Relatos sobrenaturais eram comuns no Japão após terremoto e tsunami de 2011
Muitos relatos sobrenaturais apareceram no Japão, meses e até anos depois do 11 março de 2011, quando mais de 18,4 mil pessoas morreram vitimadas pelo terremoto de Tohoku, ocorrido às 14h46 (2h46 de Brasília), com a magnitude de 9,1, que causou um tsunami devastador.
Era comum as pessoas verem os falecidos em poças, vagando pelas praias ou mesmo aparecendo nas portas das casas e até mesmo nos táxis.
O terremoto, batizado em homenagem à região na qual teve origem, gerou uma catástrofe nuclear na central de Fukushima e chegou a formar ondas no tsunami equiparadas a altura de um prédio de 12 andares.
Várias reportagens em jornais como portais como da BBC News, que tem correspondentes no Japão, relatam que após a catástrofe ocorrida, os sobreviventes ficaram mais sensíveis e vendo com muita frequência o que foi denominado de “espíritos do tsunami”, como escreveu Richard Lloyd Parry, um repórter britânico que morava há 18 anos no Japão quando o tsunami ocorreu.
Os relatos de assombrações nos meses posteriores ao Tohoku viraram até um livro escrito por Richard, que acabou concluindo que os japoneses eram mais supersticiosos do que se poderia imaginar.
Para ele, a dor, a perda e a angústia das pessoas vieram à tona. E como resultado disso, surgiram histórias de fantasmas, assombrações e eventos sobrenaturais a ponto de quase parecer uma epidemia, afirmou Parry em uma entrevista em 2014.
No livro sobre o fenômeno, ele percebeu o tamanho do culto aos ancestrais e aos mortos naquele país. “A outra coisa que aprendi é algo que eu deveria saber de qualquer maneira, mas que a dor e o trauma se expressam muitas vezes de forma indireta”, disse o britânico.
PASSAGEIROS INVISÍVEIS
Uma estudante de sociologia, Yuka Kudo, deslocou-se em 2014 para Ishinomaki, uma das cidades mais devastadas pelo terremoto, com o propósito de estudar a “epidemia sobrenatural”.
Na pesquisa, ela se concentrou nos motoristas de táxi da região e de muitos ouviu relatos de terem recebido passageiros que já tinham morrido. Um dos mais dramáticos de um dos entrevistados foi de ter visto uma jovem esperando um veículo em uma área completamente destruída.
O taxista contou que a moça usava um casaco pesado de inverno em pleno verão, e estava completamente encharcada e ele viu a figura misteriosa no banco de trás pedir para ser levada até o bairro abandonado de Minamihama. Mas após informar que o destino era impossível por conta da destruição, ouviu, após o silêncio da passageira, a pergunta: “eu morri?” Ao virar-se para responder, descobriu que estava sozinho no carro.
O jornalista disse acreditar que esses espíritos seriam, na verdade, uma manifestação do pesar enfrentado coletivamente pela nação japonesa, como já havia explicado o PhD em desenvolvimento humano, Charles R. Figley, da Universidade de Tulane.
Figley assegurou que o trauma compartilhado pela população poderia causar reações estranhas e coletivas. De acordo com ele, é comum que outros sobreviventes de uma perda catastrófica vejam aparições, sons ou odores paranormais. “Fantasmas, para alguns, são mais toleráveis do que o vazio criado pela morte”, afirmou Figley.
Outro jornalista e também escritor Masashi Hijikata, ouvido pela BBC News, já publicou mais de 15 livros sobre fantasmas e mensagens de pessoas mortas no tsunami.
O monge budista Taio Kaneta conta ter recebido pessoas para tratar sobe possessões e aparições. Um dos casos era de uma jovem desesperada, pensando se suicidar porque não parava de ouvir vozes de pessoas mortas", revelou ele, também à BBC News. Para ele, o que importa não é saber se a pessoa acredita ou não em fantasmas, mas levar conforto e ouvir o que essas pessoas têm para contar.
ASSUNTOS: Lendas Urbanas