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Investimento de brasileiros em imóveis nos EUA e em Portugal cresce mais de 200%, diz consultoria

Por Folha de São Paulo

24/03/2023 13h09 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A alta taxa de juros e as incertezas sobre o controle da inflação têm ampliado o investimento de brasileiros no mercado imobiliário dos Estados Unidos e de Portugal.

Pesquisa da Faccin Investments, que presta consultoria para brasileiros nos dois países, mostra aumento de 250% nas transações de compra e 225% nas de venda de imóveis no último trimestre de 2022, em comparação ao mesmo período de 2021.

Foram cerca de US$ 72 milhões (R$ 379 milhões atualmente) em compra de imóveis e US$ 22,4 milhões em venda (R$ 117 milhões) de outubro a dezembro de 2022, segundo o levantamento.

Os recursos foram aplicados tanto por quem decidiu se mudar do Brasil quanto por investidores. Em comum, essas famílias, geralmente de empresários, buscam "dolarizar" o patrimônio para protegê-lo do atual cenário econômico brasileiro.

"Temos três perfis de clientes: famílias que almejam uma mudança definitiva, principalmente quando se trata de Portugal; empresários que compram para internacionalizar os bens; e outros, cerca de 20%, só querem uma renda extra, alugando os imóveis lá fora", afirma Cassio Faccin, CEO da Faccin Investments.

A documentação para a compra de um imóvel nos Estados Unidos e em Portugal não se diferencia muito da solicitada pelo mercado imobiliário brasileiro, segundo especialistas.

O cuidado, afirmam, é com o idioma e as taxas específicas de cada país. A quebra de contrato imobiliário, como permite o distrato no Brasil, é raridade nos EUA e na Europa.

"A compra não é um bicho de sete cabeças se [o comprador brasileiro] estiver bem assessorado. Nos Estados Unidos há taxas que precisam ser pagas antes de o negócio ser fechado", afirma Bruna Thalita, supervisora do departamento Internacional da RE/MAX Acerti.

"É comum pedirem duas parcelas do financiamento, como um cheque caução, e não é permitido o pagamento em espécie, para evitar a lavagem de dinheiro."

Outra característica diferente é a negociação do valor do imóvel. Enquanto no Brasil é possível conseguir desconto no preço pedido pelo vendedor, lá fora a proposta de compra é sempre feita acima da oferta inicial.

"Regra geral, irão checar a saúde financeira do brasileiro, por meio de um banco que opere aqui e no país onde está o imóvel", afirma o advogado César Beck.

Para quem trabalha em uma multinacional ou formaliza a intenção de investir no país com abertura de uma empresa, por exemplo, o processo de aquisição de imóvel pode ser mais rápido.

**'THE SUNSHINE STATE'**

A maioria dos brasileiros (55%) que compraram imóveis nos Estados Unidos escolheu a Flórida, segundo a associação de corretores do estado americano.

Por número de compras de imóveis no estado americano, o Brasil ficou em 4º lugar entre todos os países, com 6% das vendas que equivalem a US$ 700 milhões (R$ 3,7 bilhões), atrás apenas de Canadá, Argentina e Colômbia, de acordo com o último relatório "Perfil da Atividade Imobiliária Residencial Internacional".

Entre os cinco principais compradores estrangeiros na Flórida, os brasileiros normalmente compram os imóveis mais caros, com a média de US$ 460,7 mil (R$ 2,4 milhões). Cerca de 46% dessas compras são financiadas, e a maioria dos imóveis são casas.

**LOCAÇÃO DE IMÓVEL**

Segundo a Faccin Investments, a procura por imóveis para locação, tanto nos EUA como em Portugal, também subiu nos últimos meses de 2022.

A consultoria registrou aumento de 125% nas transações de aluguel em comparação ao mesmo período de 2021, totalizando US$ 140 mil (cerca de R$ 739 mil) em imóveis alugados por brasileiros, 166% mais que no ano anterior.

Nos Estados Unidos, o mercado de aluguel residencial mais concorrido é o Condado de Miami-Dade, com média de 32 possíveis locatários competindo por cada apartamento segundo o último relatório da RentCafe. Já em Portugal, Lisboa é a área metropolitana que mais concentra brasileiros.

**NOVAS REGRAS EM PORTUGAL**

Desde 2012, países europeus competem para atrair imigrantes ricos -e seus milhões- com programas de cidadania simplificados e autorizações de residência vinculadas a investimentos imobiliários. A alta na demanda e a pandemia provocaram uma disparada nos preços.

Para conter o aumento, Portugal anunciou em fevereiro uma drástica mudança nas regras para estrangeiros, que representam mais de 10% das compras de propriedades no país.

Uma das principais alterações é o fim da concessão dos vistos gold, cuja principal forma de obtenção é a compra de EUR 500 mil (R$ 2,8 milhões) em imóveis no país. Os brasileiros são a segunda nacionalidade mais beneficiada, atrás apenas dos chineses.

O governo português limitará a renovação dos vistos. Assim, estrangeiros só poderão seguir com o benefício se o imóvel se tornar habitação permanente do proprietário ou de seus descendentes, ou ainda se a propriedade for inserida no mercado de locação "de forma duradoura".


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