Mercado financeiro brasileiro não deve melhorar até 2026, dizem gestores
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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O mercado financeiro local não deve apresentar melhora até, pelo menos, 2026, afirmam gestores do setor. Mesmo com a Bolsa de Valores depreciada e um grande diferencial de juros, o país não deve ter um fluxo de capital estrangeiro até as eleições presidenciais terem um prognóstico.
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A expectativa é de piora dos indicadores financeiros, como Ibovespa e dólar, ou no máximo manutenção nos atuais patamares.
"Obviamente a avaliação de Brasil não é boa. A pior coisa que esse governo fez foi subir as despesas. E isso começou com Bolsonaro no último ano [de governo, em 2022]", afirmou Luis Stuhlberger, fundador e gestor do fundo Verde, em evento promovido pelo banco de investimento UBS BB em São Paulo, nesta terça-feira (28).
"O mercado vai ter sempre a espada ou a âncora da eleição de 2026 como uma esperança da mudança. Seja com a redenção do próprio governo, seja com uma mudança de governo", disse Bruno Serra, gestor do fundo Itaú Janeiro e ex-diretor do Banco Central.
A avaliação do mercado é a de que é necessário algum sinal concreto de estabilização da dívida pública, algo que a atual gestão de Lula 3 não conseguiu até agora, mesmo com o arcabouço fiscal.
"A função conceitual de um mecanismo como esse depende muito de credibilidade. Então, quando falamos de crise de confiança, há um conceito econômico por trás com um papel muito muito importante porque se você acredita [que o arcabouço vai estabilizar a dívida], os prêmios [juros] caem, a economia cresce mais e você entra num ciclo virtuoso. Agora, se não acreditam, os prêmios todos sobem, e você entra num ciclo vicioso, para onde estamos indo", diz Rodrigo Azevedo, ex-diretor do Banco Central e sócio-fundador da Ibiuna Investimentos.
De acordo com o gestor, a falta de credibilidade na política fiscal tem elevado a expectativa para a inflação, o que leva o Banco Central a subir juros. A expectativa do mercado é que a Selic suba dos atuais 12,25% para 15% até o fim do ano. No entanto, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) segue acima da meta de 3%.
"Numa situação como a atual, que a política fiscal corrente é incompatível com a estabilidade da dívida, a política monetária perde potência e você começa a ter esse tipo de preocupação", afirma Carlos Viana de Carvalho, ex-diretor do Banco Central e estrategista-chefe da Kapitalo Investimentos.
Os juros futuros precificam que a Selic pode subir a 16%, o que já encarece a dívida pública brasileira. Títulos prefixados do Tesouro Direto estão com uma remuneração acima de 15% ao ano e os atrelados ao IPCA se aproximam de 8%.
"O juro real não será de 8% ao ano nos próximos 10 anos. O Brasil quebra antes. Algo vai acontecer [antes disso]. Ou a mudança de mentalidade do governo ou uma mudança de governo", disse Luis Stuhlberger, fundador e gestor do fundo Verde.
"Mesmo com o corte de gastos do Haddad, R$ 500 bilhões foram parar na economia via programas de assistência. Obviamente, a economia cresce acima do potencial e gera inflação. E a inflação de alimento tira popularidade do presidente", completa Stuhlberger.
Carvalho, da Kapitalo, afirma que, mesmo quando as variáveis econômicas estavam favoráveis, ao fim de 2023 e começo de 2024, a popularidade de Lula não cresceu.
"Tínhamos uma economia crescendo a um ritmo próximo de 3%, e uma inflação que chegou a rodar em 3%. Essa combinação desse nível de crescimento com esse nível de inflação não me lembro de ter visto. Possivelmente, foi a melhor conjuntura corrente que vivemos, mas popularidade do presidente e do governo não refletiu essa economia favorável, mas eu tendo a achar que a popularidade vai sofrer com essa provável piora da economia", disse o gestor.
Para Andre Bannwart, gestor do UBS, a economia brasileira está em uma encruzilhada semelhante à de 2014, que precedeu a crise econômica de 2015 a 2016, com inflação e retração no PIB (Produto Interno Bruto).
"Se a economia desacelera, a dívida aumenta mais rápido, e poderia haver uma nova rodada de desvalorização cambial. E isso gera inflação. Se a desaceleração não for seguida de ajuste fiscal, o mesmo pode acontecer. E, historicamente, quando a economia desacelera, o governo gasta mais", diz Bannwart.
Segundo os gestores, a dúvida é quando um ajuste fiscal viria e a aposta é que ele não deve vir antes das eleições presidenciais.
No entanto, para os gestores e ex-diretores do BC, a política monetária do Banco Central está correta e transição de Roberto Campos Neto para Gabriel Galípolo, atual presidente, foi positiva, com a sinalização de aumento na taxa de juros na última reunião de Campos Neto.
"O grande teste [para Galípolo] vai ser em 2026. A situação na qual ele assumiu é uma situação muito difícil. Uma situação com um câmbio [elevado], com uma expectativa de inflação desancorada, que vai exigir uma política dura durante muito tempo. E ele vai ter que enfrentar isso durante um período eleitoral", afirmou Azevedo.
A leitura de que a incerteza econômica deve minar fluxo de capital para o Brasil é compartilhada pelo UBS BB.
"Não há garantia de que quem vier a seguir para liderar o país será significativamente diferente de quem lidera o país hoje", afirma Alejo Czerwonko, estrategista-chefe do UBS BB para mercados emergentes.
Apesar da forte valorização do dólar ante o real nos últimos meses, o banco espera que a moeda americana siga forte internacionalmente e volte a se apreciar ante a divisa brasileira, indo ao patamar de R$ 6,20 a R$ 6,40 até o fim deste ano.
"Há muitas notícias ruins no preço. Talvez até demais, principalmente se você tentar olhar para 2026, [o que] requer muita paciência. 2026, da perspectiva de mercados financeiros de investimento, é uma eternidade", diz Czerwonko.
ASSUNTOS: Economia