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Os protocolos não ativados e o mar de incertezas no caso do submarino argentino

Por Agência O Globo

22/11/2017 21h11 — em
Mundo



O tempo tornou-se um fator crítico na busca pelo ARA San Juan. O submarino se perdeu — sabe-se lá onde — e é procurado enquanto milhões de argentinos esperam que os 44 tripulantes possam voltar às suas casas. A cada minuto desaparece uma parte do ar e, com ele, uma fração de esperança.

Já foi dito: até o momento não se sabe onde está o submarino mais novo da Argentina que tem, no entanto, mais de 30 anos. Desde o primeiro dia do desaparecimento, há uma inquietude na comunidade submarina. A maioria prefere evitar dizer isso em voz alta, quase como se fosse um antídoto para eliminar as piores suspeitas: um incidente muito grave fez com que o San Juan fosse para o fundo do mar e não para a superfície, onde a tripulação do S-42 teria tomado todas as medidas necessárias para pedir o resgate.

Ao “La Nación”, um comandante de submarino aposentado disse que “qualquer tripulante sabe que se o prazo de comunicação expirou e ele não pôde avisar, deve seguir em direção a superfície. Se não há respostas, iniciam as buscas. No caso do San Juan, foram muitas as medidas que não ocorreram para supor que a situação estivesse controlada”.

Uma breve revisão: depois de relatar um incidente com as baterias, o capitão logo deixou de enviar relatórios na periodicidade preestabelecida. A falta do contato pode significar “submarino em apuros” e, de imediato, se começa a verificar as etapas anteriores da embarcação, para definir a busca por soluções.

Há a suspeita de que apenas um incidente muito sério tenha impedido o comando do San Juan de iniciar os procedimentos de emergência. A atitude mais óbvia seria assegurar que a embarcação flutuasse, abrindo válvulas e liberando o ar dos tanques. É necessário também ativar as luzes de emergência (o S-42 tem duas, de nova geração) para pedir ajuda e identificar a posição via satélite. Não foi captado qualquer sinal desses faróis: ou eles não funcionavam ou a emergência era tão intempestiva que não deu tempo à equipe para ativá-los.

Um incêndio ou uma inundação, mesmo que controlados rapidamente, reduzem a quantidade de oxigênio disponível para a tripulação. Existem máscaras no navio (como as dos aviões), que garantem até duas horas de oxigênio e, além disso, há procedimentos para reduzir o consumo de ar (um deles, é fazer com que a maioria da equipe durma).

O que ninguém pode estimar é, no caso de algo fatalmente irreversível não ter acontecido, quanto oxigênio há ou se o ar, por qualquer motivo, tornou-se irrespirável. Ainda há mais um problema: dentro do submarino submerso o ar se comprime e os organismos começam a assimilar nitrogênio em um nível superior ao atmosférico. É por isso que qualquer manobra de resgate exigirá um extenso procedimento de descompressão. Levando em conta que 44 tripulantes precisariam ser resgatados, o procedimento levaria dias.

Finalmente, entre todas as hipóteses — e assumindo que há oxigênio e comida suficientes para os tripulantes — há a questão, não menos perigosa, da profundidade do San Juan. Além da encosta, adentrando o Oceano Atlântico Sul, atingiria rapidamente os 700 metros de profundidade. O submarino tem um casco “altamente elástico”, conforme definido por um veterano membro da força submarina argentina, e foi testado em um limite operacional de 660 metros. Só de pensar que pode estar além disso já é horrível.


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