Rio - Do rapper Emicida à ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia, do arquiteto Paulo Mendes da Rocha ao Padre Fábio de Melo, uma comprida lista de personalidades teve assento no “Conversa com Bial” desde a estreia, em maio, na Globo. O cordão de convidados foi eclético. Ao abraçar o high-low, abriu o mesmo espaço para Anitta e Guimarães Rosa. Com Rita Lee, Bial dançou e reviu uma entrevista feita nos anos 1980. Com a youtuber Dani Russo, arriscou um passinho de funk, a “sarrada”, e, com o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, entrou no debate político.

No próximo dia 15, encerrará a primeira temporada. Ele, que acaba de se tornar pai mais uma vez — no mês passado, nasceu Laura, do casamento com a jornalista Maria Prata —, sairá de férias. Voltará ao ar em abril, mas, antes disso, retomará o trabalho com a diretora artística, Monica Almeida, e o de conteúdo, Ingo Ostrovsky. Feito um balanço do que deu certo, eles pretendem ampliar a presença de entrevistas internacionais, algo que, aponta Bial, “foi bom com José Mujica (ex-presidente uruguaio), Yuval Harari (escritor israelense, autor de “Sapiens”) e Hassan Akkad (documentarista e refugiado sírio radicado em Londres):

— Estamos em negociações para entrevistar o cientista Stephen Hawking, que é o grande cérebro do mundo. O escritor Steven Pinker também está na minha lista. Espero ainda conversar com o anfitrião da Copa, Vladimir Putin. E meu sonho é ter Lady Gaga no programa.

O formato, uma conversa que começa com uma ou duas figuras e depois vai ganhando musculatura com a chegada de outros interlocutores, está pronto, mas ainda “sujeito a ajustes”. Cuidadoso e modesto, Bial escolhe as palavras e afirma que “ainda estamos tateando”:

Boa mistura: Pedro Bial entre os convidados Ronnie Von e João Gordo - Ramon Vasconcelos/Rede Globo

— Ao fim deste ano, já tivemos algumas certezas, uma delas, a de que a ideia de projetar num telão as entrevistas internacionais e debater com convidados no palco tem de ser repetida.

A equipe, conta o jornalista, agora está tranquila, mas a consolidação exigiu muito:

— O primeiro semestre foi difícil para mim até fisicamente. Fiquei exausto, sobrecarregado. Não sabia se o público iria “comprar” a proposta de um programa que abordasse temas sérios e que ao mesmo tempo tivesse humor.

O aval inicial, diz, vem sempre da plateia:

‘O brilho do Bial entrevistador é coerente com seu caminho de poeta adolescente e jornalista destemido’

- Caetano VelosoCantor e compositor

— Pelas palmas e pelas reações, sinto instantaneamente se o programa funcionará. O Jô (Soares) tinha me dito isso: a plateia é o elemento definidor. No dia seguinte, claro, tem as reações na ruas e há as redes sociais. Eu não ando por ali, mas meu pessoal me conta o que elas estão dizendo.

Se frequentasse as redes, Bial provavelmente gostaria do que iria encontrar. Afinal, é na internet que a atração alcança aquele público que não acompanha o horário de grade. Os números confirmam isso. Como diziam os participantes do “BBB”, “o Brasil tá vendo”: o talk-show é o programa de variedades diário mais visto do Globo Play. Além disso, as requisições de vídeo do que foi ao ar na noite anterior têm grande força no final da manhã e à tarde. E o auge é às 10h. Trata-se de um comportamento diferente daquele típico no aplicativo, onde o consumo se acentua no final da noite e o horário de pico é às 23h. No Facebook, ele também explode: um único post, o da entrevista com Simone e Simaria, alcançou mais de 20 milhões de pessoas.

Se as moças da dupla sertaneja fizeram ferver o Facebook, na TV um dos recordes veio numa sexta-feira de junho (nove pontos, quando a média costumeira é sete), com uma homenagem a Ariano Suassuna.

‘Pedro Bial é um apresentador que faz dever de casa, tem empatia e dá espaço para o entrevistado’

- Luís Roberto BarrosoMinistro do STF

— Acho que a obra de Suassuna é popular, né? — arrisca. — E também são vários os vetores que levam um programa a ser mais visto que outro, alguns deles, impalpáveis.

Os temas mais aparentados do noticiário quente também estão na mira para 2018.

— Quero incrementar a dose de atualidade. Gostei muito de receber os ministros Cármen Lúcia e Luís Roberto Barroso e o ex-ministro Ayres Britto. O meu registro é diferente daquele do repórter que está na rua, com o microfone apontado para seu entrevistado. Aqui é uma conversa, sem a faca no pescoço ou a premência do hard news. As pessoas abaixam a guarda, a cobrança é diferente — observa.

ENTREVISTA COM TANATOPRAXISTA

Barroso, que não fugiu das perguntas mais espinhosas, falou longamente sobre corrupção e manifestou sua opinião sobre temas controversos como a guerra às drogas (“um fracasso”, definiu), comenta isso que o jornalista chama de “registro diferente”:

— Pedro Bial é um apresentador que faz dever de casa, tem empatia e dá espaço para o entrevistado. Por isso, por esta humildade, a estrela do programa é ele mesmo.

O fato de ele “fazer o dever de casa” também chamou a atenção de Caetano Veloso, que esteve lá com os três filhos, Moreno, Zeca e Tom:

— Bial é, claro, divertido, informado e afetuoso. Seria incompreensível que seu programa não se tornasse um sucesso. Gosto de assistir e gostei de participar. Além de tudo, a captação dos números musicais foi muito boa. O brilho do Bial entrevistador é coerente com seu caminho de poeta adolescente e jornalista destemido.

Assuntos áridos também estiveram bem presentes. No feriado de Finados, passaram por lá profissionais da indústria funerária, uma delas, uma tanatopraxista (e o que ela faz? Embeleza mortos). Quem já tinha visto esse tema tratado com naturalidade na TV aberta que atire a primeira pedra.

— Não é só porque eu vi a morte de perto (em 2016, Bial passou por uma séria cirurgia cardíaca) que ela me interessa. É também porque na sociedade contemporânea, há tabus que estão sendo rompidos, como a orientação sexual. Quero discutir isso. O suicídio está entre esses assuntos. Vamos falar dele também — promete.