Faculdade de Cabral e Adriana Ancelmo cobra estudo amplo da Bíblia
CURITIBA — Formação integralmente ética. Esse é o pilar da proposta pedagógica das Faculdades Batista do Paraná (Fabapar), onde o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, a ex-primeira-dama Adriana Ancelmo e o ex-secretário de governo Wilson Carlos pretendem fazer bacharelado em Teologia pelos próximos quatro anos, com o propósito de obter remissão de pena. Futuros estudantes do curso à distância, já que estão presos pelo esquema de corrupção no governo do Rio, os três não devem encontrar vida fácil nos estudos. Ex-alunos da instituição dizem que a cobrança dos professores é alta e que o conteúdo das aulas, principalmente sobre a Bíblia, é aprofundado.
O curso oferecido pela Fabapar está na média do ensino de Teologia no país, segundo o último Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), do Ministério da Educação. A prova é aplicada a universitários no último ano. Em 2015, a faculdade tirou nota 3, dada às instituições que estão na média nacional.
Fundada nos anos 1940 por missionários americanos, a instituição ganhou o status de faculdade em 1974 e, desde então, formou mais de 1.500 alunos. Embora seja ligada à Igreja Batista, a escola recebe estudantes de várias religiões. Ainda assim, cerca de 30% deles procuraram o curso de Teologia para se tornarem pastores.
Atualmente, apenas dois presos fazem o curso à distância — um deles é o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. A irmã dele, Alessandra da Costa, presa em maio, foi aprovada no mesmo vestibular de Sérgio Cabral.
Segundo a instituição, o currículo do curso é o mesmo para os alunos que vão às aulas presencialmente e para quem faz a modalidade à distância. São 4.200 horas de estudo, com aulas em texto e vídeo. A prova pode ser feita na faculdade, se o presídio deixar. Caso a unidade prisional não permita acesso à internet nem encontro presencial, todo o conteúdo é transformado em texto, e a prova é enviada pelo correio. Antes de ser entregue ao aluno, deve ser analisada pela Secretaria de Administração Penitenciária. O mesmo controle acontece com eventuais dúvidas do detento, que deve enviar uma carta ao professor.
Ao longo dos quatro anos, o curso faz um mapeamento da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse. As disciplinas do primeiro semestre incluem português instrumental, didática, introdução bíblica e introdução ao conhecimento, além de aulas referentes à própria educação a distância.
Em nota, o diretor-geral da Fabapar, Jaziel Guerreiro Martins, diz que o objetivo do curso é que o aluno “desenvolva atitudes éticas, habilidades intelectuais (acessar, interpretar e saber lidar com diferentes informações e conhecimentos) e competências para ser, conviver e agir ética, religiosa e socialmente.” Ao final do curso, a faculdade espera que o aluno tenha se tornado um “teólogo crítico e reflexivo, capaz de compreender a dinâmica do fato religioso e social no Brasil que perpassa a vida humana em várias dimensões”.
— Não tem como estudar um livro de pressupostos morais e não falar de moralidade — opina o ex-aluno Juliano Augusto dos Passos, de 39 anos, que se formou no curso presencial em 2010, após abandonar Direito em São Paulo. — O objeto principal de estudo no curso é a Bíblia, e a Bíblia é moral.
O também ex-aluno Edemilson Vieira, de 43 anos, que hoje é pastor e conselheiro, acredita que estudar Teologia pode mudar princípios e valores dos alunos, desde que estejam dispostos:
— (O estudante vai ser) exposto a princípios e valores que geram transformação se ele deixar o coração aberto. Mas a decisão é dele.
O bancário aposentado Marcos Morgenstern, de 51 anos, fez, em 2012, uma pós-graduação a distância sobre o Novo Testamento. Quando entrou na faculdade, recebeu um e-mail da instituição esclarecendo as circunstâncias do ensino a presidiários — na época, Beira-mar havia iniciado sua graduação a distância.
Na opinião dele, por mais que uma figura pública tenha “segundas intenções” ao escolher o curso de Teologia para “restaurar sua imagem”, “algo vai ser plantado".
— A graça de Deus impacta as pessoas. Todo mundo tem que ter uma chance. E Jesus se aproximava da escória da sociedade.
A partir de 2010 o curso ganhou a versão à distância, na qual já se formaram 192 pessoas. Segundo a instituição, 45% dos estudantes fazem o curso pelo interesse intelectual, 30% tornam-se pastores, enquanto o restante trabalha em ONGs e outros braços de assistência cristã.
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