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Poupança tem saída líquida de R$ 15,47 bilhões em 2024, diz BC

Por Folha de São Paulo

08/01/2025 14h45 — em
Economia



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os brasileiros sacaram R$ 15,47 bilhões a mais do que depositaram na caderneta de poupança em 2024, divulgou nesta quarta-feira (8) o Banco Central.

A saída de recursos da poupança foi menor do que no ano anterior, quando foram resgatados R$ 87,82 bilhões (em termos nominais). Corrigido pela inflação, o montante corresponde a R$ 92,10 bilhões.

O resultado de 2024 foi o melhor em quatro anos nessa modalidade de investimento. Em 2020, houve entrada líquida de R$ 166 bilhões (valor da época, sem correção) -correspondente a R$ 213,72 bilhões na correção pela inflação a valor presente.

No acumulado do ano passado, as retiradas totalizaram R$ 4,212 trilhões, enquanto os depósitos somaram R$ 4,197 trilhões.

Em 2024, foram registrados resultados negativos na poupança em boa parte do ano, exceto nos meses de março, maio, junho e dezembro. O pior desempenho do ano passado ocorreu em janeiro, com a saída líquida de R$ 20,15 bilhões.

Em dezembro, a captação líquida (diferença entre entradas e saídas de recursos) foi positiva em R$ 4,96 bilhões. Normalmente, a caderneta de poupança tem resultado positivo na reta final do ano em razão do pagamento do 13º salário.

A rentabilidade atual da caderneta de poupança é dada pela TR (taxa referencial) mais uma remuneração fixa de 0,5% ao mês. Isso deixa a remuneração mais baixa do que outros investimentos de renda fixa. O indicador é calculado pelo BC com base nas taxas de juros das Letras do Tesouro Nacional e tem flutuação diária.

Esta fórmula vale enquanto a taxa Selic estiver acima de 8,5% ao ano -a taxa básica de juros está atualmente em 12,25% ao ano. Quando a taxa de juros está menor ou igual a 8,5% ao ano, o investimento é limitado a 70% da taxa, acrescida da TR. A mudança na regra da poupança ocorreu em dezembro de 2021.

Em termos nominais, o recorde negativo foi registrado em 2022, quando foram retirados R$ 103,24 bilhões a mais do que o dinheiro depositado pelos correntistas. Corrigido pela inflação a valor presente, o montante seria correspondente a R$ 113,34 bilhões.

O fluxo de recursos na poupança passou a acumular retiradas líquidas significativas desde 2021, quando o poder de compra do brasileiro caiu diante de uma inflação de dois dígitos e de um intenso choque de juros.

Em dezembro de 2024, o estoque da poupança ficou em R$ 1,03 trilhão, ante R$ 1,02 trilhão no mês anterior. No fim de 2023, o volume total aplicado era de R$ 983 bilhões.

Mauro Rochlin, economista e coordenador acadêmico da FGV (Fundação Getulio Vargas), ressalta que o recuo do desemprego no Brasil e a atividade econômica aquecida ajudam a entender a menor fuga de recursos da caderneta de poupança em 2024, apesar da rentabilidade maior de outros ativos.

"A gente está agora com o desemprego nas mínimas históricas, consumo de famílias aumentando, salário médio real subindo, renda subindo, isso pode explicar esse resultado [da poupança] menos pior", afirma.

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,1% no trimestre até novembro, renovando a mínima da série histórica da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), iniciada em 2012.

Para 2025, o especialista prevê uma saída maior de recursos diante da perspectiva de aumento de juros e de desaceleração da economia. O Copom (Comitê de Política Monetária) sinalizou mais duas altas de 1 ponto percentual na Selic, nas reuniões agendadas para janeiro e março.

Rochlin destaca ainda que houve mudança na regra do reajuste do salário mínimo -atualmente em R$ 1.518. A nova regra prevê que o ganho real (acima da inflação) não poderá superar a correção do limite do arcabouço fiscal -que oscila entre 0,6% e 2,5% ao ano. Se a regra anterior ao pacote estivesse valendo, o salário mínimo subiria para R$ 1.528. Com a revisão da regra, houve uma perda de R$ 10.

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, destaca que a poupança é um meio utilizado por parcela significativa dos brasileiros para a construção de um "colchão de segurança" em momentos de maior bonança.

Segundo ele, as variações da poupança estão ligadas na maioria dos casos aos movimentos do mercado de trabalho e ao nível de confiança das famílias.

"A ocorrência simultânea da queda do desemprego e o aumento do nível de renda da população, além da ocorrência de injeções fiscais do tipo pagamento de precatórios, constituiu cenário ideal para o crescimento de 5% do saldo final da poupança", afirma.

O economista destaca também que reforça o cenário a característica dos empregos gerados ao longo do ano, com novas vagas concentradas no setor de serviços (que tradicionalmente absorve mão de obra de menor qualificação) e postos de trabalho com salários mais baixos (até 1,5 salário mínimo).

Essas características, de acordo com Pizzani, correspondem ao perfil tradicional de agentes que recorrem a caderneta de poupança como forma de acumular recursos.

Para 2025, ele vê como incerta a trajetória da poupança. De um lado, cita a elevação dos juros, que deve se refletir em um menor volume de concessão de crédito para famílias e empresas, reduzindo o nível de consumo e investimento privado.

Por outro lado, menciona que este movimento tende a ser limitado por fatores relacionados à política fiscal, como o reajuste real do salário mínimo e o pagamento de precatórios, que devem ajudar a sustentar o consumo das famílias.

"O gasto dos agentes tende a ser cada vez mais restrito a bens e serviços de baixo valor agregado, reforçando a natureza incerta da trajetória do mercado de trabalho nacional e, por consequência, da poupança", diz.


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