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Juros e custos elevados vão limitar crescimento da construção civil em 2025, diz setor

Por Folha de São Paulo

16/12/2024 13h00 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A construção civil brasileira encerra 2024 com crescimento de 4,1%, bem acima da previsão inicial. No começo do ano, a Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) previa aumento de 1,3%. De lá para cá foram quatro revisões para cima.

O desempenho positivo deste ano foi impulsionado pelo aumento na atividade do mercado imobiliário, especialmente com as novas regras do programa MCMV (Minha Casa, Minha Vida), além do impacto de investimentos em ano eleitoral e da queda no desemprego. Mas, para 2025, a projeção é de um crescimento moderado, de 2,3%, devido aos juros e custos elevados. Os dados foram divulgados em relatório da entidade nesta segunda-feira (16).

Segundo o documento, a construção civil está com o seu nível de atividades superior ao período pré-pandemia. Apesar do resultado, o setor ainda está 16% distante do pico atingido no início de 2014. "Isso mostra que nós avançamos bem da pandemia para cá, mas que ainda temos um espaço de crescimento importante", afirma Renato de Sousa Correia, presidente da Cbic.

O desempenho positivo da construção pode ser observado na análise da produção dos insumos do setor e nas vendas do comércio varejista, que registraram alta de 5,3% e 5%, respectivamente, de janeiro a outubro em relação a igual período do ano anterior. A economista da Cbic Ieda Vasconcelos afirma que o crescimento do comércio varejista mostra que famílias fizeram mais pequenas obras e reformas.

No período acumulado dos últimos 12 meses --dezembro de 2023 a novembro de 2024-- foram vendidas 64,5 milhões de toneladas de cimento, o que corresponde a um aumento de 4% em relação a igual período do ano anterior.

Segundo a Sondagem da Construção, realizada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com o apoio da Cbic, a Utilização da Capacidade de Operação do setor também está em patamar elevado. Em outubro de 2024, foi de 70%; já em igual período do ano anterior foi de 68%.

"Quando a construção cresce, vários setores são impulsionados", diz Correia.

No mercado imobiliário nacional, a economista citou o forte número dos lançamentos e das vendas como resposta ao dinamismo da economia brasileira, com um mercado de trabalho aquecido, além da demanda por imóveis se manter em alta.

De janeiro a setembro de 2024, foram vendidos 292.557 imóveis novos no país, aumento de quase 20% em relação a igual período do ano anterior. Os lançamentos alcançaram 259.863 unidades nos três primeiros trimestres de 2024 --alta de 17,32% em relação a igual período anterior.

O financiamento imobiliário também avançou: o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) financiou, nos primeiros dez meses de 2024, 516.207 unidades (alta de 28,1%), movimentando R$ 107,3 bilhões (crescimento de 37,8%), em relação a igual período de 2023. Já o SBPE (Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo) financiou 469.531 unidades (alta de 12,7%), somando R$ 154,1 bilhões (aumento de 22,6%).

O mercado de trabalho na construção civil também apresentou resultados positivos em todos os segmentos. Entre janeiro e outubro de 2024, mais de 230 mil novas vagas formais foram criadas, com destaque para jovens entre 18 e 29 anos, que representaram cerca de 52% das contratações. São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina são os cinco estados com maior criação de empregos na construção civil.

O número total de trabalhadores com carteira assinada atingiu 2,978 milhões, mesmo nível de 2014. O salário médio de admissão em outubro foi de R$ 2.335,69, o segundo maior entre os setores econômicos, superando a média nacional de R$ 2.153,18.

Para 2025, o setor projeta crescimento mais moderado, de 2,3%, com continuidade na expansão do mercado imobiliário, impulsionada por investimentos privados e programas habitacionais. Apesar dos avanços neste ano, a alta de juros e custos com mão de obra e insumos podem limitar o desempenho.

A Cbic diz que terá de enfrentar gargalos, como questões regulatórias e a necessidade de incentivos mais robustos para manter o ritmo de crescimento sustentável nos próximos anos.

O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) registrou alta de 6,34% nos últimos 12 meses, superando a inflação oficial de 4,87%. "A falta de mão de obra qualificada, o aumento dos custos e a elevação nas taxas de juros são fatores que merecem atenção e podem arrefecer o otimismo do setor", afirma Correia.

O setor cita expectativa de "menor dinamismo da economia" em 2025, apoiada na projeção em pesquisa Focus, do Banco Central, com a previsão de aumento da taxa básica de juros para os próximos dois anos.

"Os juros, em patamar elevado, prejudicam não somente a construção, mas também os segmentos produtivos da economia, em função de investimentos que são mais direcionados ao mercado financeiro", diz o presidente da Cbic.

"O mercado imobiliário também continuará registrando resultados positivos [em 2025], em função do segmento econômico, mas preocupa o crédito para média renda", aponta a economista.

Outra preocupação é com caderneta de poupança, que perde recursos há quatro anos consecutivos e é importante fonte de financiamento imobiliário. De janeiro de 2021 até novembro de 2024, a captação líquida da caderneta foi negativa em R$ 212,483 bilhões. A taxa de juros em patamar elevado é uma das justificativas para esse resultado, pois há um direcionamento dos investimentos para aplicações com maior rendimento.

"Certamente teremos a possibilidade de termos bem menos lançamentos na classe média, que é abastecida pela caderneta de poupança, visto que não vai ter funding [recursos] para financiar se os saques ocorrerem da maneira que, historicamente, têm ocorrido quando sobe a Selic", diz Correia.

Ele afirma que é uma preocupação, e uma surpresa, muito grande ter o indicativo de mais dois pontos percentuais na sequência. "Precisava encontrar uma solução rápida para que esse juros retornassem a um dígito."

A alta renda, diz Correia, também pode evitar o mercado imobiliário, para destinar recursos em investimentos mais rentáveis, e afetar os resultados do ano que vem para o setor.


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