Convite para reunião de Lula sobre democracia cita 8/1, Capitólio e articulação da extrema direita
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Os governos do presidente Lula (PT) e do premiê da Espanha, Pedro Sánchez, encaminharam a um grupo de países um documento cujo texto afirma que há uma crescente coordenação de movimentos de extrema direita no mundo e que as fake news têm sido usadas como arma por atores extremistas.
A nota, à qual a Folha de S.Paulo teve acesso, acompanhou o convite para um evento a ser copresidido pelos dois líderes em paralelo à Assembleia-Geral da ONU, que ocorre no final deste mês, em Nova York.
O texto também cita os ataques antidemocráticos de 8 de Janeiro em Brasília e a invasão do Capitólio, a sede do Congresso americano, como símbolos de "movimentos violentos com elementos comuns, como a rejeição da alternância democrática e da diversidade, além da exaltação de uma forma exclusiva de identidade nacional".
Os ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump não são citados nominalmente no texto.
O evento em Nova York, intitulado "Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo", está sendo organizado para a tarde de 24 de setembro, mesmo dia da abertura da Assembleia-Geral, em que o presidente brasileiro é tradicionalmente o primeiro chefe de Estado a discursar.
Enquanto o Brasil já recebeu a confirmação de que os presidentes da França, Emmanuel Macron, do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro, pretendem participar, a presença de Joe Biden ainda é incerta. Lula fez o convite o americano durante uma conversa telefônica em 30 de julho, em que ambos discutiram a crise política na Venezuela.
Além desses países, foram chamados México, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Cabo Verde, Quênia e o Conselho Europeu, entre outros.
O recorte ideológico do evento, com foco no extremismo de direita, gerou incômodo em algumas delegações estrangeiras, que apontam, como exemplo, ser impossível discutir erosão da democracia sem citar a repressão crescente na Venezuela, hoje uma ditadura de esquerda.
Sobre essa crítica, membros do governo brasileiro ouvidos reservadamente pela Folha dizem que os líderes participantes terão liberdade para tratar os casos que acharem necessários em suas intervenções.
O documento encaminhado com o convite diz ainda que a polarização tem sido usada como ferramenta política. "As redes sociais e as mídias digitais facilitaram o acesso à informação, mas o excesso de informação também resultou em desinformação, uma tendência que o advento e uso difundido de ferramentas de inteligência artificial generativa vai multiplicar em termos de alcance e velocidade".
"As fake news se tornaram uma arma para atores extremistas", continua o texto, que também alerta para o aumento da manipulação de informação do exterior, a interferência em processos eleitorais e na política institucional.
O governo Lula sempre defendeu instrumentos de regulação das redes sociais por considerar que o ambiente virtual é amplamente usado para espalhar desinformação -já opositores criticam o que seria tentativa de cercear liberdade de expressão.
O tema ganhou novas dimensões com o embate entre o bilionário americano Elon Musk e o STF (Supremo Tribunal Federal). Em declarações recentes, Lula criticou Musk pelo descumprimento de decisões judiciais que culminaram no banimento, por ordem do STF, da rede social X no Brasil. Na mais recente delas, o presidente disse que o governo será sempre intolerante com qualquer pessoa, "tenha a fortuna que tiver, que desafie a legislação brasileira".
A nota enviada pelo Brasil aos convidados da cúpula também aponta a articulação entre movimentos extremistas. "A crescente coordenação entre movimentos de extrema direita representa um risco sério de regressão democrática, inclusive de erosão de direitos básicos. Os direitos das mulheres estão em jogo. Os direitos LGBT estão sendo minados. As mudanças climáticas e a ciência estão sendo negadas. A intolerância está aumentando. A desigualdade está crescendo. Minorias estão sob ataque".
"Nesse contexto, uma resposta determinada é essencial. Essa resposta precisa começar com um diagnóstico sólido das causas do descontentamento e da falta de confiança que alimentam o extremismo de direita, acompanhado de medidas específicas e audaciosas para endereçar essas causas de forma estrutural e efetiva", afirma a nota.
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