Mato Grosso contrata R$ 4,65 bi em investimento em leilão de rodovias, mas 2 lotes não têm ofertas
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Sem conseguir despertar interesse em dois dos seis lotes previstos, o governo de Mato Grosso contratou R$ 4,65 bilhões em investimentos em trechos de rodovias estaduais leiloados nesta sexta-feira (14), na B3, em São Paulo.

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Foram arrematados 1.307 km em estradas do estado. Estavam disponíveis no leilão, no total, 2.104 km. Os investimentos poderiam chegar a R$ 7,61 bilhões.
Segundo o governo mato-grossense, o foco do leilão era o agronegócio. As estradas disponíveis para concessão ligam 17 cidades consideradas estratégicas para o transporte da produção. A cessão será por 30 anos.
"É o maior leilão em quilômetros de rodovias já feito no Brasil", afirmou o governador Mauro Mendes (União Brasil).
Não houve ofertas para os lotes 3 (161 km em Cuiabá, Acorizal, Jangada e Rosário Oeste) e 6 (634 km entre Campo Grande e Sinop). Eram R$ 2,96 bilhões de investimentos planejados no total para os dois trechos.
"Já era algo previsto porque houve equívocos técnicos [no edital]. Em 30 dias, vamos dar solução para esse assunto. Pode ser um novo leilão, pode ser a concessão à Nova Rota do Oeste, que já é concessionária de rodovias do estado", completou Mendes.
Questionado sobre quais seriam os erros técnicos, o governador insistiu que, em 30 dias, o assunto seria resolvido.
Representantes de empresa que participou do leilão e advogado de um dos consórcios consideraram, em declarações à Folha, que os lotes sem oferta necessitam de uma "calibragem" nos valores de pedágio e investimento.
A avaliação é que os valores das tarifas colocadas no edital, que variavam entre R$ 10,74 e R$ 13,37, não compensavam diante dos investimentos necessários nesses lotes. O lote 3 demandaria R$ 1,2 bilhão de investimento. O 6 chegaria a R$ 1,75 bilhão.
Em nota, o governo de Mato Grosso disse que vai fazer a revisão e adequação dos editais desses lotes, com o objetivo de melhorar as propostas e ampliar o número de investidores interessados."
A preocupação do governo é que no lote 3 está a rodovia MT-010, em que passam, em média, 2.500 caminhões por dia. Esse trecho já era considerado o de maior risco de não receber ofertas devido à necessidade de investimentos imediatos no início do contrato. Estava prevista a duplicação das pistas.
O lote que despertou maior interesse foi o 5. A CS Infra, empresa do Grupo Simpar, derrotou outros quatro consórcios ao oferecer 8,33% de desconto sobre a tarifa básica de pedágio, o critério que definia o vencedor. O investimento previsto é de R$ 1,08 bilhão pelas três décadas de concessão.
O lote engloba 308 km entre os municípios de Paranatinga e Canarana.
O consórcio rodoviário Rota da Produção, composto pela Zapone Engenharia e Constral Construtora, venceu o lote 2, que engloba 418 km que passa pelas cidades de Campo Novo do Parecis, Diamantino, Nova Marilândia, Nova Mutum, São José do Rio Claro, Santo Afonso e Tangará da Serra. Este é o lote com maior aporte previsto, chegando a R$ 1,8 bilhão. Foram oferecidos 2,3% de desconto.
No lote 1, que cobre os 237,6 km entre Tapurah e Juara, a ganhadora foi a holding VF Gomes Participações, que propôs desconto de 8,5%. Ela terá de investir, segundo o edital, R$ 698 milhões.
A Monte Rodovias ofereceu 9,1% de desconto no valor do pedágio e ficou com o lote 8, entre as cidades de Brasnorte, Castanheira, Juara e Juína. O investimento previsto em edital é de R$ 1,08 bilhão.
"A maioria dos lances foi constituída por descontos mínimos, muitos deles inferiores a 1%. Isso e os dois lotes vazios [sem propostas] indicam a necessidade constante de calibragem das modelagens.", afirma Advogado Rodrigo Campos, sócio do escritório Vernalha e Pereira, especialista em leilões de rodovias.
Ele afirma que chamou a atenção a ausência no leilão de grupos que já operam concessões de rodovias em Mato Grosso.
"Seria esperado que, por já conhecerem a dinâmica de tráfego, do ambiente institucional e as características da região, estes grupos pudessem ter apetite em ampliar seus portfólios de ativos. Não terem sequer participado do leilão deve ser objeto de reflexão", completa.
Mas um deles, a Nova Rota do Oeste, citada pelo governador, pode receber os trechos não licitados sem participar do leilão.
Os envelopes com as propostas de preços foram encaminhados pelas empresas interessadas até a última terça-feira (11).
O governo estadual informou que há estudos em andamento para a concessão de mais trechos rodoviários para o setor privado ainda na gestão de Mauro Mendes, que tem mandato até o final de 2026.
"A gente elogia as estradas de São Paulo e estão todas concedidas para a iniciativa privada. O estado brasileiro não é exemplo de eficiência, temos de reconhecer", afirmou o governador.
Mato Grosso tem uma malha rodoviária de quase 32 mil quilômetros, sendo que cerca de 20 mil ainda não estão asfaltados.

ASSUNTOS: Economia