EUA anunciam tarifa adicional de 50% em retaliação à China, e sobretaxa chega a 104%
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WASHINGTON, EUA, PEQUIM, CHINA E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Casa Branca confirmou sua promessa de retaliar a China e anunciou nesta terça-feira (8) uma nova tarifa de 50% em cima das taxas já impostas anteriormente ao país asiático. Com isso, os produtos chineses podem receber uma tarifa de até 104% para entrarem nos EUA.

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Karoline Leavitt, porta-voz do presidente Donald Trump, afirmou que a sobretaxa entra em vigor a partir da 0h01 (1h01 em Brasília) desta quarta-feira (9), mas o republicano acredita que Pequim quer fazer um acordo. Segundo ela, "se a China se manifestar, ele [Trump] será cordial, mas vai fazer o que for melhor ao povo americano".
O prazo para o novo imposto entrar em vigor vale para todos os países atingidos com sobretaxas mais elevadas no anúncio do "tarifaço" da semana passada.
"Foi um erro a China retaliar. Quando a América é atingida, os EUA revidam com mais força. É por isso que teremos as tarifas de 104% entrando em vigor ainda nesta noite", disse.
Questionada sobre o que seria necessário para um acordo com a China, Leavitt disse que seria "imprudente" de sua parte dizer em que condições a negociação poderia ocorrer.
Nesta terça, ao assinar um decreto que incentiva o uso de carvão mineral, Trump afirmou que suas tarifas foram "um tanto explosivas", mas disse que o governo está arrecadando US$ 2 bilhões por dia com a medida, com "dinheiro está entrando em um nível que nunca vimos antes."
O presidente formalizou a ameaça em adendo ao decreto da semana passada. No documento compartilhado pela Casa Branca, Trump determina que a nova taxa ser aplicada à China seja de 84%, que se somarão aos 20% impostos anteriormente.
À noite, em evento com republicanos, a poucas horas do prazo para as tarifas entrarem em vigor, Trump repetiu que muitos países estão buscando acordos e comentou a sobretaxa imposta aos chineses. "Agora, a China está pagando uma tarifa de 104%. Pense nisso: 104%. Parece ridículo, mas eles nos cobraram por muitos itens 100%, 125%. Muitos países fizeram isso. Eles nos exploraram de todas as formas, mas agora é a nossa vez de explorar."
O presidente americano ainda disse que negociadores japoneses estariam em voo para os EUA e chegou a chamar de "guerra" suas medidas contra outros países, depois tentou contemporizar: "Eu realmente acho que a guerra com o mundo...que não é uma guerra de fato, porque todos estão vindo para cá [negociar]. O Japão está vindo para cá enquanto falamos", disse Trump.
Na semana passada, Trump anunciou que os produtos chineses seriam atingidos com uma tarifa de 34% a partir desta quarta. Antes, em fevereiro, o republicano já havia imposto 20% de imposto à China, elevando o total para 54%. Assim, a taxa total sobre Pequim mais do que dobraria o valor dos importados no mercado americano.
Em resposta ao primeiro anúncio de sobretaxa feito por Trump na semana passada, o governo chinês havia anunciado uma retaliação, válida a partir de quinta-feira (10), de 34% sobre as importações americanas. Na madrugada desta terça, Pequim informou que "lutaria até o fim" diante do que chamou de chantagens tarifárias de Trump.
O Ministério do Comércio, em nota atribuída ao seu porta-voz, disse que "os EUA ameaçam escalar as tarifas contra a China, o que é um erro em cima de outro e mais uma vez expõe a natureza chantagista do lado dos EUA, o que a China nunca irá aceitar".
"Se o lado americano insistir em ir por esse seu caminho, a China irá acompanhá-lo até o fim", afirmou o comunicado. Se a nova escalada de Trump for implementada, Pequim tomará novas "contramedidas para proteger seus direitos e interesses".
O ministério ainda repetiu que "as chamadas 'tarifas recíprocas' impostas pelos EUA à China não têm base e são um bullying unilateral", enquanto "as contramedidas que a China adotou são inteiramente legítimas, de modo a salvaguardar sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento e a manter a ordem comercial internacional".
Com o acirramento da guerra comercial, o dólar disparou 1,43% e voltou a ser negociado a R$ 6 pela primeira vez desde o começo do ano. A cotação de R$ 5,996 marca a alta de quase R$ 0,40 em apenas quatro dias de negociação. No último 3 de abril, a moeda havia fechado em R$ 5,629, menor valor de 2025.
O movimento fez o dólar reverter as perdas do início da sessão, quando chegou a marcar a cotação de R$ 5,861 na mínima. Na Bolsa, o efeito foi parecido: antes em forte alta de mais de 1%, o Ibovespa despencou 1,31% no final da sessão, a 123.931 pontos.
Em Wall Street, os índices acionários -que marcaram mais de 3% de alta antes da confirmação da Casa Branca- derreteram mais uma vez. O S&P500 perdeu 1,57%, o Nasdaq Composite, 2,15%, e o Dow Jones, 0,84%.
Antes de confirmar a retaliação aos chineses, Trump disse em um post na Truth Social, sua rede social, que a China gostaria de negociar as tarifas, embora não tenha sido o tom adotado por Pequim.
"A China também quer fazer um acordo, com urgência, mas eles não sabem como começar. Estamos aguardando a ligação deles. Vai acontecer!", afirmou Trump em um post em sua rede social, a Truth Social.
O republicano também afirmou que teve "uma ótima ligação" com o presidente interino da Coreia do Sul, Han Duck-soo. "Temos os limites e a probabilidade de um grande ACORDO para ambos os países. A equipe deles está a bordo de um avião a caminho dos EUA, e as coisas estão indo bem", afirmou.
Os comentários do presidente americano ocorrem enquanto seus aliados reforçam a ideia de que muitos países estão buscando Trump para negociações. Segundo a Casa Branca, mais de 70 nações buscaram o governo para negociar.
O sinal do republicano de que estaria disposto a buscar acordos melhorou um pouco o ânimo dos mercados globais, depois de dias de forte volatilidade e perdas provocados pela incerteza se Washington seguiria uma postura intransigente.
Junto com a postura dos mercados, bilionários, inclusive o próprio Elon Musk, aliado de primeira hora de Trump, são críticos à imposição de tarifas. Nesta terça, Musk reagiu a uma entrevista dada por Peter Navarro, principal conselheiro de Trump para comércio externo, e afirmou que ele é um "idiota".
Navarro afirmou à CNBC que Musk "não é um fabricante de carros", mas sim um "montador de carros" que obtém peças baratas para os veículos da Tesla do exterior.
No X, Musk reagiu à entrevista dizendo que Navarro é "mais burro que um saco de tijolos" e que a alegação dele é falsa.
O ataque público ocorre enquanto a Tesla enfrenta uma série de protestos pelo país e no mundo e enquanto o bilionário tenta convencer Trump a recuar nas tarifas, segundo reportagem do The Washington Post.

ASSUNTOS: Economia