Votar não termina na urna
Meus caríssimos leitores: sou um pobre escriba, que semanalmente escrevo para que vocês me leiam. Repito o que digo invariavelmente em mais de mil oito centos e trinta artigos... Populismo é coisa aproveitada pela elite do nosso Brasil! Eu não peço voto para ninguém, mesmo tendo minhas preferências, mas acho que já chegamos ao limite. A corrupção e a ignorância são a fonte de todos os males da sociedade. Por sermos seres sociais e pessoas distintas umas das outras, é a estrutura política o único instrumento que assegura o desenvolvimento individual. Reconhecendo a importância da política e, portanto, conscientes de nosso papel na atual fase da democracia brasileira, estamos também perplexos, o que significa, ao mesmo tempo, irresolutos e tomados de espanto.
Na verdade, ficamos condenados a escolher, nas próximas eleições daqui a onze dias, por indicação dos partidos, representantes no Legislativo e no Executivo Municipal, em um contexto extremamente desfavorável, de profunda desconfiança, muito justificada pelos fatos de todos conhecidos. O certo é que, mesmo nessa situação desfavorável, a omissão em nada ajudará a caminhada para o futuro. O voto deve ser dado com aquele cuidado do cirurgião que, mesmo sob o risco de o paciente morrer, faz a intervenção com a frieza do especialista.
As opções serão poucas, terão que resvalar entre o ruim e o péssimo com brigas de moleque, sem um norte moral. O gesto do voto não terminará na urna, mas se prolongará na fiscalização coletiva da ação dos políticos nos poderes Legislativo e Executivo, ao longo de seus mandatos. Seria também altamente desejável que ajudássemos na renovação de nomes, queimando aqueles que se mostraram indignos de seus mandatos e que já estão elencados na memória popular. Não percamos de vista que muitos anos se escoarão até que consigamos chegar a uma reforma político-partidária minimamente democrática, sempre fruto do exercício continuado do voto e das pressões populares sobre governos e Parlamento, já que não cabe hoje em dia pensar em revoluções redentoras.
O maior problema é que os escândalos estão a esgarçar a consciência ética da sociedade. Á luz do bendito populismo, são prometidos vale gás, bolsas e mais bolsas e muitas quinquilharias sociais, no sentido de anestesiar o povo. Só que por aqui é acintosa a subordinação do discurso da moralidade à lógica de conquista ou preservação do poder. Esta a razão pela qual já não basta denunciar escândalos político-administrativos. Sem que se diminua a vulnerabilidade institucional, a mamata continuará livre, leve e solta. Tratar a roubalheira como uma questão política, e não institucional, é desviar a atenção do sol para os planetas. A corrupção não é desencadeada por perversidade ideológica, mas por falhas institucionais que permitem ilicitudes em cadeia. Estamos cansados.
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