O médico obstetra Olímpio Moraes, que é uma figura importante na luta pela legalização do aborto no Brasil, diz estar preocupado com o avanço do Projeto de Lei (PL) do Aborto, e o considera um retrocesso que pode matar muitas mulheres, especialmente crianças e adolescentes.

Se o PL for aprovado, o aborto após 22 semanas será considerado um crime de homicídio simples, com sentenças de seis a 20 anos de prisão, uma penalidade mais severa do que a do estupro, que é de 8 a 15 anos para estupro de vulnerável. O projeto prevê também que até os médicos envolvidos no aborto sejam presos.

Diretor médico do Centro Universitário Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam) e professor da Universidade de Pernambuco (UPE), Olímpio foi excomungado pela Igreja Católica após realizar um aborto em uma menina de 9 anos em 2009. Além de ter sido alvo de ataques de religiosos radicais, que tentaram impedir uma criança de 10 anos de interromper a gravidez após ser estuprada pelo tio em 2020.

"Entre essas crianças e meninas adolescentes, a principal causa de morte são justamente as complicações da gravidez. E a segunda é o suicídio devido à depressão, gerado muitas vezes pela situação de vulnerabilidade causada pela violência sexual. Então, o projeto vai condenar essas meninas muitas vezes à morte.", disse Olímpio Moraes em entrevista ao colunista da UOL, Carlos Madeiro.

Seu argumento é que limitar o prazo a 20 semanas é uma ideia de quem não está familiarizado com o assunto, já que muitas vezes as jovens descobrem a gravidez após o quarto mês.

"Entre essas crianças e meninas adolescentes, a principal causa de morte são justamente as complicações da gravidez. E a segunda é o suicídio devido à depressão, gerado muitas vezes pela situação de vulnerabilidade causada pela violência sexual. Então, o projeto vai condenar essas meninas muitas vezes à morte", explicou.

Em certos casos, as mulheres correm risco de vida após 20 semanas de gestação. "Existem casos em que mulheres apresentam, acima de 20 semanas, uma descompensação cardíaca, ou percebe-se uma gravidez abdominal, uma gravidez ectópica [fora do útero] --que é um risco muito grande. E o médico pode ficar com receio de interromper a gravidez, e a mulher pode morrer por causa dessa", ressaltou Olímpio.