o brasileiro é racista. É um sentimento que é estrutural e institucional, gerando exclusão e ódio, que leis não vão solucionar.
É comum ouvir de pessoas “bem informadas”, com boa educação, de que o Brasil é uma democracia racial. Uma hipocrisia. O País é racista e o problema só será resolvido através da educação, de programas que comecem nas escolas, na formação de crianças e adolescentes. Por uma razão simples: o passado do Brasil é negro, no mais amplo sentido do termo: ou não teriam chegado ao País sob correntes mais de um milhão de homens e mulheres capturados na África e tratados como animais nas lavouras, especialmente na cultura do café.
Pode parecer um absurdo para os que estão saindo revoltados do casulo da hipocrisia agora: mas todos são racistas. Isso precisa mudar e as leis contribuem muito pouco para a necessária transformação da sociedade. Apenas “forçam”um respeito que sempre será aparente, até as diferenças na pele explodirem num jogo de futebol, com torcida inflamada olhando a cor dos jogadores.
Infelizmente não existe nenhum programa, nenhuma matéria voltada para a inclusão, o respeito ás diferenças nas escolas.
Vamos continuar a formar adultos de olho na cor, pardos que acham que são brancos, negros que não querem ser negros, e os brancos hipócritas que continuarão dizendo que o Brasil é uma democracia racial.
Num País onde todos falam a mesma língua, comungam das mesmas crenças, tanto faz ser branco, pardo, índio ou negro. Mas o próprio governo, com suas politicas afirmativas, expõe diferenças e fragiliza a luta pela igualdade.
É preciso que todos sejam iguais perante a lei - como reza a Constituição do Brasil. Mas as coisas não funcionam assim.
O mau exemplo são as cotas raciais para ingresso em faculdades e no serviço público, que mais prejudicam do que ajudam negros e índios, cada vez mais colocados numa posição de fragilidade…
ASSUNTOS: brancos, negros, Racismo
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.