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Ame e diga que ama


Por Flávio Lauria

06/12/2024 8h29 — em
Espaço Crítico



No mês de Dezembro, e especialmente perto do Natal ao escrever meus artigos, fico mais vulnerável, mais suscetivel, na exteriorização de sentimentos. Fica claro  que o período natalino traz consigo um movimento de confraternização que, mesmo superficial e mercantilizado em tantos casos, contém elementos de nossa busca permanente daquilo que mais deixa felizes os humanos: o amor, e quando ele existe seu conteúdo já é manifesto. Não se deve preocupar mais com ele e suas definições. Entretanto, se formos apreciar com cuidado o mundo que nos cerca, é evidente que são enormes as carências de afeto. Pensando na maneira como se dá ênfase a situações que chamamos de déficit - déficit público, déficit fiscal, déficit comercial, etc. -, julgo que somos vítimas de um déficit ainda mais sério, o déficit do amor (paralelamente a um inegável déficit ecológico, provocado por extrairmos cada vez mais recursos da natureza sem permitir que eles se reconstituam saudavelmente).

Minha constatação parte de um fato corriqueiro: embora gostemos da sensação do amor e das manifestações a ele associadas, não deixamos que jorre abundantemente de nós para aqueles com quem convivemos demonstrações claras, categóricas, de que os amamos. Na verdade, hesitamos muito em dizer a alguém “eu te amo”. Hesitamos e refreamos o ímpeto, para não demonstrar fraqueza, para não criar expectativas inconsistentes. Entretanto, se alguém nos diz “eu te amo” (de verdade), a sensação é agradável e enternecedora. Conheço um casal que se amou a vida inteira por mais de quarenta anos de um casamento feliz que gerou filhos. Para minha surpresa, recentemente, a viúva me confessou que nunca o marido lhe declarara que a amava. Não foi preciso para que o amor aí se solidificassse que a expressão “eu te amo” fosse pronunciada alguma vez; mas o desejo de ouvi-la esteve sempre presente na viúva, que hoje se entristece por nunca lhe ter sido proporcionada tal oportunidade. Certamente, essa não será uma exceção. Sou a favor de que, sempre digamos “eu te amo”. Não custa nada. Dizer, é óbvio, sem significado de verdade, não corresponde à melhor alternativa. Muito menos, fazê-lo ironicamente.

Todavia, as expressões de conteúdo afetuoso produzem sempre bons efeitos, e existem formas inesgotáveis de dizer “eu te amo”, porque o amor, é um sentimento livre. Amar deve ser ação, e não verbo; mas num mundo indigente de amor, a própria presença deste no discurso pode ajudar a nos despertar para sua realidade. Para mim, essa guerra atual, supostamente contra o terrorismo, mas efetivamente representando brutal agressão a todo um povo, tem muito mais de conteúdo de dor do que de necessidade. A felicidade humana será promovida, com o combate ao déficit do amor. Disso, na hora de sua morte, apercebeu-se o beattle George Harrison, ao pedir: “Procurem Deus. Amem-se entre vocês”. Foram suas derradeiras palavras. Que sejam também as nossas a partir de agora. Ame e diga que amo, sinceramente é claro.

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