Votação para Assembleia Constituinte da Venezuela começa com candidato morto
CARACAS - Um candidato à Assembleia Constituinte da Venezuela, que está sendo eleita neste domingo, foi morto antes do início da votação. O advogado José Félix Pineda foi assassinado a tiros em sua casa ainda na noite deste sábado, informou a procuradoria venezuelana.
Em sua conta na rede social Twitter, o Ministério Público da Venezuela relatou que um grupo de pessoas invadiu na noite de sábado a residência de Pineda, de 39 anos, na Ciudad Bolívar, Sudeste do país, “e lhe atingiu com vários tiros”, sem, no entanto, indicar motivos para o crime.
A votação para a escolha dos 545 integrantes da Constituinte acontece em todo o país, com 6.120 candidatos, apesar da ameaça da oposição de um “boicote” contra a iniciativa do presidente Nicolás Maduro em meio a uma onda de protestos que deixou 113 mortos em quatro meses.
“Por José Félix Pineda e por muitos, necessário é lutar por (uma) vitória que acabe com a aberração política que desejam implantar”, escreveu nas redes sociais Francisco Rangel, governador do estado de Bolívar, insinuando que o advogado foi alvo de um crime político.
Pineda é o segundo candidato à Constituinte assassinado. No dia 10 de julho, José Luis Rivas morreu ao ser baleado durante um evento de campanha na cidade de Maracay (centro-norte).
Enquanto isso, ao menos três pessoas foram mortas nas últimas horas nos protestos contra a eleição, informaram deputados venezuelanos da oposição. Em sua conta também no Twitter, o deputado e líder da Ação Democrática (AD), Henry Ramos Allup, escreveu que o “regime assassinou” com um tiro disparo nesta madrugada a Ricardo Campos, secretário juvenil da AD, durante uma manifestação na cidade de Cumaná, no estado de Sucre.
As outras duas vítimas são Marcel Pereira e Iraldo Guitérrez, que segundo vários deputados foram assasinados por “coletivos” nas últimas horas em uma manifestação contra a Constituinte no estado de Mérida, informou a agência de noticias EFE. Também em Mérida, duas pessoas identificadas como Eduardo Olave e Angelo Yordano Méndez foram mortos do lado de fora de uma escola que serviria de seção eleitoral, informou o jornal venezuelano “El Nacional”. Segundo a publicação, uma das vítimas era vigia da instituição, que vizinhos dizem ter rondada por grupos armados durante a noite e a madrugada com a intenção de desmontar a seção.
Alguns relatos também já dão conta de episódios de repressão em diversas partes do país, cpm confrontos entre forças de segurança e manifestantes que ergueram barricadas em ruas e estradas para atrapalhar a votação. Ainda de acordo com o “El Nacional”, um jovem ficou gravemente ferido quando policiais atacaram manifestantes em Barquisimeto, no estado de Lara. Já publicações de opositores também no Twitter informam ataques da Guarda Nacional Bolivariana a manifestantes que estão se concentrando em pontos da capital Caracas para um grande protesto contra o governo e a convocação da Constituinte, que consideram "ilegal", previsto para começar às 12h deste domingo.
As urnas para a eleição dos 545 integrantes de uma assembleia constituinte convocada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foram abertas neste domingo às 6h na hora local (7n no horário de Brasília). O presidente foi o primeiro a votar em uma seção eleitoral no Oeste Caracas.
- Fui o primeiro a votar no país. Peço a Deus todas as suas bênçãos para que o povo possa exercer livremente o seu direito democrático ao voto - disse Maduro, vestindo uma camisa vermelha com uma bandeira da Venezuela.
A eleição da Assembleia Constituinte venezuelana terá lugar em uma atmosfera tensa depois que a oposição, que não apresentou candidatos neste pleito, anunciou protestos em todo o país contra a iniciativa. As manifestações são parte de um movimento que começou em 1º de abril para exigir a saída de Maduro e já deixaram mais de cem mortos e milhares de feridos e presos.
Maduro propôs a Constituinte numa tentativa de resolver a grave crise política no país, mas a oposição, que exige eleições gerais, a considera uma “fraude” para aprofundar o domínio do governante socialista.
A Assembleia Constituinte também foi rejeitada pelos Estados Unidos e vários países da América Latina e Europa. Colômbia e Panamá já anunciaram que não vão reconhecer os resultados, enquanto Washington ameaçou novas penalidades econômicas depois de sancionar esta semana 13 funcionários e ex-colaboradores da Maduro.
A Assembleia Constituinte é rejeitada por 72% dos venezuelanos, de acordo com a empresa de pesquisas Datanalisis, que coloca em 80% a rejeição à gestão de herdeiro político de Hugo Chávez, morto em 2013.
Este cenário se desenrola em meio à grave crise econômica que atravessa o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, refletida numa escassez crônica de alimentos e medicamentos e a maior inflação do mundo, projetada pelo FMI em 720% este ano.
Devido ao método da escolha, combinando sufrágios por territórios e setores sociais, 62% dos 19,8 milhões de eleitores poderão votar duas vezes nas eleições. Tudo isso torna o cálculo da participação dos cidadãos, de acordo com o especialista eleitoral Eugenio Martínez, uma questão fundamental para a legitimidade da Constituinte, porque há duas semanas a oposição organizou um plebiscito simbólico contra a iniciativa em que disse ter levantado 7,6 milhões votos.
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