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Mesmo após intervenção do BC, dólar fecha em alta com incertezas sobre pacote de cortes

Por Folha de São Paulo

13/12/2024 17h45 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O dólar fechou em alta de 0,29% nesta sexta-feira (13), cotado a R$ 6,028, com as atenções do mercado voltadas à tramitação do pacote de contenção de gastos no Congresso Nacional.

A moeda norte-americana abriu em queda, mas logo mudou de sinal e chegou a R$ 6,077 na máxima do dia. O BC (Banco Central) realizou um leilão surpresa às 14h40, o que arrefeceu a alta a divisa.

Já a Bolsa, em pregão estendido por conta do horário de verão dos Estados Unidos, tinha forte queda de 0,94% às 17h15, aos 124.854 pontos.

As preocupações com a trajetória das contas públicas do país continuam sendo o principal foco do mercado.

Com apenas seis dias úteis até o início das férias de fim de ano do Congresso, o governo corre contra o tempo para aprovar o pacote fiscal do ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda neste ano.

Um dos nós do imbróglio era a liberação de emendas parlamentares, detalhada em portaria no início desta semana. O Palácio do Planalto afirmou na noite de quinta que já pagou quase R$ 1,76 bilhão dos R$ 6,8 bilhões represados devido às decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) que exigiam mais transparência a rastreabilidade nos repasses.

O Supremo endureceu regras para a liberação das emendas nas últimas semanas, definindo novos critérios que devem ser adotados pelo Congresso e pelo governo para a destinação do dinheiro.

As restrições impostas pelo STF fizeram aumentar a tensão entre os Poderes. A cúpula do Congresso acredita que os reveses no Supremo foram patrocinados pelo governo -e, como retaliação, ameaça não votar o pacote de corte de gastos.

Mas, mesmo com a liberação das emendas, lideranças parlamentares ouvidas pela reportagem admitem que a chance de votação do pacote diminuiu diante da avaliação de que há temas espinhosos entre as medidas que demandam mais tempo de discussão. Entre os descontentes, a própria bancada do PT.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que há um problema inegável de prazo para aprovação do pacote de gastos, mas demonstrou estar confiante.

"A ausência do presidente Lula (PT) [internado após uma cirurgia em São Paulo] redobra nossa responsabilidade de tentar resolver as pendências e os problemas até para que ele possa ter uma recuperação tranquila. Não queremos levar problemas para ele, queremos levar solução. Para ele se recuperar bem e voltar a trabalhar porque nós precisamos dele", disse.

O governo e a equipe econômica ainda buscam oficialmente manter a confiança na aprovação do pacote devido à piora das condições financeiras, como alta do dólar.

Mas o clima entre os investidores é de ver para crer. "Ninguém sabe se o pacote fiscal vai andar ou não, porque isso junta com a questão da hospitalização do presidente. O sentimento é bem ruim", disse Alexandre Espirito Santo, economista da Way Investimentos.

Lula está internado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, desde segunda-feira. Ele passou por uma cirurgia chamada trepanação, que consiste na remoção de um coágulo por meio de dreno colocado em um orifício aberto no crânio do paciente. Na quinta, passou por outro procedimento para interromper o fluxo de sangue em uma região de seu cérebro e, assim, impedir novos sangramentos.

As intervenções foram bem-sucedidas, e Lula deverá ter alta na semana que vem. Até lá, as negociações do pacote fiscal estão sob cuidados dos ministros Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Fernando Haddad e Jorge Messias (AGU).

"O mercado está em relativo compasso de espera, de olho na articulação política do governo para votação do pacote fiscal antes do recesso", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. "Em síntese: compasso de espera e volatilidade."

A cautela dos investidores levou o dólar à máxima de R$ 6,077 nesta sessão, e o Banco Central realizou um leilão surpresa à vista da moeda norte-americana.

Foram vendidos US$ 845 milhões, e nove propostas foram aceitas de 14h41 até 14h46. O total ofertado era de US$ 1 bilhão.

A última vez que o BC havia vendido dólares à vista havia sido no dia 30 de agosto, embora, na quinta, tenha promovido duas intervenções com compromisso de recompra que somaram US$ 4 bilhões.

O leilão é uma intervenção da autoridade monetária no mercado de câmbio. Na prática, é uma injeção de dólares no mercado como forma de atenuar disfuncionalidades nas negociações.

Também nesta sexta, o BC informou que o IBC-Br, índice considerado uma prévia do PIB registrou alta de 0,1% em outubro na comparação com o mês anterior. A expectativa em pesquisa da Reuters era de queda de 0,2%.

"O IBC-Br não vai mudar muito as percepções dos investidores, porém, essa ideia de que a economia e o mercado de trabalho estão mais aquecidos foi um dos pontos que vem sendo constantemente citado pelo Banco Central, que compõe um cenário de riscos inflacionários", disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Em reunião na quarta, o Copom (Comitê de Política Monetária) optou por um aumento agressivo de 1 ponto percentual na taxa básica de juros do país, a Selic, levando-a ao patamar de 12,25% ao ano.

O colegiado também antecipou um choque de juros e passou a prever mais dois aumentos de 1 ponto percentual nas próximas reuniões, de janeiro e março, o que levaria os juros a 14,25% ao ano.

Foi um "belo aperto monetário", na visão de Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

"O mercado vinha preocupado com a atuação do BC, temendo que ele pudesse ser mais contido. Mas ele atuou na conta-erro que foi deixada em aberto pela má atuação do governo na questão fiscal. O ajuste se dará pelos juros. Não fosse o caso, se daria no câmbio e na inflação, o que seria muito pior para a economia no longo prazo", avalia.

As sinalizações de alta de 1 p.p. têm provocado forte alta nas curvas de juros futuros desde quinta-feira. Nesta sessão, os contratos de curto e médio prazo estão em disparada, acomodando as expectativas de uma Selic maior.

O DI (Depósito Interfinanceiro) com vencimento de janeiro de 2026 subia de 14,665%, do ajuste anterior, a 14,88%; a do DI de janeiro de 2027 tinha forte alta de 14,715% para 15,05%; e a do DI de janeiro de 2029 saltava de 14,205% a 14,85%.

Na ponta internacional, agentes financeiros se posicionam antes da última reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) do ano na próxima semana.

As expectativas têm se consolidado em torno de um corte de 0,25 ponto percentual. "Fed é naturalmente o maior evento da próxima semana, mas acho que como já está precificado, não deve impactar câmbio", aponta Fernando Bergallo, da FB Capital.


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