'Não existe crise econômica no Brasil', afirma Temer antes de cúpula do G-20
HAMBURGO – O presidente Michel Temer afirmou em Hamburgo que não existe crise econômica no Brasil, e que a crise política não influi no desempenho da economia. Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, admitiu a influência, mas disse que a economia dá "mostras de resiliência e de força neste período de certa incerteza".
— Crise econômica no Brasil não existe. Podem levantar os dados que se verá que estamos crescendo no emprego, na indústria e no agronegócio. Lá (no Brasil) não existe crise econômica – assegurou ao chegar no Hotel Le Méridien, por volta das 6h (1h horário de Brasília), para participar da cúpula do G20, grupo que reúne as maiores economias do país.
O país vem amargando números macroeconômicos ruins. A taxa de desemprego ficou em 13,3% no trimestre encerrado em maio, atingindo 13,8 milhões de pessoas. Esta foi a maior taxa para este trimestre desde o início da pesquisa, em 2012. A produção industrial, por sua vez, em 12 meses recua 2,4%.
Já o Produto Interno Bruto (PIB) registrou alta de 1% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com os últimos três meses do ano passado, mas influenciado principalmente pelo bom desempenho da agropecuária. Na comparação com primeiro trimestre de 2016, o PIB caiu 0,4%. A economia está no patamar de 2010. Excluindo o efeito positivo da agropecuária, a economia brasileira encolheria 0,3% em 2017, segundo projeção do Ibre/FGV.
Questionado se a crise política não atrapalharia a retomada do crescimento econômico do país, Temer, se dirigindo para o interior do hotel, apenas disse “não”, gesticulando um sinal negativo com o dedo indicador da mão.
O presidente justificou sua viagem a Hamburgo, que ele havia cancelado na semana passada.
— Haverá a reunião dos Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), onde vamaos discutir naturalmente a questão intra-Brics para o desenvolvimento desta aliança entre os cinco países, e de alguma maneira participar desta grande reunião que é o G20, onde alguns temas fundamentais para os países componentes do grupo serão debatidos, entre eles o meio ambiente.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, por sua vez, descartou uma situação de “ingovernabilidade” no país – termo utilizado pelo presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati –, mas admitiu uma certa influência atual da crise política no desempenho da economia, embora ainda dentro de um quadro controlável e de recuperação econômica:
— Existe, sim, uma certa dimunição do nível de confiança, mas ainda num terreno positivo. Estamos administrando de uma forma bastante focada e concentrada na agenda econômica. A economia vai bem, o que é o aspecto mais relevante. O mercado tem mantido uma relativa estabilidade, e do nosso ponto de vista também continuamos com alguns ajustes de cronograma, trabalhando junto aos parlamentares, tendo em vista a aprovação das reformas. A reforma trabalhista está caminhando, a reforma da Previdência deve ser discutida no segundo semestre — disse Meireles em Hamburgo.
Perguntado se poderia continuar como ministro da Fazenda num novo governo, no caso da destituição do presidente Michel Temer, foi lacônico.
— Não trabalho por hipóteses.
Meirelles disse o que vai responder aos seus colegas em Hamburgo, se perguntado sobre a crise política brasileira:
— Vou dizer que o país prossegue com as instituições funcionando bem, dentro da Constituição, das normas vigentes. Que existe uma decisão a ser tomada pela Câmara proximamente (sobre a denúncia contra Temer). A expectativa, a esta altura do governo, é de que possivelmente a denúncia não deve ser aceita pela Câmara. Mas existe um funcionamento normal das instituições, e o mais importante do ponto de vista dos ministros de Economia é que a economia funciona bem e está dando mostras de resiliência e de força neste período de certa incerteza.
Meirelles terá ainda nesta sexta-feira, à margem do G20, uma reunião com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), Angel Gurría, sobre o pedido de adesão à instituição que agrupa 35 países — a maioria do bloco de países desenvolvidos. Recentemente, os Estados Unidos deram sinais de que pretendem desacelerar o processo de adesão de novos membros à OCDE. No próximo dia 12, haverá uma primeira reunião na OCDE para decidir sobre as solicitações de adesão do Brasil, mas também de Argentina, Peru, Romênia, Bulgária e Croácia.
— Os americanos têm uma posição de princípio, desta administração de Donald Trump, que não tem nada que ver com o Brasil. Eles estão discutindo basicamente a questão da entrada de novos membros na OCDE, principalmente de mais um país europeu. Acho que essa é a preocupação maior da administração americana, não o Brasil. Mas estamos conversando com eles, e continuamos com uma expectativa muito positiva.
ASSUNTOS: crise no Brasil, G20, michel temer, Brasil