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'Experiência mágica', diz levantadora do Fluminense que jogou Superliga grávida

Por Folha de São Paulo

23/04/2025 11h00 — em
Esportes


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RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - "Uma experiência mágica". Foi desta forma que Priscila Heldes, levantadora do Fluminense, descreveu como foi jogar a Superliga feminina de vôlei durante a gestação de Emanuel.

A atleta tricolor, que está com quase seis meses de gravidez, contou ao UOL como manteve os compromissos em quadra e destacou o apoio que recebeu da comissão técnica e companheiras de time. Pri também falou sobre sua reação aos memes e comentários positivos e lamentou as críticas vindas, principalmente, de mulheres.

"Foi uma experiência única. O Fluminense disponibilizou uma equipe médica, a comissão entendeu o meu caso, as minhas condições, e conseguimos ajustar. Tive também o apoio das meninas do time, o que foi incrível. Eu não estava sozinha! Foi tudo muito importante, muito mágico", afirma.

Antes um tabu —e até motivo de temor— para as atletas, a gestação vem sendo tema com cada vez mais espaço e aderência. Pri lembra que outras jogadoras já viveram essa situação, e celebra ter contribuído para que mais um passo fosse dado para que as mulheres esportistas entendam que é possível planejar a gravidez sem impossibilitar a carreira.

"A Isabel [Salgado] foi a nossa pioneira, jogou até quase sete meses. A Paula Pequeno também jogou grávida. O meu assunto meio que estourou a bolha porque conseguiu acessar outras pessoas que não estão acostumadas a acompanhar o esporte, e está gerando uma repercussão bem interessante. Estou muito feliz de poder falar sobre o assunto. Acho que também quebra um tabu para as próprias atletas. As meninas que conviveram comigo sempre falavam: 'Pri, você quebrou várias barreiras dentro de mim. De que é possível, de que damos conta'... Claro que é muito importante lembrar que cada gestação é única e, no meu caso, foi possível porque tinha acompanhamento médico", disse.

Ela "furou a bolha" ao viralizar no último dia 10 de abril, após vídeos do jogo contra o Sesi Bauru, pelas quartas de final da Superliga, ganharem as redes sociais.

"Vou guardar esse momento para o resto da minha vida, assim. Eu até peguei os jogos e salvei para poder mostrar para o meu filho um pouco mais para frente. Principalmente esse, que eu estou com a barriguinha bem maiorzinha, bem em evidência."

NADA DE BARRIGA NO CHÃO

Pri revela que teve de fazer adaptações em alguns movimentos comuns na quadra para resguardar a saúde dela e de Emanuel.

"Comecei a jogar vôlei com 11 anos e estou com 33. Só dei continuidade ao que eu já faço, o meu corpo já está acostumado a fazer tudo o que eu continuei fazendo após descobrir a gestação. Foi tudo muito natural, mas tive algumas restrições médicas. Eu não podia cair com a barriga no chão, por exemplo. Esse movimento eu consigo controlar. Se eu percebesse que eu não ia conseguir pegar aquela bola, que precisaria me jogar no chão, ponto do adversário. Não ia cair de barriga", esclareceu.

Mas a nova realidade não se tornou um obstáculo para a levantadora. Pelo contrário. Ela conta que até conseguiu aprimorar alguns fundamentos e realizar novos movimentos para evitar algo que não pudesse executar. O vôlei sempre esteve presente na rotina de Pri e, por isso, ela explica que continuar jogando mesmo na gestação não foi algo extraordinário.

"Com o tempo que eu tenho no vôlei, consegui adaptar movimento. Comecei a criar outras técnicas. Até brinco com as meninas no time que a minha leitura na defesa até melhorou. Eu tocava muito mais nas bolas, conseguia chegar sem precisar cair porque já sabia que esse movimento eu não poderia fazer", comentou.

"O que ela [médica] me passou foi que se eu sentisse algum desconforto, tinha de interromper na hora, e isso não aconteceu. Algumas restrições de alimentação, mas é de toda gestante. Chegou o momento que precisei de alguns ajustes na academia, mudar alguns exercícios. Houve um período em que precisei de mais descanso. Sentávamos, conversávamos: 'preciso de algum ajuste para conseguir chegar no final da semana e jogar bem'. Isso tudo foi feito."

CHÁ DE BEBÊ FEITO PELA TORCIDA

O vôlei permite uma relação mais próxima entre elenco e torcida, e a jogadora revela que ganhou um chá de bebê dos tricolores. O evento foi no Hebraica, casa do Fluminense nesta temporada da Superliga, após o duelo com o Maringá.

"Eu queria falar da torcida do Fluminense. Fizeram um chá de bebê pra mim! Foi a coisa mais fofa. As primeiras fraldas do Emanuel vieram através da torcida do Fluminense e isso foi maravilhoso! É mais uma coisa que eu vou contar para ele", descreveu.

VÔLEI OU BASQUETE?

Emanuel terá o esporte no DNA. Ele é fruto do relacionamento de Pri com Wesley Castro, jogador de basquete do Sesi Franca.

"Ele vai ter a liberdade de escolher o que ele quiser fazer. Espero que ele experimente os dois. Ele ganhou um uniformezinho do Fluminense. Já está uniformizado (risos), e vou mostrar para ele [os jogos na gravidez]: 'Olha, você já tem um pezinho no vôlei. Acho que pode dar uma continuidade aí, filho. Já jogou vôlei na barriga da mamãe'", brinca a levantadora.

MEMES E COMENTÁRIOS

A atuação com a barriga de grávida chamou a atenção e gerou memes, como o do torcedor que questionou se não era "injusto jogar com um a mais em quadra". Mas não foram apenas comentários leves e brincadeiras. Pri lamentou, principalmente, algumas críticas vindas de mulheres.

"No dia que estava disposta, eu respondia, mas depois parei porque não tem como você levar em consideração a opinião de pessoas que não entendem do assunto. O que me entristece é ver mulheres comentando coisas ruins. Tiveram mulheres que falaram: 'que irresponsável, que mãe sem juízo'. Isso, para mim, é um retrocesso gigantesco ver uma mulher, e algumas até mães, comentando esse tipo de coisa. Porque não é possível que você seja mulher, veja aquela cena e não fale: 'que fantástico!' Se ela está ali, é porque ela consegue'. Ninguém nesse mundo tá mais preocupado com a segurança do meu filho do que eu e meu marido".

E O FUTURO?

Com a eliminação do Fluminense nas quartas de final da Superliga feminina, Pri vai tirar um período para descansar e ainda não determina data para o retorno às quadras. A levantadora indica querer curtir o momento na vida pessoal e trata a volta ao vôlei de alto rendimento com cautela neste momento.

A ideia é continuar me mantendo ativa. Não vou treinar e nem jogar vôlei, mas vou manter a minha gestação ativa para me ajudar também no pós-parto. Se Deus quiser, conseguindo ter um parto normal, pretendo voltar. De acordo com a minha médica, correndo tudo bem, eu poderia voltar em janeiro já. Existe uma conversa com o Flu, mas a minha vida vai mudar muito. Então, agora, realmente, a minha prioridade é o Emanuel.

"Pode ser que eu volte [em janeiro], pode ser que não... Aproveitar esse momento que também é único. As coisas vão mudar bastante. Não tenho uma resposta pra agora. Mas, com certeza, sem ser nessa, na outra temporada eu vou estar", concluiu.

CAMPANHA DO FLUMINENSE

O terceiro jogo das quartas de final da Superliga, contra o Sesi Bauru, foi no Maracanãzinho. A última vez que o vôlei tricolor tinha mandado um jogo no histórico ginásio tinha sido em 17 de dezembro de 1983, quando a equipe ficou com o vice-campeonato brasileiro após ser superada pelo Supergasbrás na decisão

"Apesar da torcida encher o Hebraica, no Maracanãzinho foi surreal. Acho que nunca joguei com tanta gente, principalmente a meu favor. Foi incrível. Viver esse momento, de todo mundo ali, literalmente, vibrando por você e apoiando o time, foi a primeira experiência e, com certeza, foi única", disse.

Pri acredita que a caminhada do atual elenco pode ter consequências positivas para o projeto de vôlei no clube das Laranjeiras.

"Esse último jogo já respondeu tudo. Acho que conseguir mobilizar uma torcida de futebol a lotar um ginásio para o vôlei feminino já foi muito importante. O vôlei está ganhando espaço. Não tirando o mérito da nossa equipe de ter conquistado esse carinho do torcedor, essa curiosidade de ir até o ginásio e acompanhar mesmo aos jogos... Até na lojinha já estão pedindo camisas com o nosso nome. O Flu é voltado para o futebol, mas esse ano quebramos barreiras. Foi um start para o próprio clube começar a querer investir mais e a querer crescer cada vez mais. O Fluminense merece estar no topo. Foi um processo que começou ainda lá no Carioca", exaltou a atleta.


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