Banco Mundial eleva projeção de crescimento do PIB brasileiro para 1,7%
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Banco Mundial revisou a estimativa de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil de 1,3% para 1,7% neste ano, e acelerou a previsão para 2,2% em 2025. Segundo o boletim Focus mais recente, divulgado pelo Banco Central, a economia do país deve crescer 1,9% em 2024 e 2% no ano seguinte.
Na contramão, o Banco Mundial cortou a previsão de crescimento econômico para a América Latina e o Caribe em 2024 para 1,6%, em comparação com a estimativa anterior de 2,3%, afirmando que a região continua a ficar atrás das taxas de crescimento registradas em outras partes do mundo.
O crescimento econômico da região poderia receber um impulso necessário com o aumento da concorrência, mas a diversificação de empresas enfrenta restrições, inclusive na educação e na infraestrutura, disse o banco em relatório divulgado nesta quarta-feira (10).
O estudo ressalta a importância do chamado "nearshoring", o movimento de aproximar as cadeias de suprimentos de seus destinos, para o resultado econômico da região em meio às tensões globais, citando uma redução considerável de IED (investimento estrangeiro direto) na América Latina e o Caribe desde 2010.
Em 2022, a região foi a única do mundo a aumentar seu IED, segundo o relatório. "Embora tenha beneficiado a maioria dos países da região, esse aumento foi mais notável no Brasil, que consolidou sua posição de maior destino de IED, com um aumento de quase 70% em 2022", diz.
"A despeito de alguns aumentos encorajadores na América Central e Caribe, em geral, a tendência de nearshoring está, em grande medida, passando ao largo da região. Isso aponta para a necessidade de um amplo conjunto de reformas indispensáveis, bem como de um recrutamento mais agressivo de oportunidades de IED pelos governos da região".
A baixa concorrência na região é citada como uma barreira para a inovação e a produtividade, pois as grandes empresas dominam vários setores, sendo que 70% dos trabalhadores da região são autônomos ou fazem parte de empresas com menos de 10 funcionários, disse o Banco Mundial.
Mesmo com a presença de agências e leis de concorrência em vários países, disse o banco, a aplicação na região é frágil, pois empresas grandes e poderosas geralmente influenciam as políticas governamentais.
Outra barreira importante é a educação, já que 29% das empresas da região dizem que não podem expandir devido à falta de mão de obra qualificada, um problema que William Maloney, economista-chefe do banco para a América Latina e o Caribe, associa diretamente aos sistemas de ensino público e de treinamento deficientes da região, que não são preparados para atender às necessidades do setor privado.
"No Vale do Silício, temos essa ligação muito estreita entre empresas e universidades que é absolutamente fundamental para o milagre tecnológico dos EUA nos últimos 50 anos (ou mais)", disse Maloney em uma entrevista. "Mas a América Latina está empatada com a África em termos de baixos níveis de interação entre empresas e universidades."
Maloney disse que isso, juntamente com níveis muito baixos de investimento em infraestrutura, significa que "temos muito trabalho a fazer em muitas frentes".
Um ponto positivo na região foi a gestão macroeconômica, que levou a uma rápida queda da inflação na maioria dos países da região, a ponto de os preços subirem mais lentamente do que em muitos países desenvolvidos.
"Mas nada vai acontecer se não consertarmos os fundamentos subjacentes, o baixo nível de educação, a infraestrutura ruim, a dificuldade de transportar mercadorias", disse ele. "Isso será uma barreira para qualquer tipo de política industrial que se queira considerar."
O estudo também cita que o Brasil foi importante para diminuir os níveis gerais de pobreza da América Latina, juntamente com o México, e que a região recuperou totalmente o PIB perdido durante a pandemia. Além disso, o emprego global está perto do observado em 2019, diz o relatório.
A atual taxa de crescimento na América Latina e no Caribe não é suficiente para impulsionar a prosperidade, acrescentou a instituição.
"O baixo crescimento persistente não é apenas uma estatística econômica, é uma barreira para o desenvolvimento", disse Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, em comunicado.
"Isso se traduz em serviços públicos reduzidos, menos oportunidades de emprego, salários deprimidos e maior pobreza e desigualdade."
FMI
O crescimento econômico mundial será de apenas 2,8% ao ano até 2030, um ponto percentual abaixo da média histórica, a menos que sejam feitas grandes reformas para aumentar a produtividade e alavancar tecnologias como a inteligência artificial, disse o FMI (Fundo Monetário Internacional) também nesta quarta-feira.
O Fundo divulgou um capítulo de seu próximo relatório "Perspectivas Econômicas Mundiais", que mostrou novos declínios na taxa média de crescimento global, que desacelera desde a crise financeira global de 2008.
"Sem medidas ambiciosas para aumentar a produtividade, o crescimento global deverá cair muito abaixo de sua média histórica", disse o FMI, alertando que as próprias expectativas de crescimento fraco poderiam desencorajar os investimentos, aprofundando a desaceleração.
Segundo o fundo, o cenário persistente de baixo crescimento, combinado com as taxas de juros altas, também poderia restringir a capacidade dos governos de combater a desaceleração econômica e investir em iniciativas de bem-estar social ou ambientais.
"Tudo isso é exacerbado por fortes obstáculos decorrentes da fragmentação geoeconômica e de políticas comerciais e industriais unilaterais prejudiciais", afirma o FMI em artigo que antecipa parte do relatório, a ser divulgado na íntegra na próxima terça-feira.
No último relatório, há um ano, o FMI disse que esperava que o crescimento de médio prazo ficasse em torno de 3%. A nova previsão reflete revisões para baixo do crescimento em todos os grupos de renda e regiões, principalmente nas economias de mercados emergentes.
O FMI pediu aos países que tomem medidas urgentes para combater o enfraquecimento das perspectivas de crescimento, alertando que isso piora as perspectivas de padrões de vida e de redução da pobreza global.
"Um ambiente de baixo crescimento arraigado, aliado a taxas de juros altas, ameaçaria a sustentabilidade da dívida e poderia alimentar a tensão social e dificultar a transição verde", afirmou.
O FMI disse que uma série de políticas, incluindo uma melhor alocação de capital e mão de obra e o enfrentamento da escassez de trabalhadores nas principais economias com populações envelhecidas, pode oferecer esperança.
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