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Economistas preveem aceleração nos juros, e aposta em alta de 0,75 ponto percentual ganha força

Por Folha de São Paulo

03/12/2024 15h00 — em
Economia



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A frustração com o pacote de contenção de despesas apresentado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), a alta do dólar, que superou a marca nominal de R$ 6 pela primeira vez na história, e a força da atividade econômica devem levar o Banco Central a acelerar novamente o ritmo de alta de juros.

Para o último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) do ano, nas próximas terça (10) e quarta-feira (11), os economistas já projetam um aumento da taxa básica (Selic) de 0,75 ponto percentual. Como cenário alternativo, existem até apostas de que o BC terá de elevar os juros em 1 ponto na semana que vem.

A preocupação com a questão fiscal estava no radar antes mesmo do anúncio do pacote, na última quinta (28), devido à possibilidade de desidratação das medidas ao longo das negociações e à demora do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na decisão.

A divulgação do plano do governo para as contas públicas foi insuficiente para os economistas melhorarem suas perspectivas para a economia nacional e colocou pressão adicional sobre a atuação da autoridade monetária na condução dos juros.

Leonardo Costa, economista da ASA, ressalta como impacto negativo a deterioração das expectativas de inflação para prazos mais longos. No último boletim Focus, divulgado na segunda-feira (2), houve um salto na estimativa para inflação para 2026 de 3,78% para 3,81% -projeção cada vez mais distante do alvo central de 3% a ser perseguido pelo BC.

Ele considera também que a desvalorização do câmbio caminha para se tornar uma fonte de pressão inflacionária, com a materialização de aumento de preços aos consumidores.

"Você tem uma espiral bastante negativa do ponto de vista de inflação quando se tem uma percepção de um fiscal que não está parando de pé. Esse é o principal fator de piora que a gente teve desde a última reunião em novembro", afirma.

Ele espera que o BC adote um tom um pouco mais duro no comunicado, refletindo essa preocupação maior com a questão fiscal. No último encontro, o Copom disse que estava acompanhando "com atenção" os desdobramentos sobre juros e câmbio e defendeu a "apresentação e execução" de medidas estruturais para o orçamento.

O economista não descarta a possibilidade de o colegiado optar por um aumento de juros ainda mais agressivo, de 1 ponto percentual, em uma tentativa de sinalizar ao mercado financeiro maior comprometimento com a meta de inflação perseguida. "Tem até ganhos de credibilidade de fazer isso", diz.

Para Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC e consultor da A.C. Pastore, a elevação da Selic em 1 ponto percentual "não é uma probabilidade nula", mas há maior chance de o Copom aumentar a taxa básica em 0,75 ponto percentual e repetir a dose na primeira reunião do próximo ano, no fim de janeiro, com um movimento de mesma intensidade.

"A gente vê uma necessidade de compensar do lado monetário aquilo que não está sendo feito do lado fiscal", diz.

O economista avalia que o pacote fiscal foi mais "tímido" do que o esperado pelo mercado, sem alteração nas regras do seguro-desemprego e sem mudanças nos cálculos dos pisos de saúde e educação, que hoje crescem de forma mais acelerada do que o restante.

"Esse pacote não tem condição de conter a evolução do endividamento do governo" diz ele, que calcula que seria necessário reduzir gastos ou aumentar receitas em torno de R$ 300 bilhões para colocar a dívida pública em trajetória de estabilidade.

Da economia de R$ 327 bilhões prometida pelo governo, R$ 72 bilhões viriam entre 2025 e 2026, enquanto os outros R$ 255 bilhões seriam poupados entre 2027 e 2030. A dívida bruta fechou outubro em 78,6% do PIB (Produto Interno Bruto) e exibe uma alta acumulada de 4,2 pontos percentuais desde o início do ano.

Um dos principais pontos de atenção, segundo Schwartsman, é o comportamento do câmbio. Se o dólar fechar a semana cotado na casa dos R$ 6, isso representa uma depreciação de cerca de 5% desde o encontro do Copom de novembro, quando a cotação usada pelo colegiado foi de R$ 5,75.

Nos cálculos do economista, a projeção de inflação do próprio BC subiria entre 0,4 e 0,5 ponto percentual devido à alta da moeda americana.

No cenário de referência do Copom, em novembro, a projeção de inflação para este ano era de 4,6% -acima do teto- e de 3,9% para 2025. A estimativa para o 2º trimestre de 2026 -período em que o BC se propõe a cumprir a meta- situava-se em 3,6%.

A piora acumulada do câmbio também é apontada Rafaela Vitória, economista-chefe do banco Inter, como fator determinante para que o Copom acelere o ritmo de alta da Selic na semana que vem, com um aumento de 0,75 ponto percentual.

Ela aponta que houve frustração com o pacote de contenção de despesas anunciado pelo governo Lula, com uma magnitude insuficiente para ajudar a levar a inflação de volta à meta, tornando o trabalho do BC mais difícil.

"O governo podia aproveitar esse momento mais aquecido e forte da economia para fazer pente-fino e ajustes de regras dos programas sociais. Seria muito bem-vindo. A gente fala de políticas econômicas anticíclicas, revisar gastos para baixo em um momento em que a economia cresce, seria muito positivo para a inflação", diz.

Na visão dela, contudo, um choque muito agressivo de juros no próximo encontro seria contraproducente e passaria a sinalização de menos confiança na própria política monetária.

"No atual patamar de câmbio, não é necessário uma aceleração maior [do que 0,75 ponto percentual]. O Banco Central passa uma mensagem melhor de confiança dizendo que vai gradualmente subir a Selic do que dar choques mais fortes", afirma.

[Uma alta de] 0,75 ponto já é bem significativa, temos um juro real por volta de 7%, 8%, acelerar ainda mais esse pace [ritmo] hoje seria contraproducente", complementa.

À frente, ela espera novas altas nos encontros de janeiro e março, com a Selic estacionando em 13% ao ano e sendo mantida nesse patamar até o fim de 2025, já na gestão de Gabriel Galípolo como presidente do BC.

"O risco de uma nova expansão fiscal em 2026 vai continuar no radar e vai manter a taxa de juros mais alta por mais tempo", diz. "Corte só em 2026 e se a inflação voltar a convergir para o centro da meta."


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