Lula defende agro forte 'para causar raiva' em quem critica carne brasileira
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) rebateu nesta quarta-feira (27) a crítica de um deputado francês, que comparou a carne brasileira a "lixo". Disse querer que o agronegócio continue crescendo para "causar raiva" em quem faz essas críticas.
Acrescentou que pretende ainda neste ano assinar o acordo entre o Mercosul e a União e a União Europeia, independentemente da resistência apresentada: a "França não apita nada", afirmou, em referência a declarações recentes do presidente Emmanuel Macron contra a assinatura.
Lula participou da abertura do encontro nacional da indústria, em Brasília.
"Eu quero que o agronegócio continue crescendo e causando raiva num deputado francês que hoje achincalhou os produtos brasileiros, porque vamos fazer o acordo do Mercosul nem tanto pela questão dinheiro. Vamos fazer porque eu estou há 22 anos nisso", afirmou.
"E, se os franceses não quiserem o acordo, eles não apitam mais nada. Quem apita é a Comissão Europeia e a [presidente da Comissão] Ursula Von der Leyen tem procuração para fazer o acordo. E eu pretendo assinar esse acordo neste ano ainda."
A fala de Lula acontece em meio à controvérsia envolvendo a rede de supermercado francesa Carrefour, que anunciou que deixaria de comprar carnes brasileiras.
Nesta terça-feira, durante sessão da Assembleia Nacional Francesa que aprovou um veto simbólico ao acordo com o Mercosul, vários parlamentares criticaram produtos do Brasil.
"Nossos agricultores não querem morrer e nossos pratos não são latas de lixo", discursou o deputado Vincent Trébuchet (partido UDR, de direita).
Antoine Vermorel-Marques (Republicanos, direita) comparou a tradicional vaca charolesa francesa, "rústica e maternal", com a mesma raça bovina criada na América do Sul.
"Aglutinada em fazendas de 10 mil cabeças, engordada, condenada aos ferros, comendo soja transgênica, em um hectare onde antes havia a floresta amazônica, abatida sem dó nem piedade e empacotada em um cargueiro refrigerado. Seu destino? Nossas mesas, nossas cantinas, vendida a metade do preço, financiada ao custo da nossa saúde, alimentada com um pesticida proibido na Europa, que fragiliza a gravidez e ataca a saúde dos recém-nascidos", disse Vermorel-Marques.
O presidente também disse que pretende manter os laços econômicos com os Estados Unidos, mesmo durante a presidência de Donald Trump, mais extremista e próximo ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que vai manter um pragmatismo, assim como teve boas relações com outros presidentes americanos.
No entanto, acrescentou que, naquilo que houver divergência, vai "trancar a cara".
"Nós é que temos que acreditar em nós. Eu quero fazer tudo isso sem brigar com os Estados Unidos. Eu não quero saber se o presidente é o Trump, Biden, Obama. Eu quero saber o seguinte, o Brasil tem interesses soberanos, eles têm interesses soberanos e os nossos interesses têm que convergir. Naquilo que houver tiver diferença, a gente tranca a cara e não faz negócio", afirmou o mandatário.
Lula na sequência criticou que o investimento americano no Brasil estava em queda e que só ganhou novo impulso quando esse espaço passou a ser ocupado pela China.
Em outro momento, Lula também voltou a criticar a taxa de juros básica brasileira, acrescentando que não explicação para estar no patamar atual.
"Qual é a explicação de a taxa de juros estar do jeito que está hoje? Estamos com a inflação controlada, a economia está crescendo, [estamos com] o menor nível de desemprego desde 2012", acrescentou.
ASSUNTOS: Economia