Ambipar amplia planta de reciclagem eletrônica em São Paulo
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A multinacional brasileira Ambipar inaugurou nesta quarta-feira (27), em São José dos Campos, interior de São Paulo, a maior planta de mineração urbana da América Latina voltada à manufatura reversa de equipamentos eletrônicos. Com um investimento de R$ 100 milhões, a planta expandiu sua capacidade anual de processamento de 30 mil para 80 mil toneladas.
Além de equipamentos menores, como smartphones e laptops, a unidade passa a tratar também itens de grande porte, como máquinas de lavar, fogões e micro-ondas.
A reciclagem de resíduos eletrônicos converte materiais descartados de dispositivos como celulares, computadores e eletrodomésticos em insumos reutilizáveis.
A tecnologia empregada na nova planta inclui sistemas de separação por infravermelho, raio-X e inteligência artificial, com 85% das operações automatizadas. Materiais como plástico, ferro, alumínio, cobre, latão e placas eletrônicas são separados e reinseridos no mercado. Em dispositivos que armazenam dados sigilosos, como celulares e computadores, o processo é realizado com foco em segurança.
Marcelo Oliveira, head da unidade de mineração urbana da Ambipar, afirma que o Brasil está atrasado em relação à separação de metais, mas que a planta é um marco para o setor, com potencial para replicar o modelo em outros países da América Latina, como Peru e Chile. Além disso, existe a vontade da empresa de expandir para Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
"A nossa ideia é levar o conceito para outros municípios do Brasil. Ainda não há um cronograma definido, mas a intenção é ampliar essa iniciativa em outras regiões devido à eficiência do processamento aqui", disse o executivo.
Oliveira foi fundador da GM&C, empresa que atuava na mineração urbana e foi comprada pela Ambipar em outubro de 2023.
A inauguração contou com a presença do prefeito de São José dos Campos, Anderson Farias (PSD). Na cidade, a planta conta com apoio da prefeitura e recebe materiais provenientes da Urbam (Urbanizadora Municipal).
PROCESSO DE COLETA
"Todo produto que dá defeito no prazo de garantia volta para a assistência técnica para ser consertado e, em seguida, retorna ao fabricante. O fabricante consolida o estoque de peças defeituosas e as envia para a Ambipar, que cobra pelo transporte e pelo processamento", diz o executivo.
A Gerdau, produtora de aço, e a Operado Vivo são algumas das empresas que utilizam o serviço.
Outro canal de coleta é formado por cooperativas espalhadas pelo país, que recolhem resíduos eletrônicos e os encaminham para a unidade de processamento. Além disso, existem mais de 10 mil pontos de entrega voluntária no Brasil, destinados ao recebimento de equipamentos danificados ou obsoletos.
Na planta de São José dos Campos, os aparelhos eletrônicos passam por uma esteira onde são triturados. Em seguida, um imã separa as partes com ferro, enquanto o restante do material retorna para nova trituração.
Na etapa final, sistemas de separação por infravermelho e raios-x identificam diferenças entre metais e plásticos com base na densidade e na absorção de luz. Os plásticos, por sua vez, são classificados por tipo e cor, sendo separados entre pretos e coloridos.
Após o processamento, a maior parte dos materiais obtidos é comercializada para empresas como Gerdau, CBA (Companhia Brasileira de Alumínio) e Umicore.
Outra forma de coleta é realizada por cooperativas de todo o país, que recolhem e encaminham os resíduos eletrônicos para a unidade. Existem mais de 10 mil pontos de entrega voluntária no país, que enviam equipamentos danificados ou obsoletos para processamento.
Atualmente, dados do Cetem (Centro de Tecnologia Mineral) apontam que 85,8% dos brasileiros têm equipamentos eletrônicos sem uso em casa e desconhecem como descartá-los corretamente.
Embora a unidade represente avanços, Oliveira diz que um dos maiores desafios ainda é conscientizar a população sobre a destinação correta de resíduos. A PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), instituída pela Lei nº 12.305/2010, foi criada com o objetivo de promover o gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil e estabelecer metas para redução, reutilização e reciclagem. "A meta é grande e tem oportunidade. A lei veio para forçar, de certa forma, a concentração sobre o assunto", diz o executivo.
Além disso, o Brasil é o segundo maior gerador de lixo eletrônico nas Américas, com 2,4 milhões de toneladas anuais, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). Apenas uma fração desse volume tem descarte adequado. Oliveira alerta que, se ações como a mineração urbana não forem intensificadas, poderá haver escassez de matéria-prima nos próximos 50 anos.
ASSUNTOS: Economia