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Ginástica, judô e mulheres carregam Brasil em Paris-2024

Por Folha de São Paulo

11/08/2024 15h15 — em
Esportes



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A participação brasileira em Paris-2024 acabou deixando um misto de sensações em relação ao desempenho do país nas principais modalidades, e com a hegemonia inédita das mulheres nos pódios na primeira edição com paridade de gênero.

A ginástica artística e o judô foram, disparados, os principais destaques positivos, com quatro medalhas cada --com os ouros de Rebeca Andrade e Bia Souza.

Com Ana Patrícia e Duda recolocando o país no lugar mais alto do pódio após duas décadas nas areias, o país também teve, pela primeira vez, as mulheres como as responsáveis por todos os ouros. Das 20 medalhas em Paris-2024, 12 foram em modalidades femininas e uma mista (judô).

A natação e o boxe, por outro lado, com apenas uma medalha na França, registraram as piores marcas desde Seoul-1988 e Pequim-2008, acendendo um sinal de alerta para Los Angeles-2028.

Rebeca recordista olímpica do Brasil

Maior protagonista do Brasil na França, a ginasta guarulhense liderou o quadro de medalhas do país ao levar sozinha o ouro no solo e a prata no individual geral e no salto, em uma das grandes rivalidades dos Jogos com Simone Biles.

Ao lado de Flávia Saraiva, Jade Barbosa, Júlia Soares e Lorrane Oliveira, ainda ajudou na conquista do inédito bronze por equipes. As medalhas levaram Rebeca ao posto de maior medalhista do Brasil em Olimpíadas.

Foi a melhor campanha considerando tanto o número de medalhas, superando a Rio-2016 (3), quanto a posição no pódio, acima de Tóquio-2020 (um ouro e uma prata).

"Consideramos a participação brasileira em Paris-2024 bastante positiva. Nossos atletas demonstraram grande dedicação e espírito esportivo", diz Henrique Motta, diretor esportivo da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).

Judô brasileiro se destaca em Olimpíada marcada por punições

Quem também regressa ao país maior do que havia saído é a judoca Bia Souza. Em sua estreia nos Jogos, liderou o judô brasileiro com o ouro na categoria +78 kg e as vitórias em três das quatro lutas na disputa por equipes que rendeu o bronze inédito.

Com a prata de Willian Lima (-66 kg), e o bronze de Larissa Pimenta (-52 kg), o Brasil superou a melhor campanha até então, de Londres-2012 --um ouro de Sarah Menezes e três bronzes de Felipe Kitadai, Mayra Aguiar e Rafael Silva.

O judô lidera o quadro de medalhas do Brasil em Olimpíadas, com 28, seguido pelo vôlei, com 26, e o atletismo, com 21.

"O resultado foi espetacular. Além das medalhas, tivemos duas disputas de bronze com a Rafaela Silva e o Rafael Macedo", diz Flávio Canto, bronze em Atenas-2004 (-81 kg) e fundador do Instituto Reação.

Canto lembra que os Rafaeis perderam o bronze por punições dos árbitros, em uma Olimpíada marcada pelo excesso de intervenções.

"A questão das regras da arbitragem me deixou bastante impressionado. Fico até um pouco triste de saber que o judô que aprendi não tem sido praticado", afirma.

Vôlei de praia volta ao pódio aos pés da Torre Eiffel

Nas areias da arena com a Dama de Ferro ao fundo, a dupla líder do ranking Ana Patrícia e Duda confirmou o favoritismo em uma campanha com 100% de aproveitamento --sete vitórias em sete jogos--, e apenas dois sets perdidos, colocando o Brasil novamente no pódio após a ausência em Tóquio-2020 pela primeira vez desde Atlanta-1996.

O último ouro do Brasil nas areias entre as mulheres havia sido justamente em 1996, com Sandra Pires e Jaqueline Silva. No masculino, Ricardo e Emanuel venceram em Atenas-2004.

Natação tem pior campanha desde Seul-1988

Com a presença em apenas quatro finais, a natação brasileira fez sua pior campanha desde Seul-1988, quando o país alcançou somente uma final, com Rogério Romero (oitavo nos 200 m costas).

Em Tóquio-2020, foram seis finais e dois bronzes, com Bruno Fratus nos 50 m livre e Fernando Scheffer nos 200 m livre. Em Paris-2024, o melhor resultado foi com Guilherme Costa, o Cachorrão, 5º nos 400 m livre.

As outras três finais foram no feminino, com Mafê Costa nos 400 m livre e Beatriz Dizotti nos 1.500 m livre, além do revezamento 4x200m. Em todas, o Brasil terminou em 7º.

"Claro que gostaríamos de mais, mas acho que o que a gente tinha a possibilidade de fazer era mais ou menos isso", diz Ricardo Prado, prata em Los Angeles-1984 nos 400m medley e diretor de esportes da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos).

Para Los Angeles-2028, Prado afirma que gostaria de ver uma renovação da equipe, em especial na masculina. "Atletas de 30 anos continuam vencendo e ocupam o espaço que precisa ser dos mais novos."

Boxe também vai mal

Com o bronze solitário da campeã mundial Bia Ferreira (-60 kg), o boxe teve a pior campanha desde Pequim-2008, quando voltou sem pódios. Desde então, foram três bronzes em Londres-2012, um ouro na Rio-2016 e um ouro, uma prata e um bronze em Tóquio-2020.

"A campanha não foi boa. Não é que eu estou reclamando de ganhar uma medalha de bronze, não é isso. O boxe veio com uma expectativa maior do que um bronze, essa é a questão. Então a gente classificou como uma campanha ruim", afirmou Mateus Alves, técnico da equipe de boxe do Brasil.

Surf e skate sofrem com influências externas

Nas ondas perigosas e tubulares de Teahupo´o, embora o ouro não tenha vindo, Tatiana Weston-Webb conquistou um resultado histórico para o surfe feminino, enquanto Gabriel Medina comemorou o bronze após a eliminação em uma bateria sem ondas.

"Passamos de uma medalha em Tóquio para duas em Paris, o que é muito bom para o esporte como um todo, com um crescimento exponencial das pessoas que passaram a acompanhar o surfe", diz Paulo Moura, vice-presidente da CBSurf (Confederação Brasileira de Surf).

Medina teve "um resultado gigante, porque ele chegou até onde o oceano deixou ele ir", afirma Moura, que defende a adoção de uma piscina de ondas artificiais para Los Angeles.

Nas pistas da Arena La Concorde, os bronzes de Rayssa Leal no street e de Augusto Akio, o Japinha, no park, colocaram o skate, recém-incluído nos Jogos, já como uma das modalidades mais vitoriosas do Brasil.

"Foi uma participação não tão boa quanto em Tóquio, mas se analisarmos o ciclo todo e as dificuldades enfrentadas, considero os skatistas brasileiros heróis", afirma Duda Musa, presidente da CBSk (Confederação Brasileira de Skateboarding).

Ele cita o início tardio do ciclo de competições para Paris-2024 e a disputa com a CBHP (Confederação Brasileira de Hóquei e Patins) pela gestão do skate brasileiro na França. "Por mais que a gente tentasse blindar os skatistas, é inevitável o impacto."

EUA impõem derrota tripla no vôlei e no futebol

Se o Japão foi o principal algoz do Brasil no início dos Jogos em Paris, na reta final do evento foi a seleção dos EUA quem mais atrapalhou a briga brasileira pelo pódio.

No vôlei de quadra, as derrotas foram tanto no masculino quanto no feminino, nas quartas e semifinais, respectivamente.

A seleção feminina venceu os quatro jogos e não perdeu nenhum set até a revanche da final de Tóquio-2020 contra as norte-americanas, em uma campanha liderada pela capitã Gabi Guimarães e a central Thaisa.

Já a masculina teve derrotas na fase de grupos para Itália e Polônia e uma única vitória na competição contra a seleção egípcia. Foi o pior resultado do vôlei de quadra desde Sydney-2000, quando o Brasil também voltou com apenas um bronze.

Já a feminina de futebol foi derrotada pelos EUA em uma final olímpica pela terceira vez, repetindo Atenas-2004 e Pequim-2008.

Apesar da derrota, conquistou vitórias importantes --e inesperadas-- contra a anfitriã França (1 x 0) e a campeã mundial Espanha (4 x 2).

A competição marcou a despedida de Marta em Olimpíadas após seis participações e 13 gols.

Isaquias Queiroz se iguala a Scheidt e Torben

Campeão olímpico em Tóquio-2020, Isaquias Queiroz se recuperou do último lugar na final da C2 500 m com Jacky Godmann e, com uma arrancada histórica, conquistou a prata na C1 1.000 m.

Foi a quinta medalha olímpica do baiano de Ubaitaba, igualando o recorde de Robert Scheidt e Torbel Grael no número total de pódios.

Netinho traz o terceiro bronze no taekwondo

Vice-campeão mundial em 2022 e campeão dos Jogos Pan-Americanos em Lima-2019 (individual) e Santiago-2023 (equipes), Edival Pontes, o Netinho, foi o responsável pela conquista da terceira medalha de bronze do taekwondo brasileiro em Olimpíadas.

Em sua segunda participação olímpica, o lutador natural de João Pessoa (PB) derrotou na repescagem o turco Hakan Recber, que havia o derrotado nas oitavas de final em Tóquio-2020, e o espanhol Javier Pérez Polo.

Prata inédita na marcha atlética e Piu iguala feito de Adhemar Ferreira e João do Pulo

Em sua quarta participação olímpica, Caio Bonfim, que já era dono da melhor marca do Brasil na marcha atlética, com o quarto lugar na Rio-2016, conquistou a prata inédita no percurso de 20 km pelas ruas da capital francesa.

Foi a melhor colocação do Brasil em uma prova de rua desde o bronze de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona, em Atenas-2004.

Já Alison dos Santos, o Piu, ao repetir o bronze na final dos 400 m com barreiras na pista roxa do Stade de France, tornou-se o sexto brasileiro a conquistar duas medalhas olímpicas em provas individuais de atletismo.

Ele se junta a Adhemar Ferreira da Silva (ouro em Helsinque-1952 e Melbourne-1956), Nelson Prudêncio (prata na Cidade do México-1968 e bronze em Munique-1972) e João do Pulo (bronze em Montreal-1976 e Moscou-1980), todos no salto triplo; Joaquim Cruz (ouro em Los Angeles-1984 e prata em Seoul-1988 nos 800m) e Thiago Braz (ouro na Rio-2016 e bronze em Tóquio-2020) no salto com vara.


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