Investimento indexado à Selic deve impulsionar renda fixa em 2025
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Antes mesmo da elevação de um ponto percentual na taxa Selic, que chegou a 12,25% ao ano, os títulos de renda fixa já eram considerados atrativos pelos investidores. Com a sinalização do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de mais dois aumentos de um ponto para 2025, os ativos prometem ganhar mais destaque.
O possível cenário de uma taxa Selic a 14,25% ao ano fortalece investimentos vinculados ao índice, seja pagando em prazos determinados e calculados na data de pagamento (os pós-fixados), sejam os conhecidos previamente (prefixados). Ativos ligados à taxa básica de juros com rentabilidade atrelada ao CDI (Certificado de Depósito Interbancário), isentos do Imposto de Renda, também são ótimas opções, dizem analistas.
Há um consenso de que os títulos prefixados e IPCA+ podem ser alternativas para investimentos de longo prazo. No caso do Tesouro Direto, por exemplo, a rentabilidade dos prefixados tem variado de 13,73% a 14,79% ao ano.
O Copom adotou uma postura mais firme na reunião da semana passada em relação às anteriores. Analistas consideram que o tom pode indicar que o ciclo de alta se prolongue.
Segundo Antônio Sanches, analista da Rico, há uma percepção no mercado de que essas duas altas, em janeiro e março, possam não ser o fim do ciclo. "Quando o Copom faz um movimento de alta, demora para que esse juro seja sentido na economia, o que pode forçá-lo a expandir mais a taxa", afirma Sanches.
Caso se confirme, a taxa básica vai atingir o patamar de 14,25% ao ano em março -pico da Selic na crise do governo de Dilma Rousseff (PT), entre 2015 e 2016.
Para Gabriel Redivo, sócio e gestor de recursos da Aware Investments, as taxas atuais estão acima da média histórica. "Existe, no mercado, o conceito de reversão à média. Um investimento, que historicamente paga 4% e que está pagando 7%, tende a voltar a pagar 4%. É o cenário dos investimentos de renda fixa hoje, e deve continuar no próximo ano."
Os títulos pós-fixados que acompanham a taxa Selic são ideais para os investidores de perfil mais conservador, por oferecerem liquidez diária e baixa volatilidade. Eles também são indicados para reservas de emergência.
Para aqueles que têm planos de médio e longo prazo, vale a pena investir nos títulos vinculados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor - Amplo) ou prefixados. Entretanto, há o risco de que as taxas negociadas hoje não sejam tão atrativas no futuro, caso a inflação e a Selic subam mais.
"O Tesouro Direto já reagiu à medida do Copom, e os prefixados estão com rentabilidades anuais entre 13% e 14%. Essas taxas, porém, podem continuar aumentando, caso os juros cheguem ou ultrapassem os 15%", diz Antônio Sanches, analista da Rico.
O título do Tesouro prefixado com vencimento em 2027 oferece uma rentabilidade bruta de 14,79% ao ano. O título IPCA+ para 2029, também do Tesouro, está rendendo IPCA + 7,39%.
Segundo o mais recente boletim Focus, os analistas projetam que o IPCA fique acima do teto da meta neste ano e também em 2025 -4,84% e 4,59%, respectivamente. Para 2026, a estimativa subiu para 4%.
Segundo Rafael Haddad, planejador financeiro do C6 Bank, a rentabilidade dos ativos de renda fixa aumentou em todos os indexadores com a alta da Selic. "O mercado vem dando maior ênfase nos pós-fixados. Produtos como LCI e LCA conseguem oferecer um ótimo retorno líquido e são isentos de Imposto de Renda", diz.
De acordo com cálculos de Haddad, LCIs, LCAs (letras de crédito imobiliário e do agronegócio, respectivamente) e debêntures incentivadas que rendem 97% do CDI, a média do mercado, têm uma rentabilidade líquida real (considerando IR e inflação) de 8,84% ao ano.
CDBs com 106% do CDI oferecem rentabilidade líquida real ao ano de 7,53%, enquanto CDBs prefixados, a 14,80% ao ano, chegam a 7,23%. O Tesouro Selic 2027, que acompanha o índice e mais uma taxa de 0,0356%, atinge 6,75%, segundo o mesmo cálculo.
Para Haddad, caso o investidor confie na recuperação da credibilidade do governo em relação às medidas fiscais e em que a inflação vá ser controlada nos próximos anos, os prefixados e IPCA+ podem se tornar mais atrativos.
"Mesmo com um direcionamento mais forte para os pós-fixados, se for adequado ao perfil do investidor, vale apostar na diversificação", afirma.
Para escolher entre os títulos, é importante entender seus objetivos. Segundo Marcel Andrade, head da SulAmérica Investimentos, um título IPCA+ pode sofrer com a marcação a mercado, caso seja resgatado antes do investimento. É importante mantê-lo até o prazo.
Na marcação a mercado, o investidor se expõe ao risco ao resgatar uma aplicação antes do tempo, porque o valor dos títulos antes do vencimento vai sendo alterado. A prática é comum em títulos prefixados ou híbridos e pode gerar perdas.
"Os títulos IPCA são recomendados para quem tem um horizonte de médio e longo prazo, não para quem precisa de liquidez no meio do caminho. Se você olhar para prazos de 10 ou 15 anos, uma rentabilidade acima de 7,5% ao ano protegida contra a inflação é muito interessante", diz.
Desde setembro, o ciclo de alta de juros vem ocorrendo, com uma elevação de 0,25 ponto percentual da Selic pelo Copom. Em novembro, o colegiado aumentou o ritmo, com uma subida de 0,5 ponto na taxa básica. Neste mês, o BC optou por um choque de juros, ao elevar a Selic a 12,25% e prever mais dois aumentos de 1 ponto.
O Copom voltará a se reunir nos dias 28 e 29 de janeiro de 2025, com a estreia de três novos integrantes. A partir do ano que vem, o comitê terá maioria dos representantes indicados por Lula, com 7 dos 9 membros.
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