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Trump eleva para 125% tarifas sobre China e anuncia redução de taxas recíprocas

Por Folha de São Paulo

09/04/2025 19h30 — em
Economia


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WASHINGTON, EUA E PELOTAS, RS (FOLHAPRESS) - Em mais um capítulo do embate comercial que trava com o mundo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9) o aumento imediato das tarifas sobre a China para 125%. Em paralelo, ele pausou as tarifas recíprocas -sobretaxas com índices mais elevados- sobre todos os outros países e aplicará no lugar a tarifa global de 10%, na qual o Brasil está inserido.

Canadá e México serão os únicos isentos da taxação linear porque os países foram alvo de alíquotas de 25% sobre boa parte dos seus bens, anunciadas em fevereiro por Trump, que seguem valendo. Os impostos de 25% para importação aos EUA de aço e alumínio também permanecem em vigor.

As mudanças no "tarifaço" foram anunciadas pelo presidente na sua plataforma Truth Social e depois comentadas pelo republicano e seus aliados ao longo do dia. Os mercados, que operam em alta volatilidade na última semana, já reagiram aos novos anúncios. No Brasil, o dólar reverteu os ganhos passou a apresentar forte queda.

Trump justificou a decisão de elevar para 125% as tarifas à China como resposta ao anúncio de Pequim de aplicar uma sobretaxa de 84% aos produtos americanos, na mesma proporção aplicada antes por Trump. A retaliação chinesa começa a valer nesta quinta (10).

A União Europeia também anunciou nesta quarta a pretensão de impor tarifas sobre cerca de € 21 bilhões (cerca de R$ 133 bilhões) em produtos dos EUA em sua primeira retaliação a Trump, com uma primeira leva de taxas a serem impostas a partir da próxima terça (15).

Apesar disso, o bloco europeu foi poupado por Trump e inclusive teve uma redução na sua tarifa retaliatória, que era de 20%, para a sobretaxa linear de 10%. Um integrante da Casa Branca disse que a razão para a isenção é que as tarifas retaliatórias da União Europeia não entraram em efeito.

Mais tarde, no Salão Oval, o Secretário do Tesouro, Scott Bessent, disse que as sobretaxas demorariam mais do que as da China para vigorar. "Nossa expectativa é que será ainda mais tarde", disse Bessent. Trump, então, respondeu dizendo estar contente que a União Europeia tenha recuado, embora o bloco ainda não tenha feito esse anúncio.

A decisão de Trump de pausar as tarifas mais altas e dar um alívio a todos os países menos a China ocorre dois dias depois de ele dizer que não estudava recuar na estratégia. Nesta quarta, o presidente reconheceu que considerava a hipótese com aliados e que tomou a decisão pela manhã.

"Nós escrevemos [o anúncio] do coração, não consultamos advogados nem nada. Foi dos nossos corações, como algo positivo para os países e nós", disse sobre a pausa nas recíprocas.

Trump ainda disse esperar que não precisaria aplicar tarifas adicionais à China e repetiu que o país acreditar que o país asiático quer negociar. "Não consigo imaginar isso. Não acho que teremos que fazer mais," afirmou o presidente.

Ele repetiu que mais de 75 países teriam buscado os EUA e está disposto a conversar, mudando de novo o tom dado pelo seu governo antes, de que as tarifas eram "inegociáveis". "Eu acho que um acordo poderia ser feito com todos. Um acordo será feito com a China. Eu só quero acordos justos com todos", afirmou.

Como as tarifas retaliatórias da UE ainda não entraram em vigor, a tarifa recíproca de 20% foi inclusa na suspensão, e o bloco será tarifado apenas na tarifa global de 10%.

Bessent afirmou que as conversas devem começar com Japão e Coreia do Sul, cujos negociadores estariam nos Estados Unidos, além de Vietnã e Índia. Afirmou ainda que as taxas são uma resposta a maus atores mundiais e que a China é tem "a economia mais desequilibrada" e "é um problema para o resto do mundo".

Bessent disse que ainda que os EUA querem negociar de "boa-fé" com parceiros comerciais e que aqueles que não retaliaram contra as chamadas tarifas do dia da libertação de Trump seriam recompensados.

As chamadas tarifas recíprocas, agora suspensas, entraram em vigor nesta quarta-feira (9), afetando dezenas de países. É uma tentativa do republicano de forçar a retomada da industrialização americana, com a volta de fábricas e empregos ao país, uma estratégia criticada por especialistas.

As alíquotas foram anunciadas por Donald Trump na semana passada, em 2 de abril, data que ele batizou de "Dia da Libertação", que consistiu num tarifaço a todas as nações. O pacote inclui um imposto extra de 10% a bens do Brasil -que entrou em vigor no sábado (5). As tarifas mais elevadas dos EUA foram aplicadas à União Europeia e a outros 56 países, incluindo a China.

O modo como as tarifas foram calculadas, com base no déficit comercial registrado pelos EUA com o país e o valor exportado por esse país para o mercado americano, foi criticado e gerou distorções. Lesoto, no sul da África, passaria a ser alvo de taxas de 50%, apesar de o país estar entre os mais pobres do mundo. O Camboja pagaria 49%, e a União Europeia, 20%.

ESCALADA DA GUERRA COMERCIAL COM A CHINA

A elevação das tarifas americanas sobre produtos chineses para 125% é o mais recente capítulo de uma guerra comercial que se intensificou na última semana. Os chineses foram afetados, inicialmente, com uma tarifa recíproca de 34% anunciada no dia 2 de abril. Somada a outras taxas vigentes, o anúncio elevou o total de tarifas para 54%.

Em retaliação, no dia 4 de abril, a China anunciou tarifa de 34% sobre produtos americanos, restrição a exportações de sete terras raras e sanções contra quase 30 empresas dos EUA. Nos dias 7 e 8 de abril, nesta semana, Trump ameaçou e cumpriu uma nova elevação e, nesta quarta (9), começou a valer uma tarifa adicional de 50% sobre a China. Assim, a tarifa total sobre produtos chineses ficou em 104%.

A resposta da China não demorou a chegar. Também nesta quarta, o Ministério das Finanças chinês impôs uma nova taxa de 84% sobre bens dos EUA em resposta à taxa de 104%. A nova elevação das tarifas dos EUA, para 125%, é uma resposta a esta última retaliação da China.

LEIA O TEXTO DE TRUMP NA ÍNTEGRA

"Com base na falta de respeito que a China tem demonstrado pelos mercados mundiais, estou, por meio deste, aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato. Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de explorar os EUA e outros países não são mais sustentáveis nem aceitáveis.

Por outro lado, e considerando o fato de que mais de 75 países entraram em contato com representantes dos Estados Unidos -incluindo os Departamentos de Comércio, Tesouro e o USTR [Escritório do Representante de Comércio dos EUA]- para negociar uma solução sobre os temas em discussão relativos a comércio, barreiras comerciais, tarifas, manipulação cambial e tarifas não monetárias, e que esses países, seguindo minha firme recomendação, não retaliaram de nenhuma forma contra os Estados Unidos, autorizei uma pausa de 90 dias e uma tarifa recíproca substancialmente reduzida, de 10%, durante esse período, também com efeito imediato.

Obrigado pela atenção a este assunto!"


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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