Fed mantém taxa de juros inalterada nos EUA apesar de pressão de Trump
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PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) - O Fed (Federal Reserve) decidiu manter a taxa de juros dos Estados Unidos na faixa de 4,25% a 4,50% na primeira reunião da instituição em 2025. A decisão unânime desta quarta-feira (29) interrompe uma sequência de três cortes consecutivos e ocorre em meio a pressões do presidente Donald Trump por mais reduções.
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Wilson Lima: Amor revelado, paixão mantida em segredo
A manutenção era amplamente esperada pelo mercado. Após reunião do Fed em dezembro, as autoridades -de olho na persistência da inflação acima da meta de 2%, no mercado de trabalho forte e na incerteza sobre efeitos econômicos de uma mudança de políticas- já tinham indicado uma postura mais cautelosa e previsto menos cortes em 2025.
O último relatório de preços ao consumidor mostrou que a inflação aumentou ligeiramente em dezembro, mas foi impulsionada pela volatilidade dos preços de energia, algo que o Fed tenta levar em conta em sua análise das tendências subjacentes de preços.
O núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, caiu ligeiramente. O mais importante para o Fed é que os preços ao consumidor e outros componentes do índice PCE sugerem que o núcleo subiu a uma taxa anual de quase 2% até dezembro e tem estado próximo da meta do Fed em uma base de três a seis meses.
Um relatório recente do Bureau of Labor Statistics também mostrou que os aluguéis de novos contratos de apartamentos caíram nos últimos meses de 2024, aumentando a confiança dos funcionários de que a inflação geral de abrigo deve desacelerar.
As autoridades do Fed acham que os dados devem se mostrar favoráveis este ano. Como a inflação foi inesperadamente alta no início de 2024, à medida que esses meses fortes caírem dos cálculos anuais, os chamados "efeitos de base" ajudarão a ancorar a inflação em um nível menor.
O crescimento quando a nova administração Trump assumiu estava em uma taxa anual de aproximadamente 3% para o quarto trimestre de 2024, acima da maioria das estimativas do potencial subjacente da economia, de acordo com um rastreador de produto interno bruto mantido pelo Fed de Atlanta.
As projeções emitidas no final da reunião de política do mês passado mostraram que os funcionários do Fed antecipavam dois cortes de taxa de um quarto de ponto percentual este ano, "se os dados viessem conforme esperado."
A possibilidade de vários choques de preços atingirem a economia dos EUA -incluindo aqueles instigados pelo próprio presidente- pode atrasar as reduções. Investidores e muitos economistas não antecipam novos cortes até junho.
Neste período, a cautela ainda deve prevalecer entre os formuladores de políticas até que eles estejam mais certos de que a inflação cairá para a meta de 2% e que os detalhes dos planos de tarifas, impostos e gastos de Trump sejam conhecidos.
A tendência dos EUA diverge do que é esperado para a taxa de juros no Brasil, que também será decidida nesta quarta. A expectativa do mercado é que ocorra aumento na taxa Selic, decisão já indicada pelo BC brasileiro na ata da última reunião de 2024.
IMPACTO NO MERCADO
As ações dos EUA atingiram suas mínimas da sessão cerca de uma hora antes da decisão do Fed.
O S&P 500 caiu 0,4% no início da tarde. O índice de referência de Wall Street havia caído até 0,8% enquanto investidores processavam reportagens da mídia de que funcionários do governo Trump estavam considerando apertar as restrições sobre as vendas de semicondutores da Nvidia para a China.
Os mercados de dívida pública estavam ligeiramente mais fracos. O rendimento do título do Tesouro de dois anos, sensível à política, estava mais alto em 4,22%, indicando uma queda no preço do título, enquanto o rendimento do título de referência do Tesouro de 10 anos subiu para 4,55%.
PRESSÃO DA CASA BRANCA
Analistas dizem que o presidente do Fed, Jerome Powell, terá que resistir à pressão da Casa Branca se quiser manter a confiança dos mercados e evitar desencadear uma nova onda de inflação.
"Quando presidentes começam a interferir nas decisões de política monetária, isso pode frequentemente dar muito errado", disse Claudia Sahm, economista-chefe da New Century Advisors e ex-funcionária do Fed.
"Cortar a taxa de juros quando a inflação ainda não voltou ao alvo pode criar mais inflação. Há uma razão pela qual o Fed é independente", disse Sahm, acrescentando que esperava que o banco central "mantivesse seus objetivos".
Trump já havia criticado o Fed e seu presidente pelo aumento das taxas de juros durante seu primeiro mandato. Os comentários retornaram durante a campanha presidencial de 2024.
Na primeira semana do segundo mandato, retomou as críticas e deu uma amostra da potencial disrupção que está por vir. "Eu acho que conheço as taxas de juros muito melhor do que eles, e acho que as conheço certamente muito melhor do que o principal encarregado de tomar essa decisão", disse o presidente na semana passada. "Eu gostaria de ver [as taxas de juros] caírem muito."
Os ataques de Trump no primeiro mandato romperam com décadas de discrição por parte de mandatários, que evitavam críticas diretas. A gestão de Powell, indicado inicialmente pelo republicano e depois mantido por Joe Biden, termina em 2026.
Trump afirmou no ano passado que não iria destituir Powell do cargo antes do fim de seu mandato. O chefe do BC americano, por sua vez, já disse que não renunciaria à pedido do presidente.
Apesar das ameaças de Trump, o Fed é uma instituição independente do governo da vez, assim como o BC do Brasil o é desde 2021. Além de não receber recursos a partir da decisão do Executivo ou do Legislativo, mas sim de suas próprias operações de mercado, o banco tem como objetivos maiores manter o pleno emprego e os preços estáveis.
"Agora que Trump tem pedido de forma bastante vocal por taxas de juros mais baixas, se o Fed afrouxar a política monetária, criará a impressão de que cederam a ele e renunciaram à sua independência", disse Isabella Weber, economista da Universidade de Massachusetts Amherst.
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ASSUNTOS: Economia