Dólar fecha estável, com juros do Fed e cortes de gastos no Brasil em foco; Bolsa cai
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou sem alterações nesta quinta-feira (7) e se manteve cotado a R$ 5,675, em meio à repercussão da decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e à expectativa pelo pacote de corte de gastos do governo.
A alta da taxa Selic pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos seguiram de pano de fundo.
A moeda teve um dia de alta volatilidade e chegou a atingir R$ 5,722 na máxima do dia; na mínima, chegou a R$ 5,633.
Já a Bolsa caiu 0,37%, aos 129.849 pontos, segundo dados preliminares, apesar da disparada de 3% dos papéis da Vale.
O banco central americano cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a à faixa de 4,5% e 4,75% ao ano. A decisão veio em linha com as expectativas do mercado e marca uma desaceleração do ritmo de afrouxamento monetário: no encontro passado, o Fed optou por uma redução de 0,50 ponto, após quatro anos sem cortar a taxa.
"A atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido", disse o comitê, acrescentando que o mercado de trabalho "se flexibilizou" e que a inflação continua se aproximando da meta de 2%.
O presidente do Fed, Jerome Powell, disse que, por enquanto, a vitória de Donald Trump não terá efeito sobre as decisões de política monetária da autarquia no curto prazo.
"Não adivinhamos, não especulamos e não presumimos" quais serão as futuras escolhas políticas do governo, disse ele, em entrevista coletiva após a decisão.
Caso cumpra suas promessas de campanha, o republicano fará um novo mandato visto como protecionista. No comércio exterior, a promessa é aumentar tarifas entre 10% e 20% sobre praticamente todas as importações dos EUA, incluindo as que vêm de países aliados, e em pelo menos 60% sobre as da China.
As tarifas inibem o comércio global, reduzem o crescimento dos exportadores e pesam sobre as finanças públicas de todas as partes envolvidas. É provável que elas aumentem a inflação nos Estados Unidos, forçando o Fed a agir com juros altos por mais tempo -o que fortalece o dólar.
A decisão do banco central americano foi adiada em um dia por causa das eleições americanas. Normalmente, ela ocorre às quartas-feiras, mesmo dia da reunião do Copom.
O comitê brasileiro optou por aumentar a taxa básica de juros do país, a Selic, em 0,50 ponto percentual, a 11,25% ao ano. O movimento veio em linha com o esperado pelo mercado.
Para analistas consultados pela reportagem, a decisão é reflexo de incertezas em relação à inflação, à política fiscal e ao cenário externo, que, no futuro, podem levar a um ciclo de altas ainda mais forte caso não sejam propriamente endereçados no curto e no médio prazo.
"Podemos interpretar que o ciclo está mais na mão do Ministério da Fazenda com o corte de gastos públicos do que propriamente do BC, e, também olhando para um âmbito mais internacional, do ciclo de corte de juros do Fed", disse Matheus Spiess, analista da Empiricus.
O mercado aguarda as medidas de contenção de gastos do governo federal, prometidas em meados de outubro. O pacote visa dar mais sustentabilidade e longevidade ao arcabouço fiscal -e atende a temores de investidores quanto ao desequilíbrio entre despesas e arrecadações do país, que tem pressionado a dívida pública.
Nesta tarde, rumores de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria avaliando duas propostas de cortes -uma de R$ 10 bilhões e outra de R$ 15 bilhões- fizeram o dólar acelerar alta. Analistas esperam um corte de, no mínimo, R$ 40 bilhões nos gastos públicos
O Ministério da Fazenda emitiu uma nota informando que os rumores não procedem. A expectativa é que o pacote seja divulgado ainda nesta semana, embora já se fale em um adiamento para segunda-feira (11), já que o titular da pasta, Fernando Haddad, viaja a São Paulo no início da noite desta quinta.
Lula, o ministro Rui Costa (Casa Civil) e a equipe econômica do governo -formada por Haddad e pelas ministras Simone Tebet (Planejamento e Orçamento) e Esther Dweck (Gestão e Inovação)- se reuniram nos últimos dias com ministros cujas pastas poderão ser afetadas pelo pacote de gastos.
Foram eles: Carlos Lupi (Previdência Social), Wellington Dias (Desenvolvimento Social), Luiz Marinho (Trabalho e Emprego), Nísia Trindade (Saúde) e Camilo Santana (Educação).
"Acredito que o governo irá demorar um pouco mais para anunciar o pacote, até porque é preciso que ele tenha um efeito significativo no mercado. Talvez por isso ainda não saibamos a magnitude dos cortes", diz Thiago Avallone, da Manchester Investimentos.
De acordo com Haddad, Lula terá uma conversa com os líderes das duas Casas do Congresso -Arthur Lira, da Câmara dos Deputados, e Rodrigo Pacheco, do Senado- para discutir o envio do pacote para análise dos parlamentares.
A eleição de Trump adiciona ainda mais atenção à cena fiscal brasileira. A leitura de investidores é de que, com o republicano na Casa Branca, o mundo entrará em um período de dólar e juros mais altos, restando ao Brasil fazer o "dever de casa" nas contas públicas para reduzir a pressão.
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