Saúde mental e assédio moral: como se proteger do veneno invisível
Manaus/AM - No último ano houve um aumento de 46% nas denúncias de assédio moral em relação ao ano passado, segundo o Ministério Público do Trabalho. Semelhante ao bullying praticado nas escolas, o assédio moral é caracterizado como uma conduta que causa constrangimento e humilhação no ambiente de trabalho, uma forma de violência psicológica que ocorre de forma continuada, atingindo a dignidade do funcionário com ações que se alternam entre isolamento e perseguição. Especialistas alertam que é preciso abolir a ideia de que é apenas "uma brincadeira".
O advogado Watson Façanha disse em entrevista ao Portal do Holanda que o assédio moral pode ser praticado por pessoas nos diferentes níveis hierárquicos. "Embora o pensamento mais comum entre as pessoas seja com relação ao assédio moral praticado por pessoa de hierarquia superior sobre a vítima de hierarquia inferior, ele pode ser praticado por pessoas do mesmo nível hierárquico, quando é chamado de assédio moral horizontal, não havendo necessidade de superioridade hierárquica para que o assédio moral ocorra". Veja alguns exemplos de assédio moral:
- Segregar a pessoa assediada, fisicamente ou mediante recusa de comunicação
- Desconsiderar problemas de saúde ou recomendações médicas na distribuição de tarefas
- Dificultar ou impedir o exercício de funções diferenciadas
- Apelidos em tom pejorativo
- Fazer piadas, procurando desmerecer ou constranger a vítima perante superiores, colegas ou subordinados
- Isolar a pessoa assediada de atividades, almoços e confraternizações realizadas em conjunto com os demais colegas
- Criticar o trabalho da pessoa sem oferecer ajuda
- Fofocas e propagação de boatos
- Recusa em se comunicar com a vítima
Saúde mental da vítima
De acordo com a psicóloga Lorena Barbosa, especialista em Terapia Cognifica Comportamental, viver em constante estado de ameaça e alerta, faz com que as vítimas desenvolvam problemas.
"O assédio causa prejuízos como humor deprimido, sentimento de culpa, vergonha e rejeição, baixa autoestima, comportamento suicida, dificuldades de memória, irritabilidade extrema, baixa capacidade de concentração, crises de ansiedade, agravamento de transtornos mentais existentes, entre outros problemas como:
Físicos: problemas digestivos, hipertensão, taquicardia, dores generalizadas, alterações do sono, alterações da libido, agravamento de doenças físicas pré-existentes;
Sociais: Retraimento social, redução da capacidade de fazer novas amizades, problemas nas relações familiares, com amigos e pessoas próximas;
Profissionais: Grande redução na capacidade de concentração, baixa capacidade de produtividade e de cumprimento de tarefas, possíveis problemas de comunicação e nas relações interpessoais.
"Considerando que uma pessoa já tem diagnostico de um transtorno mental (independente do transtorno, isso por si só já traz um estigma na sociedade), é considerada por seus colegas como “problemática” e por vezes é isolada, alvo de fofocas, piadas e exclusão, tais fatos aumentam consideravelmente o nível de estresse e de situações que exigem resiliência", disse ao Portal do Holanda.
Lorena ressalta que nem sempre temos condições psicológicas para lidar de forma saudável com tais conflitos. "Imaginemos pessoas com transtornos psiquiátricos que se desdobram para lidar com seus desafios diários de regular suas próprias emoções. Neste caso, as consequências do assédio moral podem afetar todas as áreas da vida do indivíduo, causando uma desorganização generalizada aumentando as chances de comportamento suicida", concluiu a psicóloga.
Saiba como denunciar
Na própria empresa: área de recursos humanos, compliance ou chefia imediata
Sindicato da categoria: eles possuem estratégias para lidar com situações de assédio
Responsabilidade da empresa
O advogado explicou que as empresas devem implementar medidas de prevenção ao assédio e oferecer treinamentos aos funcionários. "A empresa tem o dever de zelar pelo bem-estar dos funcionários e evitar que seus empregados sofram assédio moral. No caso de haver omissão da empresa quanto a denúncias, a empresa pode ser responsabilizada pela omissão ao deixar de manter o ambiente profissional minimamente harmônico, havendo entendimento nos tribunais de que são devidos danos morais em situações de assédio moral vertical-descendente ou horizontal no ambiente de trabalho" pontuou.
É importante também que o funcionário assediado seja acolhido psicologicamente para evitar consequências maiores. Após investigação interna, é preciso que o assediador seja advertido formalmente.
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