Bolsonaro e Moraes: qual jogo ameaça a democracia?
Antes de forma rasteira, agora abertamente, o presidente Jair Bolsonaro usa uma narrativa inconsistente na tentativa de inverter o jogo, onde ele é o verdadeiro democrata, e quem ataca a Constituição são seus adversários. Cínico, o chefe do executivo tem repetido que a inflação é um problema global e que não tem culpa pela alta dos preços.
Na denúncia-crime contra o ministro Alexandre de Moraes, Bolsonaro acusa-o de abuso de autoridade, ataque à liberdade de expressão e à Constituição. Seria risível se não fosse preocupante a inversão de realidade, que deve nos deixar alerta.
Bolsonaro é quem ataca as urnas eletrônicas, o Supremo, o TSE e fez um pedido de impeachment de Alexandre de Moraes no Senado. Foi ele quem homenageou Daniel Silveira, condenado pelo STF. É ele, Bolsonaro, quem ameaça a democracia.
No dicionário bolsonarista, "liberdade de expressão" é licença para qualquer coisa, ameaçar ministros e sabotar as eleições. Na pandemia, a culpa era sempre dos governadores, prefeitos e do STF e, agora, as sequelas como problemas respiratórios, cardíacos e confusão mental não são sequelas da Covid, como explica a ciência, mas culpa das vacinas.
O desastre ambiental e sanitário produzido pelo devoto da cloroquina não apenas retardou a chegada das vacinas no país, mas as combateu publicamente. É um tormento ser brasileiro. Luto pelo dia em que será um conforto ter nascido nesse país. A tarefa de quem defende critérios éticos-morais no debate público é árdua e terá um longo caminho até outubro.
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