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Chamado de pato manco, Biden procura segurar aliados na Ásia ante influência da China

Por Folha de São Paulo

28/07/2024 15h00 — em
Mundo



PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) - Menosprezado como pato manco por republicanos e democratas em Washington, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem seis meses de poder declinante pela frente, inclusive na Ásia.

Às vésperas de uma visita à região feita por Antony Blinken, o jornal The Wall Street Journal adiantou que o secretário de Estado americano não deverá ser mantido no cargo por Kamala Harris caso ela seja eleita presidente. Tampouco o assessor de Segurança Nacional, Jake Sullivan.

Ainda assim, nas poucas horas de sábado (27) em que passou no Laos, no fórum anual da Asean (Associações de Nações do Sudeste Asiático), Blinken teria aproveitado a reunião com o chanceler chinês, Wang Yi, para garantir que Kamala não vai mudar a estratégia de Biden para a Ásia se ela vencer o pleito.

Em Pequim, coube a Lu Xiang, especialista em política americana da Academia Chinesa de Ciências Sociais, expressar a desconsideração chinesa pela "viagem de despedida", segundo a cobertura estatal. Blinken e Sullivan mantiveram Kamala fora do círculo de poder em política externa e agora se veem esvaziados.

Para Lu, o secretário falhará em seu esforço derradeiro contra a China por não ter mais poder de influência junto a países como Japão e Filipinas.

Na dianteira da corrida americana, Donald Trump prenuncia uma política diferente para a Ásia e vai ajudando a esvaziar Biden. O analista político chinês Wang Xiangwei, da Universidade Batista em Hong Kong e Shenzhen, avalia que o ex-presidente vai "acelerar a retirada dos EUA do cenário internacional", ao lado do vice J.D. Vance, caso ele saia vencedor da eleição.

"Sua abordagem transacional prejudica os laços dos EUA com seus aliados, incluindo o Japão, afetando a frente unida contra a China", diz Wang. "A pressão sobre Taiwan também diminuirá, pois provavelmente vai esfriar a pressão militar sobre a China."

Kishore Mahbubani, da Universidade Nacional de Singapura e referência asiática em política internacional, falando à televisão em Hong Kong, foi pela mesma linha. "A região está se preparando, psicologicamente, para uma vitória de Trump", disse.

"Ele é um negociador e conhece e respeita Xi Jinping. Quando se sentarem, é concebível que os dois façam concessões e cheguem a um acerto bom para os EUA e para a China", acrescentou.

Divulgado na última semana, um novo relatório do Rand Corporation, tradicional centro de estudos californiano, conclui que os EUA não teriam aliados para defender Taiwan em caso de tomada da ilha por Pequim. Tanto Japão como Austrália, Reino Unido e Canadá deixariam Biden --ou seu sucessor-- sozinho.

Ofereceriam, quando muito, "apoio diplomático a Taiwan e endosso às prováveis sanções americanas à China". Em particular, anota o think tank, o Japão seria contido "pelo pacifismo japonês, ao mesmo tempo popular e constitucional, e pelo medo de um ataque retaliatório da China".

O relatório se baseou em consulta a dezenas de diplomatas, militares, analistas e empresários dos quatro países --e curiosamente havia sido financiado pelo próprio governo taiwanês.

Em Tóquio, o assombro com a reviravolta política americana foi expresso por uma manchete do jornal Nikkei na última terça (23). "Saída de Biden joga aliança EUA-Japão na incerteza". Um integrante do governo descreveu tanto o presidente quanto a sua equipe como patos mancos e disse que o Japão deve agir "como se ele estivesse no fim".

O país recebeu Blinken no domingo, em nova parada de sua viagem pela Ásia, na qual foi formalizada a decisão americana de fazer um upgrade em sua presença militar, passando a contar com um general de três estrelas e maior autonomia.

Mas o Japão agora trata de lançar pontes a Trump, com enviados à campanha republicana. E acaba de retomar seu diálogo estratégico com a China, depois de quatro anos, com uma reunião entre os vice-ministros do Exterior nesta última semana.

Não é diferente o quadro na outra prioridade asiática do secretário, as Filipinas, onde os problemas surgiram dias depois do debate de junho que motivou a saída de Biden. O comandante militar filipino veio a público dizer que os EUA ofereceram ajuda contra a China e que seu governo recusou. E o porta-voz militar, paralelamente, anunciou que os mísseis americanos deixariam o país.

Com a desistência de Biden no último dia 21, o próprio presidente Ferdinand Marcos Jr. falou em discurso à nação que a diplomacia é o único meio aceitável para resolver diferenças, que "a paz será sempre o nosso toque de clarim" e que procura "continuamente achar maneiras de diminuir as tensões".

Era referência ao acordo provisório com Pequim, sobre o recife em disputa no mar do Sul da China. No sábado, após meses de confrontos com navios chineses, uma embarcação filipina foi liberada para abastecer a tripulação de um navio também do país encalhado na região disputada.


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