Dólar oscila em sessão volátil, com leilão e decisões de juros do Fed e do BC em foco
ouça este conteúdo
|
readme
|
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar oscila entre os sinais nesta quarta-feira (29), dia de grande expectativa no mercado com o anúncio das decisões de juros no Brasil e Estados Unidos.
![Bastidores da Política - Wilson Lima: Amor revelado, paixão mantida em segredo Bastidores da Política - Wilson Lima: Amor revelado, paixão mantida em segredo](https://www.portaldoholanda.com.br/sites/all/themes/v5/banners/1colunista-portaldoholanda-holanda.png)
Wilson Lima: Amor revelado, paixão mantida em segredo
A sessão, além disso, contou com um leilão de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) do BC (Banco Central), no qual foram vendidos US$ 2 bilhões entre 10h20 e 10h25. O objetivo era rolar linhas que irão vencer em 4 de fevereiro.
A moeda norte-americana, até então em queda, virou para alta depois da intervenção do BC, marcando R$ 5,888 na máxima do dia. No início da tarde, trocou de tendência novamente e, depois, passou a rondar a estabilidade.
Às 14h22, tinha alta marginal de 0,02%, cotada a R$ 5,869. Já a Bolsa caía 0,10%, 123.923 pontos.
O BC vendeu toda a oferta de US$ 2 bilhões nesta manhã, no que foi a segunda intervenção cambial da gestão do novo presidente da autarquia, Gabriel Galípolo. Foram aceitas quatro propostas, a uma taxa de corte de 5,401%.
A operação, anunciada na véspera, buscava rolar outro leilão de linha realizado em 12 de dezembro, quando foram vendidos US$ 2 bilhões ao mercado com compromisso de recompra em 4 de fevereiro deste ano.
Ao realizar o leilão desta quarta, o BC garante liquidez ao mercado e evita que a demanda adicional por dólares possa estressar as cotações da moeda norte-americana ante o real.
O dia é particularmente delicado para o câmbio por guardar as divulgações de juros do Brasil e dos Estados Unidos data conhecida como "super quarta" entre os investidores.
A decisão do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) sairá às 16h; a do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, às 18h, após o fechamento dos mercados.
Há um consenso entre os operadores sobre quais serão os anúncios das autoridades monetárias.
Da ponta norte-americana, a aposta majoritária é pela manutenção da taxa na banda atual de 4,25% e 4,5% a primeira interrupção nos cortes desde que o ciclo de afrouxamento teve início, em setembro do ano passado.
A manutenção marca 99,5% de probabilidade na ferramenta CME Fed Watch. A grande expectativa está no comunicado que irá suceder a decisão e na entrevista coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell.
Os operadores buscarão indícios sobre a trajetória dos juros dos EUA e se os membros do Fed já estão pesando possíveis impactos da política econômica do presidente Donald Trump na condução da política monetária.
"A linguagem do BC americano nos últimos anos tem sido bastante genérica e abrangente, tentando deixar todas as opções sobre a mesa. Powell não deve dar muitas pistas", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
"Ele deve falar que, no momento, diante dos dados econômicos mais aquecidos, vale a pena pausar um pouco o ciclo de corte de juros, reavaliar as condições do país e, quando houver indícios mais concretos de que a estabilização de preços continua progredindo, retomar os cortes, sem definir exatamente quando."
No encontro de dezembro, o Fed diminuiu a projeção de cortes de juros neste ano para apenas duas reduções, ante quatro na previsão de setembro, sinalizando uma abordagem cautelosa em meio a um mercado de trabalho resiliente e uma inflação persistente.
A redução nas projeções também vem acompanhada dos temores do mercado sobre a política econômica de Donald Trump. Desde a campanha eleitoral, o republicano tem prometido elevar as tarifas de importação para produtos vindos da China, Canadá, União Europeia, México, entre outros.
Segundo especialistas em comércio, a imposição de tarifas mais altas afetaria os fluxos comerciais, aumentaria custos e provocaria retaliações.
O principal temor, no entanto, é sobre o efeito na economia doméstica dos EUA. As tarifas sobre outros países têm potencial inflacionário, o que pode comprometer a briga do Fed contra a inflação e forçar a manutenção da taxa de juros em patamares elevados. E, quanto mais altos os juros por lá, melhor para o dólar, que se torna mais atraente conforme os rendimentos dos títulos ligados ao Tesouro norte-americano crescem.
Nenhuma ordem foi assinada por enquanto. A leitura é que a política tarifária tem sido menos agressiva do que se esperava para os primeiros dias de governo, e o mercado pondera se as ameaças são bravatas políticas ou de fato planos concretos do presidente. Até agora, Trump apenas orientou que as agências federais investiguem os déficits comerciais dos EUA e práticas comerciais "injustas" de países parceiros.
Ele também ameaçou impor tarifas de 25% em produtos colombianos, depois de um impasse com o presidente Gustavo Petro sobre a deportação de imigrantes indocumentados.
"O Fed deve adotar uma linguagem mais ampla para falar sobre as políticas de Trump. Talvez tente sinalizar que já está se preparando de alguma forma para os potenciais impactos de algumas medidas, mas que, enquanto não houver aplicação efetiva, não deve incorporar isso nas decisões de política monetária", diz Mattos, da StoneX.
Já na ponta brasileira, a expectativa é que o Copom suba a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano. O próprio colegiado avisou, no comunicado da reunião de dezembro, que elevará a taxa em 2 p.p. no total, parcelados agora em janeiro e em março.
"Não teremos grandes ruídos neste Copom. Está praticamente precificado o aumento de um ponto", afirmou João Ferreira, sócio da One Investimentos. "A perspectiva de um novo aumento de um ponto em março, como sinalizou o BC, também está mantida. Mas será que vai continuar depois disso?"
O objetivo da elevação é segurar a inflação. No último boletim Focus, analistas ouvidos pelo BC esperam que IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) termine o ano em 5,50%.
O centro da meta para a inflação é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
A piora nas projeções reflete a desconfiança dos economistas com o compromisso do governo Lula com o equilíbrio das contas públicas e a sustentabilidade do arcabouço fiscal. Em novembro, o Copom reforçou o alerta sobre risco fiscal e disse que uma piora adicional das expectativas de inflação poderia prolongar o ciclo de alta de juros.
"Copom precisará ser muito preciso no comunicado. Uma postura mais conservadora, ou a expectativa para isso, fortaleceria o real", diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, indicando que o aumento do diferencial de juros entre EUA e Brasil torna a moeda brasileira mais atrativa.
![](/sites/all/themes/v5/beta-2020/leitor/assets/img/coluna/loogo.jpg)
ASSUNTOS: Economia