Dólar e Bolsa caem com dados de inflação dos EUA e expectativa por Selic
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar e a Bolsa apresentam queda nesta quarta-feira (11), com investidores repercutindo novos dados de inflação dos Estados Unidos e à espera da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central.
Às 15h54, a moeda norte-americana caía 0,54%, cotada a R$ 6,014. Já o Ibovespa, índice de referência do mercado acionário brasileiro, perdia 0,43%, aos 127.664 pontos.
O foco do mercado nesta sessão é o CPI (índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) dos Estados Unidos -o último grande dado macroeconômico antes da reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) da semana que vem.
O indicador subiu 0,3% em novembro, depois de marcar 0,2% nas quatro leituras anteriores. Foi a maior alta mensal desde abril, quando também variou 0,3%. No acumulado de 12 meses, avançou 2,7%, ante 2,6% em outubro.
O resultado veio exatamente em linha com as expectativas de economistas consultados pela Reuters.
A base anual é a métrica usada para a meta de inflação do Fed, e, nos últimos meses, tem demonstrado resistência para chegar aos 2% almejados.
Mas as atenções do banco central norte-americano estão também voltadas ao mercado de trabalho. Embora o crescimento do emprego tenha acelerado em novembro, depois de ter sido afetado por greves e furacões em outubro, a taxa de desemprego subiu para 4,2%, depois de se manter em 4,1% por dois meses consecutivos.
Os dados consolidaram expectativas de que um corte de 0,25 ponto percentual ocorra na reunião do Fed da semana que vem, entre os dias 17 e 18 de dezembro. A probabilidade de uma redução nessa magnitude agora marca 95% na ferramenta FedWatch do CME Group, enquanto os 5% restantes apostam em uma manutenção do atual patamar de 4,50% e 4,75%.
No entanto, espera-se que menos cortes aconteçam no próximo ano, em meio a temores sobre as políticas econômicas prometidas pelo presidente eleito Donald Trump.
"O Fed seguirá preocupado com a natureza 'teimosa' da inflação e será cada vez mais cauteloso com os riscos de alta da inflação que as políticas do presidente eleito Trump podem trazer", diz Seema Shah, estrategista global da Principal Asset.
"Esperamos que o Fed saia do piloto automático em janeiro, adotando um tom mais cauteloso e diminuindo seu ritmo de cortes para as reuniões."
O dólar costuma se desvalorizar quando os juros caem nos EUA, porque os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano, os treasuries, ficam menos atraentes para os investidores.
Por aqui, a expectativa pela reunião do Copom é destaque. O comitê do BC anuncia a decisão sobre a taxa básica de juros do país, a Selic, ao final da sessão desta quarta, por volta das 18h30.
O mercado espera uma alta significativa na Selic entre 0,75 e 1 ponto percentual. "É inevitável um aumento da nossa taxa. A questão é saber o quanto", diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
A maioria das apostas (69%) aponta para o movimento de maior magnitude. Na reunião anterior do Copom, em novembro, a taxa foi elevada em 0,50 ponto, para os atuais 11,25% ao ano.
As previsões sobre o ritmo de aperto derivam da desancoragem de expectativas de inflação, que, na leitura divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na terça, veio acima do teto da meta trabalhada pelo BC.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), indicador oficial da inflação brasileira, desacelerou a 0,39% em novembro, mas teve avanço de 4,87% no acumulado de 12 meses, ante 4,76% em outubro.
A meta é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Com o teto de 4,5% ultrapassado, espera-se que o BC seja mais contundente no aperto da Selic -o principal instrumento da autarquia para controlar a inflação.
"Esse dado do IPCA e a sua composição particularmente ruim devem reforçar as expectativas de que o Copom vai adotar uma postura mais rígida na decisão", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
Também segue no radar a tramitação das medidas de contenção de gastos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, com o Executivo empenhado em aprová-las ainda neste ano.
O governo publicou na terça uma portaria detalhando procedimentos e prazos para a liberação de emendas parlamentares, instrumento no centro do mal-estar entre o Executivo e o Legislativo.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que vai trabalhar por um consenso para que as medidas do pacote fiscal possam ser votadas ainda nesta semana.
Mas, mesmo com a portaria que libera o pagamento de emendas, lideranças parlamentares ouvidas pela Folha admitem que a chance de votação do pacote diminuiu diante da avaliação de que há temas espinhosos entre as medidas que demandam mais tempo de discussão. Entre os descontentes, a própria bancada do PT.
O ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi alertado, em reunião na segunda à noite, sobre as dificuldades para aprovação do pacote de gastos no Senado até o fim do ano.
Durante a conversa com Haddad, senadores também afirmaram que a votação do pacote fiscal na semana que vem, junto com a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e o Orçamento de 2025, parece humanamente impossível.
Com apenas oito dias úteis até o início das férias de fim de ano do Congresso, a prioridade máxima dos parlamentares e do governo é votar a LDO para evitar a paralisação da máquina administrativa, o chamado shutdown.
A segunda prioridade elencada pelos parlamentares é a votação do primeiro projeto de lei que regulamenta a proposta de reforma tributária.
"Acho muita coisa para ser votada. Quem pauta é o presidente, não sou eu, vai ter que escolher alguma coisa [para ficar para 2025].", disse o líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA).
Deputados e senadores também veem com desconfiança a promessa do governo de liberar as emendas até o fim do ano. Mesmo com as portarias que devem facilitar o repasse do dinheiro, a avaliação predominante é de que não há mais tempo hábil para pagar, de fato, o que já foi indicado.
O clima é de ver para crer. Há receio, porém, de que a não votação do pacote possa gerar mais caos e alta do dólar.
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