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Dólar sobe e Bolsa cai, com fraqueza de commodities afetando o mercado local

Por Folha de São Paulo

23/07/2024 14h15 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar tinha alta nesta terça-feira (23), em linha com o movimento no exterior ante uma série de moedas de mercados emergentes, em especial as mais afetadas por commodities.

Por volta das 13h39, a divisa norte-americana avançava 0,29%, cotada a R$ 5,585 na venda. Já a Bolsa caía 0,76%, aos 126.886 pontos, também pressionada pela queda de papéis sensíveis a commodities, como mineradoras e siderúrgicas.

Os investidores, além disso, tinham no radar a cena fiscal brasileira, os desdobramentos da desistência de Joe Biden da corrida pela reeleição nos Estados Unidos e a temporada de balanços corporativos do segundo trimestre, iniciada na segunda-feira.

O minério de ferro e o petróleo dominavam as atenções nesta terça. Na Bolsa de Dalian, na China, a matéria-prima para a siderurgia caiu 3,43% com a perspectiva de demanda global fraca diante do enfraquecimento da economia chinesa.

Os preços futuros do petróleo tipo Brent, por sua vez, tinham queda de 1,80% no exterior.

Ambos os ativos têm grande influência sobre o mercado local —e estão no cerne das operações das duas maiores empresas do Ibovespa: Vale e Petrobras, que tinham perdas de 1,38% e 0,87% no pregão, respectivamente.

Para Andre Fernandes, chefe de renda variável e sócio da A7 Capital, os investidores ainda refletiam sobre o Relatório Bimestral de Despesas e Receitas, que trouxe detalhes sobre o contigenciamento de R$ 15 bilhões no Orçamento anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) na semana passada.

De acordo com o documento divulgado ontem à tarde, R$ 11,2 bilhões serão bloqueados para compensar o crescimento das despesas obrigatórias, que incluem a Previdência e o BPC (Benefício de Prestação Continuada). Na avaliação do próprio governo, é pouco provável que essas despesas recuem até o fim do ano, o que torna baixa a probabilidade de reversão do bloqueio.

Outros R$ 3,8 bilhões serão contingenciados devido à frustração na estimativa de receitas. Neste caso, o gasto é contido para permitir o cumprimento da meta fiscal, cujo alvo central é um déficit zero, mas permite um resultado negativo de até 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto).

A projeção do governo é que, com o contingenciamento, o resultado ficará exatamente no limite permitido pela margem de tolerância, que é um déficit de R$ 28,8 bilhões. No segundo bimestre, a previsão era um desempenho menos negativo, de R$ 14,5 bilhões.

"Apesar do déficit projetado se encontrar na banda inferior da meta de déficit zero para 2024, o mercado coloca no preço que o governo está subestimando o aumento das despesas obrigatórias e mesmo um déficit de 0,25% do PIB em 2024 pode correr perigo de não ser atingido. E o número pode ser pior caso o governo não apresente cortes de gastos efetivos para bater a meta", avalia Fernandes.

Ele acrescenta que o Congresso Nacional, por meio do presidente da Câmara, Arthur Lira, "já se posicionou contra o discurso de mais arrecadação", impondo a Haddad a tarefa de cortar gastos para melhorar as contas públicas.

"Isso vem sendo refletido também nos preços e causando mais estresse no mercado, visto que qualquer pauta para tentar arrecadar mais pode ser barrada no Congresso, causando escassez nas opções do governo para ajustar o cenário fiscal no Brasil."

Na segunda, Lula disse que o governo congelará despesas sempre que necessário e afirmou que traz a questão da responsabilidade fiscal nas "entranhas".

Na cena corporativa, além da Vale, outras mineradoras e siderúrgicas caíam em bloco no pregão, puxadas pelo tombo do minério de ferro na China. Gerdau liderava perdas, a 4,29%, seguida por CSN (3,94%) e Usiminas (2,22%).

O impacto da queda do barril de petróleo tipo Brent também ia além da Petrobras: Braskem perdia 2,72%, seguida por 3R Petroleum, com 2,17%.

Fora das commodities, o balanço do Carrefour no segundo trimestre deste ano estava entre os destaques do noticiário. A varejista registrou lucro líquido ajustado de R$ 151 milhões no segundo trimestre, acima dos R$ 29 milhões apurados no mesmo período do ano passado.

No entanto, as ações perdiam 2,99%, em movimento de realização de lucros após registrarem alta de 4% na véspera.

Já a Sabesp, que teve seu processo de privatização concluído nesta terça, operava em estabilidade, após dias de altas consecutivas.

Liderando a ponta positiva, Embraer avançava 6,68%, em recuperação após tombo de 7% na véspera. Investidores seguiam atentos à feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, nesta semana, na expectativa de novidades envolvendo a fabricante brasileira de aeronaves.

No exterior, a agenda esvaziada desta terça levava as atenções dos investidores aos balanços corporativos das empresas Alphabet, controladora do Google, e da Tesla, além de novos dados econômicos esperados para a semana.

O PIB dos Estados Unidos e o PCE, indicador preferido de inflação do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano), serão conhecidos na quinta e na sexta-feira. A partir deles, o mercado reajustará as expectativas para quando o ciclo de afrouxamento monetário dos EUA poderá começar, com a maior parte das apostas mirando o mês de setembro.

Os últimos acontecimentos das eleições dos Estados Unidos também seguiam no pano de fundo. Biden anunciou, no domingo, que não será mais candidato à reeleição e endossou a candidatura de Kamala Harris, sua vice-presidente.

Ele não resistiu à intensa pressão interna do Partido Democrata pela sua saída, que começou após o desastroso desempenho no debate realizado no fim de junho e não arrefeceu mesmo depois de várias tentativas do presidente de assegurar apoiadores e eleitores de que tinha condições de derrotar Donald Trump.

A perspectiva de um novo mandato de Trump na presidência dos EUA havia afetado o apetite por risco em mercados emergentes. Temores de uma política comercial restritiva e uma política externa isolacionista geraram pressão em uma série de moedas, incluindo o real, à medida que se elevava os rendimentos dos títulos do Tesouro norte-americano, os Treasuries.

"A decisão de Biden mexe com os mercados porque a chance de Trump ganhar diminui, então isso 'enfraquece' a chance da política ficar mais protecionista, o que enfraquece o dólar", afirma Hemelin Mendonça, educadora financeira e sócia da AVG Capital.

Na segunda-feira, após a desistência de Biden, o dólar caiu 0,64%, cotado a R$ 5,569, e a Bolsa subiu 0,19%, aos 127.859 pontos.


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