Dólar abre em leve alta nesta terça-feira com investidores à espera de dados dos EUA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar abriu em leve alta nesta terça-feira (1º) com os investidores à espera dos próximos movimentos do Fed (Federal Reserve, o BC dos EUA) e os dados de empregos dos Estados Unidos, que serão divulgados nesta semana.
Às 9h03, a moeda norte-americana estava com valorização de 0,28%, a R$ 5,4644. Na segunda-feira (30), o dólar fechou com ganho de 0,21%, a R$ 5,4478, após abrir a sessão em queda. O Ibovespa recuou 0,68%, a 131.816 pontos.
No mês de setembro, marcado pela alta de juros no Brasil e queda nos EUA, o dólar acumulou uma desvalorização de 3,28%. No mesmo período, o Ibovespa cedeu 3,08%.
Em seu discurso desta segunda, Jerome Powell disse que prevê mais dois cortes nas taxas de juros dos EUA, totalizando 50 pontos-base, este ano, "se a economia tiver o desempenho esperado", disse o presidente do Fed, que ainda deixou aberto a velocidade dos cortes.
Ele afirmou ainda que as recentes revisões dos dados sobre crescimento econômico, taxas de poupança e renda pessoal eliminaram alguns "riscos negativos" nos quais o Fed vinha se concentrando. "Isso ajuda na margem, mas não vai nos impedir de analisar o mercado de trabalho."
Contribui para a alta do dólar a formação da Ptax de fim de mês. A Ptax é a taxa de câmbio calculada pelo BC com base nas cotações do mercado à vista serve de referência para a liquidação de contratos futuros referentes a este mês.
"Toda vez que é fim de mês, a formação desta taxa acaba trazendo um volume mais elevado de negócios, e uma volatilidade maior também, visto que os agentes acabam tentando influenciar a sua direção, influenciar a sua formação", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Na sexta-feira (27), o dólar fechou em queda de 0,15%, a R$ 5,436, e a Bolsa recuou 0,21%, a 132.730 pontos.
Na sexta, a sessão foi embalada pela divulgação de dados de inflação dos Estados Unidos e pelo anúncio de novas medidas de estímulo à economia da China.
Indicador de inflação mais monitorado pelo Fed, o PCE teve alta de 0,1% em agosto uma desaceleração em relação ao resultado de julho, de 0,2%.
No acumulado de 12 meses, o índice ficou em 2,2%, após marcar 2,5% no mês anterior. Já no núcleo do PCE, que exclui os componentes voláteis de alimentos e energia, a alta foi de 0,1%, ante projeção de 0,2%.
O BC americano trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre juros. Enquanto os índices inflacionários têm mostrado uma convergência gradual à meta anual de 2%, os números de emprego têm desacelerado a cada nova leitura.
Na última decisão de política monetária, no dia 18 de setembro, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos, com uma redução de 0,50 ponto percentual. A taxa agora está na faixa de 4,75% e 5% e a expectativa do mercado é que o ciclo de alívio se sustente pelas próximas reuniões.
O ritmo dos próximos cortes, porém, está dependente dos números da economia americana. Com o PCE de agosto, as apostas de um afrouxamento maior, de 0,50 ponto, passaram a reunir 52,1% dos operadores na ferramenta CME Fed Watch. As de um corte menor, de 0,25 ponto, concentram os 47,9% restantes.
"O resultado deu sinais de que a inflação está controlada nos EUA, o que reforçou a expectativa de cortes mais agressivos nas taxas de juros pelo Fed", afirma Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital.
O dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.
O pacote de estímulos anunciado pela China na semana passada ainda impulsionou a desvalorização do dólar globalmente.
No Brasil, porém, a indícios de aceleração da inflação e preocupações com as contas públicas impedem ganhos do real.
O IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado), conhecido como a "inflação do aluguel", acelerou a 0,62% em setembro, depois de ter avançado 0,29% no mês anterior, informou a FGV (Fundação Getulio Vargas).
A expectativa de analistas era de que a alta fosse de 0,47%. Com o resultado, o acumulado de 12 meses bateu 4,53%.
Ao mesmo tempo, a taxa de desemprego brasileira continuou em trajetória de baixa e recuou a 6,6% no trimestre encerrado em agosto, mostrou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam o dado em 6,7%.
"Os dados mostram que a economia brasileira está aquecida e, ao mesmo tempo, que teremos mais pressão na inflação. Será inevitável o Banco Central subir os juros", avalia João Kepler, CEO da Equity Fund Group.
A bateria de divulgações chegou em um momento de preocupações renovadas do mercado em relação ao compromisso do governo com o ajuste das contas públicas.
A agência de classificação de risco, Fitch Ratings, afirmou na quinta-feira que a política fiscal atual do Brasil e seus efeitos não estão acompanhando o forte desempenho da economia nacional e que os desafios para o governo federal devem persistir e crescer no próximo ano.
Em evento na sexta, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, ainda condicionou uma taxa de juros mais baixa à política fiscal.
"Em todos os momentos na história recente brasileira, você ser capaz de cair os juros e conviver com os juros mais baixos está associado a um choque positivo no fiscal. Não existe harmonia monetária sem ter harmonia fiscal. Isso é importante", disse, durante o 1618 Spring Investment Meeting, em São Paulo.
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