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Democratas pedem renúncia de secretário da Defesa e de oficiais da inteligência após segredos vazados

Por Folha de São Paulo

25/03/2025 17h45 — em
Mundo


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WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Democratas ampliaram a pressão sobre os serviços de inteligência dos Estados Unidos e defenderam a renúncia dos responsáveis pela área no dia seguinte à notícia sobre o vazamento de planos de bombardeio contra rebeldes houthis, no Iêmen, numa conversa acidentalmente compartilhada com um jornalista.

Durante uma audiência em comissão do Senado nesta terça-feira (25), integrantes do partido opositor ao do presidente Donald Trump afirmaram que o comportamento das autoridades foi incompetente e negligente. Defenderam ainda que Pete Hegseth, secretário de Defesa, e Michael Waltz, conselheiro de segurança nacional, deveriam abdicar de seus cargos.

Os dois estavam em uma conversa privada no aplicativo, o Signal, na qual o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi incluído acidentalmente. O vice-presidente dos EUA, J. D. Vance, também estava no grupo.

Enquanto isso, Trump e o governo se mantiveram armados para minimizar o caso. A Casa Branca afirmou que "os democratas e sua mídia amiga" parecem ter esquecido das "ações bem-sucedidas" no Iêmen. O presidente disse que não há razão para que seus auxiliares peçam desculpas e se limitou a dizer que provavelmente o governo não usará mais o aplicativo de conversas em questão.

O comportamento contrasta com o adotado durante a campanha presidencial de 2016, quando Trump defendeu que Hillary Clinton, sua adversária à época, deveria ser presa por ter usado, segundo ele, um servidor de email privado para negociações oficiais enquanto era secretária de Estado do governo de Barack Obama, de 2009 a 2013.

Nesta terça, quatro dos principais oficiais da inteligência participaram da audiência no Senado: Tulsi Gabbard, diretora de Inteligência Nacional; John Ratcliffe, diretor da CIA; Kash P. Patel, diretor do FBI; Timothy Haugh, da Agência de Segurança Nacional; e Jeffrey Kruse, da Agência de Inteligência de Defesa.

Durante a sessão, o senador democrata Mark Warner, da Virgínia, afirmou que o comportamento foi "descuidado, negligente e incompetente" em relação a informações confidenciais americanas.

"Se fosse o caso de uma autoridade militar ou uma autoridade de inteligência, e eles tivessem esse tipo de comportamento, seriam demitidos", disse Warner, que é vice-presidente do Comitê de Inteligência do Senado, responsável por supervisionar agências como a CIA e a NSA (Agência de Segurança Nacional).

O senador Ron Wyden, de Oregon, também do Partido Democrata, foi mais enfático e defendeu a renúncia do alto escalão da inteligência. "Eu acredito que deveriam haver demissões, começando pelo conselheiro de segurança nacional e pelo secretário de Defesa."

Ratcfliffe e Gabbard estavam no grupo onde ocorreu a conversa sobre o ataque militar e foram questionados pelos senadores. Ambos admitiram a participação no Signal, mas afirmaram que as informações às quais o jornalista teve acesso não eram confidenciais.

O mesmo argumento foi usado por Hegseth. "Ninguém estava enviando planos de guerra por mensagem, e é só isso que tenho a dizer", disse o secretário na véspera.

O presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson, foi outro republicano a minimizar o vazamento das informações sigilosas. Seguindo a cartilha do governo, disse que é preciso ter cuidado com esse tipo de informação, mas tentou ressaltar que a operação no Iêmen foi bem-sucedida.

A pressão sobre Hegseth ocorre a pouco mais de dois meses após a posse de Trump e depois de o próprio secretário enfrentar resistências no Congresso e ter sua nomeação em risco. Ele foi aprovado em sua sabatina por apenas um voto de vantagem, dado pelo vice-presidente da República, que, como presidente do Senado, tem poder de desempate. O atual secretário de Defesa era apresentador da Fox News, emissora abertamente favorável a Trump, e tinha sua competência para o cargo amplamente questionada.

No atual episódio de vazamento, Hegseth é uma das autoridades apontadas por ter compartilhado informações sigilosas. O perfil em seu nome foi o que compartilhou informações sobre os ataques de 15 de março algumas horas antes deste efetivamente acontecer. Segundo o jornalista que publicou o vazamento, "o plano incluía informações precisas sobre pacotes de armas, alvos e tempo".

Além dele, nas trocas de mensagens estão envolvidos perfis com nomes de pelo menos 18 pessoas: o vice-presidente, Vance; Steve Witkoff, enviado de Trump para o Oriente Médio; Susie Wiles, chefe de gabinete da Casa Branca; e alguém identificado apenas como SM, que, pelo contexto, Goldberg entendeu ser Stephen Miller, conselheiro de segurança interna.

Algumas das informações compartilhadas no grupo foram ocultadas pelo jornalista já que, segundo ele, "se tivessem sido lidas por um adversário dos EUA, poderiam ter sido usadas para prejudicar o pessoal militar e de inteligência americano".

Já Trump disse à NBC News que essa foi "a única falha em dois meses [de governo], e que não foi nada séria". Segundo ele, seu conselheiro de segurança, Michael Waltz, "aprendeu a lição" com o caso.

Waltz, por sua vez, disse que há uma investigação em curso para identificar como o jornalista Goldberg conseguiu acessar o grupo.

Depois, em entrevista na Casa Branca, Trump atacou o jornalista e ainda fez defesa enfática do aplicativo Signal, a melhor tecnologia disponível para as autoridades no momento dos diálogos, segundo ele. Para o republicano, o editor é "completamente depravado".


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