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Dólar desacelera queda e Bolsa despenca após choque de juros e leilões do BC

Por Folha de São Paulo

12/12/2024 12h00 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar e a Bolsa apresentam queda nesta quinta-feira (12), um dia depois do Copom (Comitê de Política Monetária) decidir sobre a taxa básica de juros do país, a Selic.

O comitê do BC (Banco Central) optou por um aumento agressivo de 1 ponto percentual, levando a taxa ao patamar de 12,25% ao ano. A decisão foi unânime. O movimento era esperado pelo mercado, ainda que parte dos agentes econômicos tenha apostado em um aperto menor, de 0,75 ponto.

Às 12h11, a moeda norte-americana caía 0,33%, cotada a R$ 5,950, desacelerando em relação à mínima de R$ 5,867 vista na abertura da sessão. Na quarta-feira, perdeu 1,27%, cotada a R$ 5,970 —a primeira vez que retornou ao patamar de R$ 5 desde 28 de novembro, quando as disparadas no câmbio tiveram início.

Já a Bolsa, no mesmo horário, desabava 2,02%, aos 126.970 pontos, com praticamente todas as empresas da carteira teórica do Ibovespa no negativo.

No comunicado, o colegiado do BC antecipou um choque de juros, prevendo mais dois aumentos de mesma intensidade nas próximas reuniões, de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano.

"Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, o comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude nas próximas duas reuniões", disse.

A decisão marca a despedida de Roberto Campos Neto do comando do colegiado do BC. A partir de janeiro de 2025, o posto será ocupado por Gabriel Galípolo –nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

"É um belo choque, um belo aperto monetário. O mercado vinha preocupado com a atuação do BC, temendo que ele pudesse ser mais contido. Mas ele atuou na conta-erro que foi deixada em aberto pela má atuação do governo na questão fiscal. O ajuste se dará pelos juros. Não fosse o caso, se daria no câmbio e na inflação, o que seria muito pior para a economia no longo prazo", avalia Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

O especialista ainda pontua que o movimento afasta incertezas em torno de Galípolo, que, para alguns agentes do mercado, poderia ser mais leniente em relação à inflação por causa da proximidade com o governo Lula, crítico à alta de juros. Antes de ser diretor do BC, Galípolo era número 2 do ministro Fernando Haddad na Fazenda.

"Galípolo contrata para si mais duas altas da mesma magnitude. Isso é super importante para ancorar as expectativas em torno da conduta dele."

Em resposta, as curvas de juros futuros passam por ajustes firmes nesta sessão. Destaque para a alta dos contratos de curto prazo, que acomodam agora perspectivas de mais apertos monetários nas próximas reuniões.

O DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 avançava para 14,59%, ante 14,27% do ajuste anterior. O de janeiro de 2027, um dos mais líquidos, previa a Selic em 14,67%; na véspera, era 14,49%.

O BC ainda fez duas novas intervenções no câmbio nesta manhã, com a realização de dois leilões de dólares com oferta total de US$ 4 bilhões. Segundo a assessoria de imprensa da autarquia, todo o montante foi vendido.

A modalidade é chamada de leilão de linha, quando o BC vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado. O leilão da "linha A", ocorrido entre 10h20 e 10h25, terá como data de recompra o dia 4 de fevereiro de 2025. Já o da "linha B", de 10h35 e 10h40, tem 2 de abril de 2025 como prazo.

Os movimentos do BC são positivos para o real. Quanto maior a Selic e menor a taxa dos Estados Unidos —em queda desde setembro—, mais atraente fica a moeda brasileira por conta do diferencial de juros.

Já os leilões do BC injetam mais dólares no mercado, o que, pela lei da oferta e demanda, tende a abaixar a cotação da moeda.

"Contudo, vale destacar que temos outros fatores em jogo, como a questão fiscal e agora a saúde do presidente [Lula] que podem trazer volatilidade aí para os ativos brasileiros", pondera Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank.

O presidente passou por um novo procedimento médico nesta quinta-feira para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro. O objetivo é impedir novos sangramentos como o que ele sofreu nesta semana.

"[A intervenção foi realizada] com sucesso", limitou-se a dizer o cardiologista Roberto Kalil, médico do petista. Segundo ele, o procedimento durou cerca de uma hora, Lula está acordado e conversando, e às 10h os médicos da equipe irão apresentar mais detalhes à imprensa.

Segundo analistas de mercado, o anúncio do procedimento levou o dólar a despencar na véspera.

A moeda norte-americana já estava em retração, cotada a R$ 6,014, com expectativas sobre o Copom. A notícia sobre Lula foi veiculada às 16h27, e a divisa imediatamente aprofundou a queda para 2%, atingindo a mínima de R$ 5,950, às 16h35.

Com isso, o real teve o melhor desempenho em relação às principais moedas do mundo nesta sessão.

A reação também apareceu na Bolsa, que subiu mais de 2% na esteira da notícia. Ao fim do pregão, o Ibovespa fechou em alta de 1,06%, aos 129.593 pontos.

"Não há outra explicação para este movimento, mesmo com [a reunião do] Copom. O mercado começa a especular que o pacote de corte de gastos pode ser aprovado com o Lula afastado. Se o Alckmin fica no lugar dele, fica mais fácil de liberar esse pacote. Além disso, se discute quanto tempo o vice ficaria na presidência", diz Vanei Nagem, sócio-diretor da Pronto Invest.

Banqueiros, estrategistas e gestores ainda afirmam que o rebuliço no mercado também se deve à expectativa de que o presidente Lula não terá condições de disputar a reeleição.

Dois banqueiros ouvidos não quiserem comentar abertamente por respeito à situação pessoal do presidente. Disseram, no entanto, que a fragilidade de Lula mobiliza o mercado já na expectativa de que ele não terá condições de sair em campanha, algo que abre espaço para um próximo governo.


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