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China questiona venda de porto no Panamá por ameaçar comércio com América Latina

Por Folha de São Paulo

14/03/2025 9h45 — em
Economia


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PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - O site do Escritório para Assuntos de Hong Kong, parte do Conselho de Estado, o ministério chinês, republicou na quinta (13) um texto crítico do jornal Tai Kung Pao à venda de 43 portos da empresa CK Hutchison, incluindo dois próximos ao Canal do Panamá, para a americana BlackRock.

A CK Hutchison é de Li Ka-shing, bilionário de Hong Kong, região administrativa especial da China. O jornal, também da cidade, é ligado ao Partido Comunista. O artigo explicita o temor de Pequim de que a BlackRock eleve custos portuários ou ameace o transporte de exportações e importações chinesas.

A China responde por 21% do fluxo de carga no canal do Panamá, sublinha o texto, "tornando-o uma rota crucial entre a China e a América Latina".

Ouvidos, exportadores brasileiros de commodities agrícolas e minerais afirmaram que seus embarques para a China não passam pelo Panamá, mas pelo Cabo da Boa Esperança, na África.

"Se o canal for 'americanizado', os Estados Unidos, sem dúvida, vão usá-lo para fins políticos, implementando medidas que restrinjam o comércio chinês", diz o artigo. "Se os EUA impuserem restrições seletivas de passagem, sobretaxas políticas ou outras barreiras, os custos de logística e a estabilidade da cadeia de suprimentos da China podem enfrentar riscos graves."

Junto com os outros 41 portos, "enorme rede portuária", prossegue a crítica, a BlackRock controlaria 10,4% dos terminais de contêineres no mundo. Isso permitiria "cooperar com os EUA na restrição das operações chinesas, aumentando custos e espremendo a China para fora do comércio marítimo global".

O ataque chinês, ao ser reproduzido no site ligado ao Conselho de Estado, levou analistas a avaliar que a venda pode estar sob risco, com a pressão de Pequim para Li rever o negócio. A empresa, que anunciou o "acordo em princípio" no último dia 4, ainda não se manifestou.

"Diante de uma questão geopolítica e econômica tão significativa, as empresas envolvidas devem pensar cuidadosamente", encerra o texto. "Elas devem entender a verdadeira natureza desse acordo, suas implicações e onde elas se posicionam sobre este assunto crucial."

O presidente americano, Donald Trump, vem pressionando pelo controle do Canal do Panamá desde seu discurso de posse, quando declarou: "A China está operando o canal e nós não o demos à China. Nós o demos ao Panamá e o estamos tomando de volta".

O negócio envolvendo os portos teria sido encaminhado, segundo relatos na imprensa dos EUA, após contatos entre o CEO da BlackRock, Laurence Fink, e o próprio Trump e seus secretários do Tesouro e de Estado. Já Li, da CK Hutchison, teria decidido sem ouvir Pequim.

O texto chinês questiona diretamente a empresa de Li, apontando que "muitos acreditam que esse é um ato de submissão e traição, um episódio de sacrifício do interesse nacional pelo lucro".


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