É proibido cair pra trás
Começo o presente artigo, com aspas “pior que o aborto é o homicídio”, ditas por um vereador de Manaus, que me recuso a lhe dar nome pelo absurdo cometido. Manifesto aqui meu desencanto com fatos e pessoas cujos passos venho acompanhando. Desde logo, com os estragos que a luta pelo poder causa em certas pessoas. Estou definitivamente decepcionado com a política, na qual, como tristemente acaba de se dar conta, tudo é possível.
Como exemplo justificativo de meu desalento, cito os noticiados entendimentos que estariam em curso entre partidos de antagônicas ideologias em troca de uma fatia de poder. Refiro-me ao que em apenas 23 segundos, foi aprovada pela Câmara dos Deputados a urgência na tramitação do Projeto de Lei n° 1.904/24, que equipara o aborto de feto quando houver viabilidade fetal — que será presumida em mais de 22 semanas de gestação, nada impedindo que ocorra antes – ao crime de homicídio simples. Diante do desencanto, e ao mesmo tempo elogiando o artigo do meu querido amigo e irmão Geraldo Catunda, médico, sugiro que formemos um clube com o título de “É proibido cair pra trás”. Explico: referido clube, fundado na mesa de uma cafeteria manauara – coisa de intelectuais –, não cobra joias, nem mensalidades, nem tem estatutos. Seus associados devem apenas assumir este compromisso: não se surpreenderem com nada que aconteça neste mundo. Cumpre apenas ficarem, se vacinarem contra todo tipo de ocorrência e comportamentos imprevistos, sejam eles quais forem.
Assim, ainda quando vierem a topar com a notícia de que Bolsonaro foi transformado em candidato único de uma coligação de todas as correntes partidárias mesmo sendo inelegível, ou que Putin entrou para uma Congregação Mariana ou para a Escola de Samba dos Bambas da Orgia. E por aí afora... A notícia de que Lula estava pretendendo pedir que o ex-presidente dos Estados Unidos, Obama, fosse solicitado a vir ao Brasil fiscalizar as eleições de outubro também pode ser assimilada sem cair pra trás, como explicação para o estarrecimento. Lembrando sempre aos associados, que em se tratando de jogadas políticas, tudo se pode esperar do imprevisível.
Lembrando sempre a ironia do presente artigo, e que não elide nossa briga e manifestação pela cidadania. Não sei se consigo apaziguar com a realidade, menos ainda convencer aos leitores a filiar-se ao clube que serve de título deste texto. Mas fiz o que pude. Afinal, pra que se estressar com apedeutas achando que uma criança de dez anos, será punida se quiser abortar depois do quinto mês e meio de gestação? O pior para não cair para trás, é a manifestação dos que aprovaram e aprovam absurdos em nosso Parlamento, inclusive no nosso amazonense. Mas, esse é o nosso Brasil.
ASSUNTOS: Espaço Crítico