BC injeta US$ 4,6 bilhões no mercado de câmbio em dois leilões extraordinários
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O Banco Central injetou US$ 4,6 bilhões no mercado de câmbio nesta segunda-feira (16) com a realização de dois leilões extraordinários. A autoridade monetária realizou quatro intervenções em menos de uma semana para tentar conter a alta do dólar.
A moeda norte-americana começou o dia em alta nesta segunda e chegou a ser cotada a R$ 6,09. Depois da ação do BC, o dólar desacelerou, mas continuou subindo. Às 10h40, era cotado a R$ 6,048.
Mais cedo, em um leilão extraordinário de dólares à vista, o BC vendeu US$ 1,6275 bilhão. Em comunicado, a autarquia disse que foram aceitas 18 propostas entre 9h35 e 9h40 no pregão não programado e que a taxa de corte foi de 6,0400.
Esse foi o maior valor injetado pelo BC no mercado em um único leilão de dólares à vista desde 10 de março de 2020, quando foram vendidos US$ 2 bilhões. Considerando mais de uma operação em um mesmo dia, em 24 e abril de 2020, a autoridade monetária vendeu à vista US$ 2,175 bilhões no total de quatro intervenções.
Durante a pandemia de Covid-19, em um momento de grande volatilidade da moeda norte-americana, a instituição fez intervenções extraordinárias no câmbio de forma mais recorrente.
Esse tipo de leilão à vista funciona como uma injeção de dólares no mercado, como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações e diminuir a cotação da moeda, seguindo a lei da oferta e demanda.
Depois da oferta à vista, a autoridade monetária vendeu US$ 3 bilhões com compromisso de recompra, no chamado leilão de linha. Foram aceitas seis propostas, nesta segunda entre 10h20 e 10h25, no valor total ofertado. O BC comunicou que a taxa de corte do leilão foi de 6,010000%.
As operações serão liquidadas na próxima quarta-feira (18), e a recompra de dólares está prevista para 6 de março de 2025. A realização do leilão de linha tinha sido programada pela autoridade monetária na última sexta (13).
Nessa modalidade, o BC vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank, o objetivo do BC em ambas as operações é reduzir a pressão sobre o câmbio pela alta procura de dólar. A diferença é que, no caso do leilão de linha, há uma data prevista para que os dólares sejam readquiridos pela autoridade monetária para recompor as reservas internacionais do país.
"Quando a taxa de câmbio está subindo muito por aqui, que é o que a gente tem visto nos últimos dias, é porque está faltando fluxo. Há uma redução de dólares no mercado e, portanto, a nossa taxa de câmbio acaba ficando pressionada", diz.
Na sexta, o BC também fez um leilão surpresa de dólares à vista, logo após a divisa tocar a máxima de R$ 6,077. Nove propostas foram aceitas entre 14h41 e 14h46, e US$ 845 milhões das reservas internacionais do país foram vendidos.
A primeira intervenção no câmbio desde que o dólar rompeu a barreira histórica dos R$ 6 ocorreu na quinta-feira (12), quando o BC vendeu US$ 4 bilhões em dois leilões de linha.
No início do mês, o diretor de Política Monetária e futuro presidente do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que a autoridade monetária não ia "segurar o dólar no peito". Na ocasião, ele reforçou que a instituição só atua no câmbio em caso de disfuncionalidade.
O BC, apesar da atuação, não tem sido capaz de reverter a tendência de alta do dólar. O cenário reflete a preocupação do mercado financeiro com a trajetória das contas públicas do país. Há dúvidas sobre a aprovação do pacote de contenção de despesas no Congresso Nacional na reta final do ano.
A tramitação do plano fiscal esbarrou na liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do imbróglio entre Executivo e Legislativo.
Para Quartaroli, o ambiente está bastante adverso e três fatores ajudam a explicar a falta de efetividade dos extras leilões do BC sobre o câmbio. No cenário doméstico, ela cita a incerteza fiscal como "pano de fundo crônico" no Brasil e a piora nas expectativas tanto para inflação quanto para os juros.
No boletim Focus desta segunda, os analistas apontam que a Selic irá para 14% no final de 2025, um aumento de 0,5 ponto percentual em relação ao levantamento da semana anterior.
"Isso traz um ambiente mais ruim para os negócios. Tem uma percepção de piora de risco-país para o Brasil, que acaba afastando investidores. Portanto, diminui a entrada de dólar no Brasil e afeta a taxa de câmbio de forma negativa", afirma.
No cenário externo, a economista-chefe do Ouribank menciona a incerteza com relação aos juros nos Estados Unidos e à atuação do Fed (Federal Reserve, o banco central americano). "Isso tende a trazer um pouco de cautela para o mercado", diz.
Além das intervenções do BC no câmbio, o Copom (Comitê de Política Monetária) fez um aumento mais agressivo de juros, de 1 ponto percentual. Com isso, a taxa básica (Selic) fechará 2024 no patamar de 12,25% ao ano.
O colegiado do BC também antecipou que prevê novos aumentos de mesma intensidade nas duas próximas reuniões, em janeiro e março de 2025. Se essa previsão se confirmar, a Selic atingirá 14,25% ao ano -pico dos juros na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.
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