Lula diz desconhecer compra de votos por Olimpíada do Rio e fala em 'onda de denuncismo'
RIO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta terça-feira, em depoimento à Justiça Federal, que desconhece qualquer iniciativa de compra de votos para que o Brasil fosse escolhido sede da Olimpíada do Rio-2016 e criticou o onda de "denuncismo" existente no país. Ao tentar continuar sua fala, ele foi interrompido pelo juiz Marcelo Bretas.
- Só lamento que venha uma denúncia de compra de delegados oito anos depois (da vitória da campanha brasileira). Não sei quem fez a denúncia e não me interessa saber. Estamos num momento de denuncismo - afirmou Lula.
Mais cedo, Lula já havia sido alertado pelo magistrado de que o depoimento deveria ficar restrito ao processo em análise. Ele fala como testemunha de defesa do ex-governador Sérgio Cabral no processo em que o emedebista é acusado de participar de um esquema de compra de votos para que o Rio fosse escolhido sede dos Jogos olímpicos de 2016.
A defesa de Cabral tentou demonstrar com os questionamentos de Lula que havia um contexto favorável para a escolha do Brasil como sede dos Jogos Olímpicos para desqualificar a acusação do Ministério Público, que aponta pagamento de US$ 2 milhões para conseguir votos de delegados africanos em favor do Brasil.
Seguindo essa lógica, o ex-presidente foi questionado sobre as agendas que manteve para conseguir apoio para a candidatura brasileira e, em tom bem-humorado, lembrou de reuniões na China, na Dinamarca e na Suíça.
Na China, ele disse que foi para um jantar promovido pelo presidente Hu Jintao porque o ex-presidente dos Estados Unidos George Bush estava lá pedindo votos para a candidatura de Chicago e, por isso, ele não poderia deixar de ir lá defender o Brasil.
- Eu fui lá para disputar e para mostrar que Brasil tinha mais cacife que eles para disputar os Jogos Olímpicos. Sou muito grato com o presidente Hu Jintao. Voltei para o Brasil com a esperança que a China ajudaria o Brasil e influenciaria em nosso favor - afirmou Lula.
Na Dinamarca, ele disse que foi a um jantar com a rainha daquele país porque sabia que a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michele Obama estava lá há uma semana fazendo campanha para Chicago. E disse que como ela era "muito simpática" preferiu ir defender a candidatura nacional.
Lula negou ainda conhecer Arthur Soares, o Rei Arthur, apontado pelo MP como quem pagou a propina aos africanos em troca de votos. Mas reconheceu que se reuniu diversas vezes com o ex-presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Carlos Artur Nuzmam para planejar estratégias em favor do Brasil.
Lula disse ainda que era natural os africanos apoiarem a candidatura brasileira pelo esforço feito para que o Brasil se aproximasse da África. Nesse sentido, ele citou as inúmeras embaixadas abertas durante o seu governo e outros mecanismos de cooperação que teriam sido fundamentais para garantir esse apoio quando o Brasil pediu.
De acordo com o ex-presidente, o Itamaraty também foi orientado para pedir apoio pelos mecanismos diplomáticos a todos os países que pudessem ajudar o Brasil com votos no Comitê Olímpico Internacional (COI).
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