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Lulu Santos fala pela 1ª vez abertamente sobre homossexualidade em entrevista

Por Portal Do Holanda

26/07/2018 21h02 — em
Famosos & TV


Foto: Reprodução/Instagram

RIO — A sensação de euforia e leve tensão de uma montanha-russa. É assim que Lulu Santos define a repercussão do post de Instagram no qual se declarava para o namorado Clebson Teixeira ("Estamos dando gargalhadas, mas gargalhadas um pouco nervosas"). Em dois dias, o cantor viu o número de seus seguidores aumentar em mais de 120 mil e foi alvo do que chamou de uma "enxurrada de carinho".

Lulu também recorreu à imagem de montanha-russa para falar da paixão na qual está mergulhado há quatro meses, desde quando começou a namorar o analista de sistemas de 26 anos — 39 anos mais jovem do que o cantor. Tomado pela "lente do amor", ele conta nesta entrevista exclusiva (a primeira após a divulgação do post) que irá lançar um EP até o fim do ano com canções dedicadas à relação, como "Orgulho e preconceito", que ele mostra dia 8 de agosto em sua apresentação no "The voice". Abaixo, ele fala do disco, da sofisticação do povo brasileiro comparada à "grosseria institucional" do país e sobre a lógica perversa e democrática das redes sociais.

Como você viu as reações ao seu post? Elas te surpreenderam?

A coisa toda partiu de um movimento emocional de um para com o outro, um gesto de amor sobretudo, não exatamente de ativismo. Mas, como disse no post de agradecimento ("Clebson e eu estamos encantados com todo amor e todo carinho e a gente deseja de todo coração que esse amor reflua a todos vocês"), a forma como as pessoas reagiram foi incrível.

Meu Instagram ganhou mais de 120 mil seguidores. O dele, que tinha 5 mil, aumentou em seis vezes. Isso significa aceitação, isso é uma sofisticação do povo de privilegiar a honestidade. É uma aposta no que seja honesto.

A sociedade tá de saco cheio do nível de desonestidade oficial que existe em quase tudo, na política, sempre seguido daquela cara do William Bonner dizendo que o fulano nega, que o partido nega. Esse número de seguidores que ganhamos vejo como adesão por privilegiarmos a honestidade e celebrarmos o evidente afeto.

Os comentários não chegam a 1% de rejeição. Os piores são os de fundamentalismo religioso, que dizem que Deus não permite, essas coisas. Mas é ínfimo perto da quantidade de votos de felicidade.

Algo o assustou na reação?

Tinha esse lado que eu não previa, e que acabou me preocupando: acabei expondo uma pessoa que tem uma vida comum, trabalha das 9h às 17h. Mas ele é muito firme, em nenhum momento estremeceu por causa disso. Foram dois dias de intensidade e tensão, no caso dele sobretudo, e no meu caso por causa dele. Mas, como ele mesmo postou, quem tá na chuva é pra se molhar.

A sociedade fica sabendo que tem esse enlace afetivo, é a nossa representação de passar os proclames pra sociedade. Dar a saber. Faltava um pouco esse elemento na minha vida pública. A gente foi encorajado pela força do amor.

Não te surpreendeu a baixa ocorrência de reações negativas, num momento em que assistimos a tantas manifestações públicas de homofobia, racismo e misoginia, até por um candidato à Presidência?

Isso é como nossa sociedade é. Li seu texto sobre Nego do Borel (Entender Nego do Borel é olhar o Brasil no olho, do jornalista Leonardo Lichote, O Globo) e achei bem interessante, por apontar essas duas forças que existem em qualquer sociedade. Nos Estados Unidos um candidato de direita foi eleito e deu força pra que esse pensamento, essa vertente da humanidade se manifestasse. É igual aqui, com Bolsonaro.

Mas a reação a meu post pra mim foi um endosso. A melhor surpresa foi o quão sofisticado é o povo brasileiro a despeito do ambiente de grosseria institucional em que vivemos. O povo brasileiro é bem mais sofisticado que seus políticos.

Desde que nasci, nada melhorou. Houve um breve período de uma sensação de melhora, mas a condição do povo só piora. A gente vive uma realidade imposta por governos ladrões. Você vê o Rio saqueado como está.

A sociedade busca sinais dessa melhora em gestos como esse que eu fiz. Porque ela própria não quer se mirar em gestos de seus políticos. Não me cabe fazer sociologia sobre um caso no qual estou envolvido, não sei fazer isso. Mas digo que a reação não me surpreendeu, mas me deixou confiante.

Não parece anacrônico em 2018 tanta movimentação em torno de uma questão que já deveria estar resolvida? Até por você ser o personagem...

É, a piada mais recorrente é "Lulu Santos assume que é gay e surpreende zero pessoas". Há um mês já havia feito um post explícito, você só não via a figura do amado. De alguma forma, a imagem tem essa força. Somos uma sociedade consumida por mídia, o que se almeja é ser um influenciador digital.

Nunca pensaria em mim nesses termos, mas a quantidade de coisas que recebi de pessoas que dizem que querem assumir um relacionamento e não conseguem, você acaba percebendo um papel social que você tem sem você ter mirado.

Você já havia tocado publicamente "Orgulho e preconceito", canção que você fez para Clebson, mas ela não provocou o mesmo rebuliço. Você acha que isso atesta a força da imagem e das redes sociais?

Eu toquei a canção no show que fiz no Engenhão, mas ela ainda não foi lançada como produto. E, também, até então não havia uma clareza nem da minha parte e nem da dele. A gente trocava mensagens cifradas nas redes sociais, mas nada claro. A canção será lançada no "The Voice", no dia 8 de agosto.

Como Clebson está lidando com isso?

Estava falando com ele agora, ele está vendo a continuidade das matérias. Estão circulando umas fotos que ele havia feito pra uma agência de modelos. Estamos nos divertindo um pouco. No mundo de hoje, essas coisas são monetizadas: número de seguidores, views... As pessoas trocam isso por dinheiro. Num certo sentido é um mecanismo da vida contemporânea. E pra nós é uma grande gargalhada, porque em nenhum momento a gente planejou isso. Nada foi feito em função do valor promocional.

Mas a gente quer se tornar o mais dona da notícia possível. A notícia é nossa. Tudo que circulou até agora, imagens, textos, foi a gente que ofereceu. Não planejamos, mas uma vez que isso aconteceu, somos donos da notícia. Nada mais natural que a gente, em vez de se sentir exposto, ou ficar tenso, surfar essa onda, nos mantendo em pé na crista.

Estamos dando gargalhadas, mas gargalhadas um pouco nervosas. Como quem acabou de sair da montanha-russa. Hoje qualquer entidade pública busca isso, a credibilidade na rede. É o grande valor da nossa sociedade. Pra mim, pro Donald Trump, pra todo mundo.

Mas há um descontrole sobre as informações, não?

A rede social é democrática. É perversa, mas ao mesmo tempo democratiza acessos. A crítica do meio existe hoje, e antes era impossível. É um fenômeno moderno. Clebson não é piloto de helicóptero, como estão dizendo. Eu disse a ele: "você não é, mas seu avatar é". É como aquele filme do Spielberg ("Jogador nº 1"). Viramos um avatar de nós mesmos.

Mas a ideia do avatar público existe desde a "Revista do rádio", com a potencialização da briga de Marlene e Emilinha...

Sim, e o armário eterno do Cauby, tudo isso. Mas não tinha o comentário, a volta, o comentarista público da notícia, o cara que é um frasista e tem um milhão de seguidores. O poder do usuário, a volta do chicote. A carta pra redação era uma semana pra chegar, duas pra ler, mais uma pra ser publicada... Agora tem um feedback, que em português é recirculação. Num certo sentido, com os memes e todos os mecanismos de resposta, o público se torna o codificador da informação.

Você teme a acusação de que seu post tenha tido um caráter promocional?

Você não consegue planejar um retorno como esse. Não existe viral planejado. É uma infecção. Além disso, o motor disso tudo foi o intenso afeto e a vontade que a gente sentiu de deixar isso claro. Só publiquei a foto porque passamos o fim de semana juntos, moramos em cidades diferentes, temos que administrar ausência, saudade, manejando o calendário pra estar o mais junto que a gente pode.

Tinha sido um fim de semana tão bonito que no avião de volta ele postou. E eu postei de volta quando vi. Era a primeira vez que ele falava no seu Instagram de alguém com quem ele estava se relacionando. Além disso, mudou o status dele pra casado. Isso me tocou.

A gente se conheceu no Instagram, nesse tubo de ensaio. Brinco que a gente era uma chance em 670 mil, meu número de seguidores na época. Nesse universo, essa chance da conversa, da troca de informação, ter florescido pra ter se tornado uma relação estável...

Tudo é no amor, mas o amor se paga. A sinceridade do post, a alegria das expressões, o sorriso, a leveza que tinha naquilo foi o que levou as pessoas as sentirem a mesma coisa.

Você já tinha falado publicamente sobre se relacionar com homens antes?

Não com esse nível de clareza. Claro, escrevi "Toda forma de amor", mas vivia uma relação hétero. O "Vamos nos permitir", a ideia sempre foi essa, uma mensagem libertária. Era uma forma de cifrar o caminho que fiz até chegar nesse momento agora. A audácia vem do amor.

As canções não tinham essa especificidade, elas têm a validade emocional pra quem ouve. O que a gente tá demonstrando é a velha história do Tim Maia: "love is love". Pra mim, love is life. Escrevi há três anos uma canção que dizia: "Todo mundo sabe/ Deve ser verdade/ Andaram grafitando pelos muros da cidade/ Que o amor é uma oportunidade/ Não importa cor, credo, sexo ou idade". Este romance com Clebson fez explodir uma inspiração, fiz outras canções.

Você vai lançá-las?

Sim, vou fazer um EP até o fim do ano. Além de "Orgulho e preconceito", vai ter "Ser ou não ser (véi)", "Tão real" e "Vulcão", além de mais duas letras que vou musicar, uma delas já falando dessa repercussão: "Nosso amor virou notícia, virou capa do jornal".

Vou lançar esse EP dedicado a essa explosão de criatividade. É o que o Gil chama de "lente do amor". O que você vê pelos olhos da paixão. Um prédio é texto, o céu é poesia. Reacendeu isso em mim. A capa do single é uma fotografia que Clebson me mandou há quatro meses, quando a gente, ainda antes de nos encontrarmos pessoalmente, começou a esquentar nossa troca de texto, a ficar realmente emocional. É uma montanha-russa, tudo nasce no amor. Tudo parece inaugural se você reinaugura sua vida.

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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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