PIB cresce menos no 3º trimestre, mas consumo e investimentos ainda mostram força
SÃO PAULO, SP, E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Com impacto da demanda doméstica por bens e serviços, a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, apontam dados do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados nesta terça (3) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O resultado indica um crescimento menor em relação ao segundo trimestre, quando a alta foi de 1,4%. "Pode ser algum sinal de desaceleração da economia, mas não muito relevante ainda", afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Conforme a técnica, o crescimento menor está associado em parte a um patamar elevado de comparação. O PIB está no nível recorde da série do IBGE, iniciada em 1996.
O avanço de 0,9% veio levemente acima da mediana das previsões do mercado financeiro, que era de 0,8%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,6% a 1,1%.
Pelo lado da demanda por bens e serviços, Rebeca dFstacou os dados do consumo das famílias e dos investimentos produtivos na economia, medidos pela FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo).
Os componentes avançaram 1,5% e 2,1% no terceiro trimestre, respectivamente. As taxas foram semelhantes às registradas no período imediatamente anterior (1,4% e 2,2%). O consumo do governo cresceu 0,8%, após redução de 0,3%.
Rebeca associou os resultados a uma combinação de fatores. Ela disse, por exemplo, que a inflação não está em "níveis altíssimos", apesar da aceleração recente.
Também lembrou que o aquecimento do mercado de trabalho e as transferências do governo, incluindo benefícios sociais, contribuem para o consumo e os investimentos de ampliação da capacidade produtiva das empresas.
No setor externo, o IBGE disse que houve baixa nas exportações (-0,6%) e avanço nas importações (1%).
Esses resultados reforçam a leitura de que o PIB está sendo puxado pelo mercado doméstico. As importações em alta estão associadas a essa demanda, indicou Rebeca.
Pelo lado da produção, o resultado do terceiro trimestre foi impulsionado pelas altas dos serviços (0,9%) e da indústria (0,6%). A agropecuária, por outro lado, recuou (-0,9%).
A produção no campo foi afetada por problemas climáticos em 2024, incluindo período de forte seca e queimadas, além de enchentes no Rio Grande do Sul.
Dentro dos serviços, o IBGE apontou altas em diferentes atividades. Um dos destaques foi o segmento de informação e comunicação, que cresceu 2,1% no terceiro trimestre.
Na indústria, Rebeca chamou atenção para o ramo de transformação. O avanço foi de 1,3%, após alta de 2% nos três meses imediatamente anteriores.
Apesar de seguir no azul, a indústria de transformação ainda está 14,7% abaixo do pico da série histórica. A máxima foi registrada no terceiro trimestre de 2008.
Quando comparado com o terceiro trimestre do ano passado, o PIB teve crescimento de 4%. A mediana das projeções do mercado financeiro era de 3,9%, segundo a agência Bloomberg.
No ano, o PIB acumulou crescimento de 3,1% até setembro. A expectativa de analistas é de um avanço superior a 3% no fechamento de 2024.
A mediana das projeções para este ano é de 3,22%, conforme o boletim Focus divulgado pelo BC (Banco Central) na segunda (2).
A previsão dos analistas subiu com o passar dos meses, em meio a um desempenho mais alto do que o esperado inicialmente.
Para se ter uma ideia, ao final de 2023, a projeção do Focus para o PIB de 2024 era de aumento de 1,52%.
O ritmo do indicador levou a um debate se a economia está ou não crescendo acima do seu potencial. Ou seja, se pode ou não pressionar a inflação. O tema divide opiniões.
Para o PIB de 2025, a projeção do mercado é de alta de 1,95%, segundo o boletim Focus divulgado na segunda. Um dos desafios para o avanço da atividade é o aumento da taxa básica de juros pelo BC.
No início de novembro, o Copom (Comitê de Política Monetária), ligado à instituição, decidiu intensificar o ritmo de alta e elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
O aperto monetário ocorre em meio a uma desconfiança de investidores com o cenário fiscal no Brasil. O quadro levou a cotação do dólar para a faixa de R$ 6, o que representa uma ameaça para a inflação.
O aumento dos juros pelo BC é uma tentativa de esfriar a demanda por bens e serviços. O objetivo é frear o avanço dos preços e segurar as expectativas de inflação, que corre o risco de estourar o teto da meta deste ano (4,5%).
"A despeito da política monetária restritiva, o mercado de trabalho robusto segue como importante suporte para o desempenho positivo dos serviços e do consumo das famílias", afirma relatório da gestora Kínitro Capital, que também destacou o crescimento dos investimentos, principalmente em máquinas e equipamentos.
A casa vê chance de PIB de 3,4% neste ano e diz não acreditar em uma "postura passiva do governo" em deixar a atividade desacelerar.
Na visão da Kínitro, o quadro reforça a necessidade de um novo ajuste na política monetária, com aceleração do ritmo de alta da Selic na próxima reunião do Copom. O encontro está agendado para 10 e 11 de dezembro.
Nesta terça, o IBGE disse que revisou a taxa de crescimento do PIB de 2023, de 2,9% para 3,2%. A mudança para cima foi puxada pela incorporação de dados do setor de serviços e da agropecuária.
Não houve mudanças na taxa de 1,4% registrada no segundo trimestre de 2024.
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