Eliezer e Eike têm uma história de admiração e conflitos
RIO - Eliezer Batista teve sete filhos, mas nenhum teve uma relação tão delicada com ele como Eike. Na infância, o menino de olhos azuis era muito próximo à mãe, Jutta Fuhrken. O patriarca da família tinha pouco tempo para a prole. Executivo ilustre e respeitado, estava sempre envolvido em reuniões e viagens.
Trecho do livro da jornalista Malu Gaspar, “Eike Batista, tudo ou nada”, relembra como o suíço Felix Chillé, que fora secretário de Eliezer nos tempos em que a família morava na Europa, acompanhava as crianças. Era ele quem levava Eike para a natação e quem o ensinou a andar de bicicleta. Não por acaso, Eike o considera um segundo pai.

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Mas o ressentimento pela ausência de Eliezer nos seus primeiros anos de vida não impediu Eike de admirá-lo. O menino cresceu ouvindo o discurso da mãe de que ele e os irmãos deveriam ser melhores que o pai. Ao longo da vida, Eike seguiria à risca o desafio proposto pela mãe, buscando ser mais realizador e mais genial.
Apontado por muitos como visionário e estrategista, Eliezer é tido como responsável pela trasformação da Vale — da qual foi presidente duas vezes — numa gigante mundial da mineração. Entendeu que ter minas, mesmo com o minério de ferro de maior qualidade do mundo como o de Carajás, no Pará, não seria suficiente para competir com as mineradoras rivais.
Implementou o modelo de mina-ferrovia-porto, que asseguraria o escoamento da produção até o mercado asiático em preços capazes de derrubar os concorrentes. Nas empresas que integravam o império “X”, Eike buscava reproduzir esse conceito, a que ele batizou de “visão 360 graus”.
Embora o conglomerado tenha degringolado e Eike tenha sido acusado de pagar propina a políticos — chegou, inclusive, a ser preso —, alguns dos ativos idealizados pelo empresário se mantêm de pé e têm obtido sucesso nas mãos de novos donos. Caso do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense.
Quando jovem, Eike levou alguns puxões de orelha do pai. Um deles ocorreu em meados de 1978, quando passava férias no Brasil — o jovem morava na Alemanha nessa época e estava matriculado em uma faculdade. Eike contou a Eliezer que decidira abandonar o curso e que queria abrir uma empresa de comércio exterior.
Mesmo contrariado e irritado, “papi”, como Eike o chamava, aceitou a decisão do filho. E não lhe negou ajuda quando Eike pediu. No início dos anos 80, a empresa que Eike tinha montado com mais dois sócios para explorar áreas da Região Amazônica, a Companhia de Mineração e Participações, não ia bem.
O dinheiro investido estava prestes a acabar e o trio de jovens empresários precisava de uma solução financeira rápida. Segundo relato de Malu Gaspar, Eliezer valeu-se de seus contatos no Japão para ajudar o filho. Convenceu um importante empresáro japonês, John Aoki, a investir no negócio, que acabaria fracassando mais tarde.
Nos tempos mais recentes, quando o império “X” estava no auge, Eliezer também sempre esteve presente. Era conselheiro em empresas do grupo e chegou a acompanhar o filho em alguns eventos públicos. O império de Eike ruiu, mas ele conseguiu a proeza de ser tão ou mais famoso que o pai.

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