Vida de luxo de chefe da PCC incluía mansão de R$ 2 milhões
FORTALEZA - De bermuda, chinelo e camiseta, Rogério Jeremias de Simone, de 41 anos, o Gegê do Mangue, um dos principais líderes do PCC fora dos presídios, poderia passar por um cidadão comum quando ia ao supermercado, no mínimo duas vezes por semana.
— Cumprimentava todo mundo. Era uma pessoa normal — diz um dos funcionários do estabelecimento, ao lado do condomínio Alphaville, em Aquariz, cidade próxima a Fortaleza.
O homem que enchia o carrinho de compras e retornava para sua mansão, avaliada em R$ 2 milhões e registrada no nome de um laranja, era procurado há um ano pela Polícia Federal. Estava foragido depois de uma condenação de 47 anos por homicídio. Antes de 15 de fevereiro, quando foi assassinado na reserva indígena de Jenipapó-Kanindé, Gegê ostentava uma vida de luxo.
A casa servia como base entre as viagens que fazia para a Bolívia. Em um dos metros quadrados mais caros da região, tinha dois BMW X6M e um Range Rover Sport 3.0. Morava no mesmo condomínio em que vive o cantor Wesley Safadão. A não ser pelo companheiro de facção Fabiano Alves de Souza, o Paca, também morto, poucos imaginavam a real identidade do traficante, que dizia ser “empreiteiro”.
Apesar da desconfiança que gerava por sua riqueza, Gegê incorporou hábitos de um morador normal. No último ano, além de frequentar o mercado local, foi visto no restaurante do outro lado da rua, comendo tapioca e tomando café, no carnaval das badaladas praias de Beberibe e no Beach Park, o maior parque aquático da América do Sul, a 26 quilômetros de Fortaleza.
Junto ao seu corpo, foi encontrada uma corrente de ouro de R$ 400 mil. Depois da morte de Gegê, a segurança do condomínio deu ordem expressa para ninguém comentar o caso.
— Todo mundo estava desconfiado da rotina e dos carros de luxo, mas ninguém podia dizer nada, pois eles estavam aqui como moradores. Não está se falando nada para evitar que o caso tome maiores proporções. Todos estão com medo — diz um morador.
A polícia investiga em sigilo a morte de Gegê. Os moradores da aldeia indígena também receberam recomendação da Funai para não dar informações.
Na sexta-feira após o carnaval, os corpos dos traficantes foram localizados por um ribeirinho. No dia anterior, um helicóptero cinza, com uma listra vermelha, sobrevoou a região duas vezes, entre 9h40m e 10h, segundo um indígena. Gegê e Paca foram encontrados com sinais de tiros e de facadas nos olhos, o que especialistas entendem como um recado contra o “olho gordo” de quem desvia dinheiro da facção. Existe a hipótese de ter sido assassinado por outra facção do Ceará.
QUADRILHAS DE RIO E SP DISPUTAM MERCADO
Em um intervalo de menos de três semanas, a chacina no bairro Cajazeiras, que deixou 14 mortos, e o duplo homicídio que envolveu Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, expoente do PCC, colocou Fortaleza, capital do Ceará, no centro da atenção da Segurança Pública. A violência não é novidade no estado, com alto índice de homicídios, mas a configuração do crime passou por transformações nos últimos três anos. Há uma disputa territorial pelo tráfico entre PCC e Guardiões do Estado contra o Comando Vermelho, do Rio, e a FDN, do Amazonas.
— O PCC age como cérebro dentro do presídio. Não é uma união formalizada, mas ele está unido com o GDE para rivalizar contra o avanço do Comando Vermelho, que se uniu à FDN — diz um promotor ligado ao Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas, o Gaeco, do Ceará.
O PCC, dessa forma, atua de forma mais profissionalizada e estruturada, enquanto o GDE, criado como uma espécie de resistência do Ceará às facções de outros estados, age na execução das ruas e no tráfico de varejo, como a venda de ilícitos. Por ter uma organização mais horizontalizada, os líderes do GDE são mais difíceis de localizar.
O pesquisador de violência pública Luiz Fábio, coordenador do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará, explica que as pequenas gangues foram cooptadas por facções maiores, que colocaram a dinâmica de enfrentamento em outra escala.
— Eles fornecem armas e contam com esquemas mais apurados de articulação, que surgem do interior dos presídios. Habitantes de um local atribuído a determinado grupo devem vestir a camisa desse grupo, jamais de outro. Quando uma escola é determinada como Comando Vermelho, não pode ter GDE. Os espaços estão bem delineados — diz Fábio.
Fortaleza é considerada um ponto importante na rota internacional do narcotráfico. O governo do Ceará reclama da falta de recursos para a Segurança Pública. Afirma que o combate ao crime organizado, a proteção de fronteiras e o narcotráfico são responsabilidade do governo federal.
— Quero saber o que eu recebi para a área de Segurança Pública. Recursos para segurança pública até o momento no meu governo foram zero — diz Camilo Santana, governador do estado.
Este é um dos motivos da atuação da Força Nacional na capital cearense, com 36 policiais enviados pelo governo federal no último domingo, dia 18.
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