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Dólar abre em leve queda nesta sexta com investidores à espera de inflação nos EUA

Por Folha de São Paulo

27/09/2024 9h30 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar abriu em leve queda nesta sexta-feira (27), com investidores à espera de dados de inflação dos Estados Unidos medidos pelo PCE (índice de preços de despesas de consumo pessoal, na sigla em inglês).

Os investidores analisam também a divulgação da taxa de desemprego no Brasil, que ficou em 6,6% entre junho e agosto, e novas medidas de estímulos anunciadas pela China.

Às 9h03, a moeda caía 0,21%, cotada a R$ 5,4338. Na quinta-feira (26), fechou em queda de 0,57%, a R$ 5,444, e a Bolsa disparou 1,08%, a 133.009 pontos.

O PCE é o índice de inflação mais monitorado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) para balizar as decisões de política monetária.

Na quarta-feira da semana passada, a autoridade americana fez o primeiro corte nos juros em mais de quatro anos, com uma redução de 0,50 ponto percentual. A taxa agora está na faixa de 4,75% e 5% —e a expectativa do mercado é que o ciclo de alívio se sustente pelas próximas reuniões.

O ritmo dos cortes, porém, estará dependente dos números da economia americana. "Não há nada que sugira pressa", disse em entrevista coletiva Jerome Powell, presidente do Fed, em referência à velocidade com que o banco provavelmente reduzirá os juros.

O BC americano trabalha com um mandato duplo, isto é, olha de perto os dados de inflação e do mercado de trabalho para decidir sobre a política monetária. Nos últimos meses, os índices inflacionários mostraram uma convergência gradual à meta de 2%, ao passo que os números de emprego instalaram temores de que a economia estaria a caminho de uma recessão.

"O comitê ganhou maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a [meta de] 2% e julga que os riscos para alcançar metas de emprego e inflação estão aproximadamente equilibrados", disseram os diretores do Fed no comunicado da decisão.

Os dados de emprego mais fracos ainda levantaram dúvidas sobre se o BC havia demorado demais para reduzir as taxas. Após o anúncio, Powell negou que instituição tenha esperado muito tempo. "Não achamos que estamos atrasados. Mas essa mudança pode ser tomada como um sinal do nosso compromisso de não ficar para trás", disse.

Com o PCE de agosto em mãos, a autoridade terá um quadro mais claro da economia americana para as próximas decisões.

Na quinta-feira, o Departamento do Trabalho informou que o número de pedidos iniciais de auxílio-desemprego recuou para 218 mil na semana encerrada em 21 de setembro, abaixo da expectativa de 225 mil consultados pela Reuters.

"Números melhores de emprego significam que o Fed fará um corte de apenas 0,25 ponto percentual na próxima reunião... por um lado, não teremos um corte maior na taxa, mas, por outro, isso indica que a economia está forte, o que é uma boa notícia", disse Melissa Brown, diretora-gerente de pesquisa de decisão de investimento da SimCorp.

As apostas majoritárias são de um corte de 0,50 ponto no próximo encontro e reúnem 52,7% dos operadores, segundo a ferramenta CME Fed Watch. As 47,3% restantes miram na redução de 0,25 ponto.

O dólar costuma se depreciar à medida que os juros nos Estados Unidos caem, conforme o rendimento dos ativos ligados à renda fixa americana se depreciam. Isso leva operadores a investimentos de maior risco, como moedas emergentes e mercados acionários, pela possibilidade de rentabilidade maior.

Para o real, outro fator entra na conta: a Selic, a taxa básica de juros do país.

Também na quarta-feira passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) aumentou a Selic em 0,25 ponto, a 10,75% ao ano.

O colegiado optou por não dar indicações sobre os próximos passos da política monetária do país diante de um conjunto de incertezas no horizonte.

Na ata da reunião, o Copom disse considerar que o aumento das projeções de inflação de médio prazo tornou o cenário à frente mais desafiador e que o forte ritmo de crescimento da atividade econômica torna mais difícil o processo de convergência da inflação à meta.

O alvo perseguido pelo BC é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).

No cenário de referência do Copom, a projeção de inflação para o primeiro trimestre de 2026 situa-se em 3,5% (era de 3,4% em julho). Esse é o prazo trabalhado hoje pelo BC para a convergência do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de "carry trade" —isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.

Na quinta-feira, porém, a depreciação do dólar e a disparada da Bolsa estiveram mais centrados na China do que nas discussões sobre juros.

O Partido Comunista chinês prometeu "gastar o necessário" para que o país cumpra a promessa de terminar o ano com um PIB (Produto Interno Bruto) em 5%.

As falas, que incluíram orientações para sustentar o consumo das famílias e estabilizar o conturbado mercado imobiliário, foram feitas em uma leitura oficial da reunião mensal das principais autoridades do Partido Comunista, o Politburo.

A reunião de setembro não costuma ser um fórum para discussões macroeconômicas, o que sugere uma ansiedade crescente em relação à desaceleração do ritmo do PIB.

Na terça-feira, a China já havia anunciado o pacote de estímulo à economia mais agressivo desde o início da pandemia de Covid-19, em 2020. As medidas incluem cortes em algumas taxas de juros, uma injeção de liquidez de 1 trilhão de iuanes (US$ 140 bilhões) no sistema financeiro e outros impulsos.

A reação dos investidores ao anúncio foi positiva e fomentou a procura por ativos de risco, como os mercados acionários.

Para economias emergentes, em particular, o impulso também veio da valorização de commodities como o minério de ferro e cobre, diante da projeção de maior demanda da China.

"Um pacote de estímulos econômicos vultoso como o chinês tem melhorado as expectativas de investidores em relação ao desempenho econômico do país, o que ajuda a elevar as expectativas de demandas por commodities", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.


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